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Entre malucos e cachaceiros

"O governo consegue construir crises semanais. Todas geradas no seu seio"


postado em 08/05/2019 05:09 / atualizado em 08/05/2019 07:16

Na história do Brasil republicano, nunca o debate político foi tão pobre, rasteiro, como nos tempos contemporâneos. Basta acompanhar os trabalhos no Congresso Nacional e o noticiário da imprensa. Nos primeiros quatro meses do governo Bolsonaro essa constatação também ficou patente. É muito difícil encontrar um tema que tenha polarizado o debate político tendo como base um conjunto de ideias. O que se vê são xingamentos substituindo os argumentos e um clima bélico, avesso ao enfrentamento democrático no campo ideológico.

Da oposição tradicional, dos antigos donos do poder, houve uma absoluta omissão. O Partido dos Trabalhadores não conseguiu exercer o papel de oposicionista. Os 13 anos de poder – e o gozo das benesses oficiais em escala nunca vista na nossa história – transformou o partido em um agrupamento sem disposição de enfrentar, no Parlamento, o governo. O foco do partido foi a libertação do Lula, uma verdadeira monomania. Abdicou de formar uma oposição combativa, marcar posição, recuperar adeptos e reconstruir o antigo perfil partidário anterior à ascensão de Lula à Presidência da República, mesmo tendo uma grande bancada na Câmara dos Deputados. A antiga ligação com os movimentos sociais desapareceu. Em parte, porque o partido instrumentalizou e domou estes movimentos, atrelando-os ao Estado, quando estava no governo. De outro, porque a burocracia partidária se afastou das ruas há duas décadas. O militante partidário desapareceu. Surgiu o cabo eleitoral que só age impulsionado por dinheiro. Além do que, o PT acabou desmoralizado pelos sucessivos escândalos, especialmente o petrolão.

Os outros partidos oposicionistas tiveram pouca importância nesta legislatura. Ou pelo pequeno número de parlamentares, ou pela falta de iniciativa política. Ainda não compreenderam que o país passa por um novo momento. Continuam falando para (e sobre) um Brasil que não mais existe. Os antigos movimentos sociais perderam sua capacidade de mobilização. Acostumaram-se com os benefícios pecuniários concedidos pelo PT nos anos 2003-2016. E os contatos com a sociedade civil foram se esgarçando. As centrais sindicais desapareceram do cenário político. Mesmo com milhões de desempregados – que poderiam servir como combustível nos embates trabalhistas – não conseguem construir uma pauta mínima e eficaz de luta. Seus dirigentes – tais quais os dos movimentos sociais – se locupletaram com os milionários recursos do erário durante o domínio petista do Palácio do Planalto. E perderam contato (e representatividade) entre os trabalhadores. Assim, estes setores não conseguem vocalizar um discurso oposicionista coerente, agregador e alternativo ao do governo. Resta atacar o que é proposto – vide o caso da reforma da Previdência – sem conseguir apresentar alternativas concretas à grave crise vivida pelo país.

Já o governo consegue construir crises semanais.  Todas geradas no seu seio. São autocrises. Caso único na nossa história política. E sempre por razões banais, pois o debate ideológico – como disse – inexiste. A disputa é para ocupar postos no interior da máquina do Estado. A sanha predatória é semelhante à do PT. Todos os cargos são desejados. O importante é ter o domínio de instâncias que poderão elaborar políticas públicas atendendo uma clientela extremista. E rápido. Não importa a eficácia administrativa. O que vale é a esperteza sob qualquer justificativa. A consequência é evidente: a paralisia da máquina governamental. E quando há alguma ação, ela é nociva ao interesse público (quando é para efeito interno) ou ao interesse nacional (como no caso do Itamaraty). Mas a horda é insaciável. Precisa produzir crises. Vive delas. Isto porque não tem expertise, desconhece os grandes temas nacionais, possui um baixo nível educacional, ignora o funcionamento de um Estado republicano. São deslumbrados.  Agem como principiantes fascinados pelo poder.

Em meio a tudo isso, o país continua paralisado. Assiste atônito a embates primários, pré-ideológicos. Nenhum ator político consegue apresentar uma visão de mundo, mesmo rudimentar. Vive-se de picuinhas, de fofocas. Isto pode explicar a presença no noticiário de figuras desprezíveis, como o Jim Jones da Virgínia. Cabe – entre tantas perguntas – imaginar como os brasileiros daqui a 50 anos vão analisar este momento histórico. Deverão se envergonhar. Afinal, o Brasil tem um quarto da sua população economicamente ativa desempregada. A pobreza aumentou. Pioraram os indicadores sociais. Doenças epidêmicas – que se acreditavam erradicadas – retornaram. O saneamento básico é uma vergonha nacional. A violência tomou conta do país. Milhares de brasileiros buscam no exterior as oportunidades que não encontram no Brasil. Setores do Palácio do Planalto flertam com o extremismo europeu e americano. Tempos sombrios. E ainda estamos no início de maio.

 

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