Jornal Estado de Minas

Fora da caixa

Democracia da Terra, império e comunidade


Em um momento em que as condições precárias de proteção à Amazônia (foto) são expostas, provocando reações em todo o mundo, vale trazer à tona conceitos que reforçam como viver bem, e de forma sustentável, dentro dos limites planetários. David Korten, ex-professor da Harvard Business School, presidente do Living Economies Forum, e autor de livros como “Quando as empresas dominam o mundo”, vem sustentando o uso dos nomes Império e Comunidade da Terra para evidenciar dois modelos contrastantes de organização das questões humanas.
 
O “Império”, explica ele, é organizado pela dominação em todos os níveis, desde as relações entre as nações até as relações entre os membros da família. O Império traz fortuna para poucos, condena a maioria à miséria e à servidão, reprime o potencial criativo de todos e se apropria de grande parte da riqueza das sociedades para manter as instituições de dominação. Já a  “Comunidade da Terra” é organizada pela parceria, libera o potencial humano para a cooperação criativa e compartilha recursos e excedentes para o bem de todos.
 
 
 
Sobrecarga
Para ele, o consumo excessivo mundial, que excedeu a capacidade de sustento da Terra, levou à onda de colapso do sistema ambiental e à competição violenta pelo que restou dos recursos do planeta. Neste ano, em 29 de julho, a humanidade esgotou todos os recursos naturais que tinha para 2019, segundo a organização sem fins lucrativos Global Footprint Network. É o chamado Dia da Sobrecarga da Terra, quando o planeta passa a consumir mais do que consegue recuperar até o fim do ano. Há 20 anos, o dia foi 29 de setembro – é cada vez mais precoce.

Consenso 
Não obstante as aparentes divisões políticas, ressalta Korten, pesquisas revelam um surpreendente nível de consenso em questões-chave: 83% dos norte-americanos acreditam que, como sociedade, os Estados Unidos estão focados nas prioridades erradas. “Querem um mundo que coloque as pessoas acima dos lucros, os valores espirituais acima dos valores financeiros, e a cooperação internacional acima da dominação internacional.
Esses valores da Comunidade da Terra são, na verdade, amplamente compartilhados por conservadores e liberais”, afirmou.

Equilíbrio
Em consonância, a ativista indiana Vandana Shiva defende os princípios básicos do que chama de “Democracia da Terra” – uma filosofia que celebra a diversidade e tenta equilibrar direitos com responsabilidades. De acordo com ela, o termo se baseia na criação de economias que protejam a vida na Terra, supram as necessidades básicas e promovam segurança econômica para todos. Ela tem como base uma democracia ativa, que é inclusiva.
 
Na “Democracia da Terra”, a economia, a política e a sociedade passam de sistemas negativos, que beneficiam apenas alguns em curto prazo, para sistemas positivos, que garantem o direito fundamental à vida de todas as espécies. Cria um novo paradigma para a governança global, enquanto dá poder às comunidades locais. “Agrega princípios que nos permitem transcender a polarização, as divisões e as exclusões que colocam a economia contra a ecologia, o desenvolvimento contra o meio ambiente, as pessoas contra o planeta, e as nações uma contra as outras, em uma nova cultura de medo e ódio”, define.
 
Esses são alguns conceitos, de muitos outros fora do mainstream, articulados por pessoas que tentam se libertar de uma teoria econômica profundamente falha que ganhou proeminência global em meados do século 20 e que está destruindo a capacidade da Terra de sustentar a vida.
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