Bra$il em foco

Senha para a retomada

A redução dos juros, ainda que em 0,25 ponto percentual, será um indicativo para os empresários e consumidores e pode ser a senha para a retomada da confiança

- Foto: Ruy Barom/Valor/FI- 17/7/06
 
Depois de deixar sua articulação política à baila e ver o presidente da Câmara dos Deputados tomar para si a aprovação da proposta de mudança nas regras das aposentadorias em primeiro turno com votos que surpreenderam todos, o Palácio do Planalto está passando ao largo nas medidas de curto prazo para reativar o crescimento da economia e corre o risco de ver o Banco Central – não deixa de ser governo, mas é “independente” – tomar para si o protagonismo dessas ações ao reduzir a taxa básica de juros (Selic), hoje em 6,5% ano. Entenda-se como medidas ações que tenham impacto na estrutura produtiva e não paliativos, como liberação de recursos com efeito restrito a curtos períodos.
Com todas as expectativas apontando para um crescimento abaixo de 1% do PIB este ano – resultado pior do que o dos últimos dois anos –, e a inflação sob controle – em junho, o IPCA-15 ficou em 0,09% – e tendendo a fechar o ano abaixo da meta, o mercado espera já para a próxima reunião do Copom, na semana que vem, o início dos cortes nas taxas de juros. Para reforçar essa aposta, basta lembrar que a aprovação da reforma da Previdência com 71 votos a mais do que o mínimo necessário indica que não haverá dificuldades para sua aprovação em segundo turno.
Nesse contexto, a redução dos juros, ainda que em 0,25 ponto percentual, será um indicativo para os empresários e consumidores e pode ser a senha para a retomada da confiança, que virá de forma mais definitiva no início de agosto, com o fim da votação da Previdência na Câmara. A liberação de recursos do FGTS, anunciada ontem pelo governo, é um paliativo e não deve ter poder para catapultar o PIB, cuja previsão de crescimento este ano o FMI reduziu de 2,1% para 0,8%. Foi assim em 2017, quando Temer liberou R$ 44 bilhões das contas inativas do fundo.
A liberação do dinheiro do FGTS, no curto prazo, é como dar antitérmico para quem está com uma infecção grave. Pode até conter a febre, mas a doença permanece. Se fosse esse o remédio, o dinheiro de 2017 teria tirado o país do atoleiro. Não foi isso que ocorreu e não será isso que vai ocorrer agora.
Com mais de 63% das famílias brasileiras convivendo com alguma dívida, no primeiro momento o destino do recurso liberado do FGTS será o pagamento ou regularização desses débitos, e não o consumo. Além disso, pelo que o governo informou ontem, a liberação este ano ficará abaixo do previsto, uma vez que o trabalhador terá que optar entre o saque anual ou o saque integral na demissão sem justa causa.
Culturalmente, o dinheiro do FGTS é visto pelo trabalhador como o recurso que ele terá caso fique desempregado. Não é um entrave, uma vez que qualquer aplicação rende mais do que o FGTS, mas é um limitador que levará muitos trabalhadores a deixar o recurso guardado. O mesmo vale para os trabalhadores com pouco tempo para se aposentar. Entre sacar anualmente um valor e aguardar mais dois ou três anos para efetuar o saque integral, a segunda opção pode ser mais atraente. São fatores que podem frustrar a expectativa de liberação de recursos. Com ou sem restrição, o dinheiro represado do trabalhador será pouco para aquecer a economia. Aliás, a retomada firme do consumo só virá com a reação no mercado de trabalho.

Energia do futuro
Um encontro na noite de ontem em São Paulo discutiu os cenários do setor elétrico em 2030. Promovido pela Nansen, fabricante de medidores do grupo chinês Sanxing, o debate girou em torno da eletromobilidade (leia-se veículos elétricos e a rede de abastecimento deles) e das redes inteligentes, as smart grids, que permitem a geração distribuída de energia, integrando concessionária de energia e consumidor. A empresa está de olho no mercado de carregadores para veículos, tanto individuais (para garagens) quanto em postos de abastecimento.

E dos rejeitos
Com potência de 480KW de energia, uma minicentral termelétrica de biogás foi inaugurada ontem em Entre Rios do Oeste, no Paraná. O detalhe é que essa energia, que vai abastecer 72 unidades consumidoras da prefeitura, será gerada a partir dos rejeitos da suinocultura em 18 propriedades da cidade, produtora de suínos com um rebanho de 150 mil porcos. São 215 toneladas diárias de dejetos a serem processadas para a produção do biogás que será queimado na central termelétrica. O projeto foi desenvolvido por Itaipu, Copel e CIBiogás.
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