Na história do Brasil republicano, nunca o debate político foi tão pobre, rasteiro, como nos tempos contemporâneos. Basta acompanhar os trabalhos no Congresso Nacional e o noticiário da imprensa. Nos primeiros quatro meses do governo Bolsonaro essa constatação também ficou patente. É muito difícil encontrar um tema que tenha polarizado o debate político tendo como base um conjunto de ideias. O que se vê são xingamentos substituindo os argumentos e um clima bélico, avesso ao enfrentamento democrático no campo ideológico.
Da oposição tradicional, dos antigos donos do poder, houve uma absoluta omissão. O Partido dos Trabalhadores não conseguiu exercer o papel de oposicionista. Os 13 anos de poder – e o gozo das benesses oficiais em escala nunca vista na nossa história – transformou o partido em um agrupamento sem disposição de enfrentar, no Parlamento, o governo. O foco do partido foi a libertação do Lula, uma verdadeira monomania.
Os outros partidos oposicionistas tiveram pouca importância nesta legislatura. Ou pelo pequeno número de parlamentares, ou pela falta de iniciativa política. Ainda não compreenderam que o país passa por um novo momento. Continuam falando para (e sobre) um Brasil que não mais existe. Os antigos movimentos sociais perderam sua capacidade de mobilização. Acostumaram-se com os benefícios pecuniários concedidos pelo PT nos anos 2003-2016. E os contatos com a sociedade civil foram se esgarçando. As centrais sindicais desapareceram do cenário político.
Já o governo consegue construir crises semanais. Todas geradas no seu seio. São autocrises. Caso único na nossa história política. E sempre por razões banais, pois o debate ideológico – como disse – inexiste. A disputa é para ocupar postos no interior da máquina do Estado. A sanha predatória é semelhante à do PT.
Em meio a tudo isso, o país continua paralisado. Assiste atônito a embates primários, pré-ideológicos. Nenhum ator político consegue apresentar uma visão de mundo, mesmo rudimentar. Vive-se de picuinhas, de fofocas. Isto pode explicar a presença no noticiário de figuras desprezíveis, como o Jim Jones da Virgínia. Cabe – entre tantas perguntas – imaginar como os brasileiros daqui a 50 anos vão analisar este momento histórico. Deverão se envergonhar. Afinal, o Brasil tem um quarto da sua população economicamente ativa desempregada. A pobreza aumentou. Pioraram os indicadores sociais. Doenças epidêmicas – que se acreditavam erradicadas – retornaram. O saneamento básico é uma vergonha nacional. A violência tomou conta do país. Milhares de brasileiros buscam no exterior as oportunidades que não encontram no Brasil. Setores do Palácio do Planalto flertam com o extremismo europeu e americano. Tempos sombrios. E ainda estamos no início de maio.
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