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O Brasil vive os opostos da realidade social e do pensamento econômico

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Desigualdade social e de renda decorre de concentração cada vez mais intensa da riqueza (foto: Jair Amaral/D.A Press %u2013 8/7/19)
Lidamos com um pensamento econômico preso ao passado. O recorte que se costuma usar hoje pode ter sido apropriado no passado, mas não se adequa mais aos complexos desafios e demandas da atualidade. Outra forma de tentar enxergar esse “ponto cego” é por meio de uma analogia: antigamente, aprendíamos uma profissão e passávamos toda a vida ativa exercendo-a. Hoje, enfrentamos ambientes de rápida mudança que cada vez mais exigem que nos reinventemos.



Essa é a avaliação de Otto Scharmer, professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, e autor do livro best-seller internacional Teoria U e também de Liderar a partir do futuro que emerge. Neste último, lançado no Brasil no ano passado pela editora Alta Books, Scharmer relaciona oito desconexões que representam uma desassociação entre dois mundos – a estrutura da realidade social e a estrutura do pensamento econômico. E que bem se encaixa à realidade brasileira.

A economia financeira X a economia real
A grande maioria das transações cambiais são puramente especulativas, não passando de meras apostas, sem servir a qualquer finalidade social. Entre os resultados estão bolhas financeiras que desestabilizam economias globais em vez de sustentá-las.
 
O imperativo do crescimento infinito X 
os recursos finitos do planeta 
A utilização excessiva de recursos escassos como a água e o solo levou à perda de um terço da terra fértil do planeta no período equivalente a cerca de uma geração.


 
 
“Os que têm” X “os que não tÊm”
Essa desconexão levou a uma bolha de desigualdade extrema, na qual o 1% mais rico da população mundial (adultos com renda superior a US$ 500 mil anuais) detém 40% da riqueza do mundo, enquanto metade da população mundial (50%) detém apenas 1% de toda a riqueza pessoal do mundo. A polarização cada vez mais intensa da riqueza e da renda impede o acesso igualitário às oportunidades, impondo severas restrições aos direitos humanos básicos da sociedade.
 
A liderança institucional X as pessoas
 Resulta em um vácuo de liderança que se revela na noção cada vez mais popular de que estamos coletivamente criando resultados que ninguém quer.

O Produto Interno Bruto (PIB) X o bem-estar
Se manifesta como uma bolha de consumo material que não promove o bem-estar real das pessoas. Pesquisas conduzidas em países desenvolvidos demonstram que, diferentemente da crença popular, um PIB maior e um maior consumo mate- rial não levam a um maior bem-estar.



A governança X os “sem voz”
 A desconexão entre os mecanismos atuais de governança e as vozes dos marginalizados constitui um fracasso da própria governança. Ela faz com que pessoas sejam afetadas por regimes que elas são completamente incapazes de influenciar ou mudar.

As formas de posse reais X 
a melhor utilização social da propriedade
Resulta em uma bolha na qual o Estado e a propriedade privada, apesar de seus méritos, permitem a utilização excessiva e a má administração dos recursos comuns ecológicos e sociais em proporções épicas.

A tecnologia X as necessidades sociais reais
Leva a bolhas tecnológicas que promovem o bem-estar de apenas alguns mercados já atendidos em excesso. Por exem- plo, a maior parte dos gastos com pesquisa e desenvolvimento na indústria farmacêutica é voltada para mercados do topo da pirâmide socioeconômica, enquanto grande parte ignora as necessidades da base da pirâmide.



É preciso se conectar ao futuro que emerge em vez de apenas reagir aos padrões do passado, o que em geral só leva à perpetuação desses mesmos padrões, pontua o professor Otto Scharmer. É imperativo aos líderes da atualidade, e talvez o maior desafio ético e econômico, fechar a lacuna entre a realidade ecossistêmica (que envolve contextos ambientais, sociais, políticos e culturais que exigem uma atitude mental mais aberta) e a conscientização egossistêmica (centrada no contexto dos tomadores de decisão institucionais).

Não adianta tentar enxergar o futuro, 2020 que seja, olhando pelo retrovisor. O Brasil que vivemos e testemunhamos funciona para poucos – o meu recorte aqui não é o de número de eleitores do presidente Jair Bolsonaro, mas sim de lideranças institucionais que acreditam que a alta da bolsa, a baixa dos juros e inflação comportada estão colocando o país no “ca- minho certo”. Estamos fechados, sob “velha” direção.