Jornal Estado de Minas

HISTÓRIA DE UMA PARÓQUIA

Criando novos jardins

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Ao longo dos séculos, a Ordem do Carmo deu ao mundo inúmeros tesouros, como Santa Teresa de Ávila, São João da Cruz e Santa Teresa de Lisieux, os três doutores da Igreja carmelitanos. Deu o escapulário, uma das mais antigas devoções marianas. Ergueu templos, abriu conventos e mosteiros, santuários, levou a fé aonde a fé precisava chegar, abençoou pessoas com dores e louvou a alegria, a bem-aventurança.



Foi em 16 de julho de 1251 que São Simão Stock teve a visão da Virgem rodeada de anjos, revestida de resplendor, trazendo nas mãos o escapulário, ficando para sempre o dia de Nossa Senhora do Carmo marcado no 16 de julho, como foi nessa sexta-feira. Quando aqui se instalou em BH o bairro se chamava do Mendonça. Naturalmente, foi virando Carmo, o nome aportuguesado de Carmelo, o conhecido nome da Festa de Nossa Senhora do Carmo em todas as igrejas. Os moradores acharam melhor deixar que Nossa Senhora conduzisse o caminho. Perseverando na , os carmelitanos levaram 17 anos para erguer a paróquia.
 
Em 4 de maio de 1941, um novo sino repicou alegre chamando todo o bairro para celebrar com missa festiva a inauguração da nova igrejinha e da casa paroquial. Dr. Ildeu Aguiar, arquiteto e engenheiro, assistia e orientava a obra com seus criativos imprevistos, como foi a mudança da posição da igreja, apesar da construção já estar adiantada. No início da obra, a maior rua era a Grão Mogol, por onde passava o bonde e por onde seria a entrada do templo. Eis que o boato de que iria passar pelo “fundo do quintal” a nova estrada para o Rio de Janeiro. Não tiveram dúvidas. A nova igreja deveria ter a sua fachada virada para a nova avenida. Como? Dr. Ildeu deu a ideia de encher o vão com lixo dos altos-fornos da Belgo Mineira, de modo que, no futuro, haveria uma leve descida da entrada até o presbitério. E assim, além da fachada e do nome da igreja (foto), a avenida ganhou também o nome de Nossa Senhora do Carmo.

Se foi um encantamento o nascimento de um templo carmelitano nas terras de Minas Gerais, imagine como foi quando tudo aconteceu na Terra Santa. Elias subiu ao cume do Carmelo e por sete vezes pediu ao criado: “Sobe e olha para o lado do mar”. O criado voltou dizendo: “Não há nada”. Só na sétima vez afirmou: “Vejo que sobe do mar uma nuvem pequena como a palma da mão”. Elias manda avisar a todos que vem chuva. Logo depois o céu escurece e começa a chover. É nesse monte, onde o profeta vê chuva numa nuvenzinha, que séculos depois nascia a Ordem do Carmo. Os eremitas chegaram, se instalaram na mesma gruta de Elias, usaram a mesma fonte e erigiram uma capela.





Transformaram um local venerado desde a alvorada do cristianismo em um ponto visitado por pessoas de todos os confins da Terra. Foi um monte criado para ser sagrado: viu a glória de Deus vencer 450 falsos profetas, chover depois de três anos de seca e viu eremitas silenciosos, na simplicidade da vida, em oração e louvor ao Pai. O monte Carmelo nasceu para orar. Hoje, é uma cadeia de montanhas de rocha calcária debruçada sobre o deslumbrante azul do Mar Mediterrâneo. O nome Carmelo significa jardim, mas é um belo jardim, com uma flora rica e variada, com murtas, cedros e alfarrobeiras.

O Monte Carmelo sempre me encantou desde a primeira vez em que fui à Terra Santa. No atual mosteiro e santuário, o Stella Maris, minha pausa maior é no nicho no altar com a imagem de Nossa Senhora do Carmo e, por baixo, a gruta. O mosteiro parece ter sido feito para que a alma se acalme e a memória não se desfaça. A Ordem do Carmo, única ordem contemplativa nascida fora da Europa, tem um passado que não passa. É um passado sempre presente como fonte criadora de tudo.

Fugindo da perseguição aos cristãos na Terra Santa, encontramos os eremitas na Inglaterra. Dali seguiram para o mundo todo. No Monte Carmelo, jardim, essa história começou e no monte eu volto. Para louvar a Flor do Carmelo, esplendor do céu. E imaginar a nuvenzinha vinda do mar e fertilizando os campos. Que uma nuvem pequena como a palma da mão sempre frequente nossos gestos e palavras, nos fazendo criar jardins tranquilos pelo caminho que for.

audima