Entre as raras boas notícias na economia, não fosse o avanço da pandemia do novo coronavírus, Minas Gerais ganharia ainda neste mês a sua oitava região produtora de queijo artesanal – a iguaria feita no município de Alagoa, na Serra da Mantiqueira. Outras nove cidades da região, no Sul de Minas, aguardam o reconhecimento do grupo pela oferta do típico produto mineiro.
O Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) trabalha na elaboração das portarias técnicas que abrem o caminho para a denominação dessas novas áreas produtoras. No entanto, com a urgência das medidas e as novas rotinas dotadas para conter o avanço da COVID-19, o IMA informou que já não é possível definir prazos para concluir os regulamentos.
A expectativa é de que a dificuldade seja superada ainda este ano, em favor do aumento e da valorização dessa alavanca da gastronomia e do turismo que tanto têm dado retorno à economia em Minas. É motivo suficiente para que o governo estadual e o Ministério da Economia se debrucem rapidamente sobre medidas capazes de minimizar os efeitos da COVID-19 sobre a atividade econômica. Isso, sem dar as costas ao necessário apoio e ao respeito aos direitos do trabalhador, diferentemente do que tem ocorrido até agora, para não comprometer os esforços desses empreendedores pouco lembrados.
Quanto maior for a propagação da doença, pior tende a ser tanto para as empresas hoje como para negócios promissores, em especial num estado como Minas Gerais, muito dependente da produção e das exportações de alimentos e minérios. Explica também o alívio para a população e um chamado à lucidez que pode fazer falta à própria economia no futuro, como se interpretou da decisão dos governadores de Minas Gerais, Romeu Zema; de São Paulo, João Doria, e do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, entre outros, de continuar seguindo as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS) na luta contra o novo coronavírus.
A denominação de região produtora do legítimo queijo artesanal de Minas à Alagoa significa uma espécie de certidão de nascimento do queijo local, como resume o engenheiro-agrônomo Júlio César Felming Seabra, da Emater-MG. “Demoramos 100 anos para chegar a esse reconhecimento. Vai trazer identidade ao produto e será um grande avanço para os produtores”, afirma, em referência à longa história de produção da iguaria no município.
‘Queridinho’ de vários chefs de cozinha, o queijo de Alagoa é comercializado como parmesão. Com a criação da região produtora, as queijarias vão se enquadrar no Programa Queijo Minas Artesanal, desenvolvido pelo governo do estado, e terão acesso a selo de inspeção. Os produtores desejam, inclusive, conquistar o Selo Arte, conta Francisco Barros, presidente da Associação dos Produtores de Queijo Artesanal de Alagoa (Aproalagoa).
A Lei do Selo Arte, de julho do ano passado, permite a venda interestadual de alimentos artesanais, a exemplo de queijos, mel e embutidos. “O produtor quer melhorar e vamos trabalhar agora pela Identidade Geográfica (selo concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial) do nosso produto, que mostra que ele é único”, afirma Barros. A documentação que serve de base para o pedido a ser apresentado ao INPI está sendo preparada.
Começou pouco mais de quatro anos atrás todo o envolvimento de produtores e técnicos de entidades ligadas ao sistema de assistência e apoio ao agronegócio pelo reconhecimento das iguarias de Alagoa e de outros municípios da Serra da Mantiqueira mineira. O esforço consumiu até agora investimento de R$ 100 mil.
Após a elaboração das portarias do IMA, uma fase seguinte será o Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade, com o detalhamento completo das características dos queijos de Alagoa e da Mantiqueira, relativas a sabor, acidez, teor e umidade. A regulamentação estará apoiada em dois estudos de caracterização integrada das regiões produtoras entregues em fevereiro aos fabricantes locais pela Emater-MG.
Força de Alagoa
130 É o número estimado de produtores de queijo no município de 2,8 mil habitantes, onde a maioria da população está empregada na prefeituraA SETE CHAVES
Os queijos artesanais de Minas feitos em sete regiões reconhecidas como produtoras da iguaria mantêm o modo artesanal de fabricação, com mão de obra familiar, produção em baixa escala e uso do leite cru. A maturação varia de 14 a 22 dias. São mais de 300 produtores nas sete regiões reconhecidas hoje: Araxá, Campo das Vertentes, Canastra, Cerrado/Alto Paranaíba, Serra do Salitre, Serro e Triângulo Mineiro.