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ENTRE LINHAS

A saída de Sergio Moro da corrida presidencial favoreceu Jair Bolsonaro

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Pesquisa Ipespe divulgada ontem confirmou as expectativas de que a saída do ex-juiz da Lava-Jato Sergio Moro reforçaria muito mais a polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro na corrida eleitoral deste ano, na qual o primeiro tenta voltar ao poder e o segundo busca a reeleição.



O mais beneficiado foi Bolsonaro, que subiu de 26% para 30% de intenção de votos, na comparação com o levantamento realizado em 25 de março. Lula manteve-se na liderança, com 44% de intenções de votos.
 
Bolsonaro cresceu entre pobres (de 31% para 35%), no Sul (de 31% para 39%) e Sudeste (de 25% para 31%). A subida não pode ser creditada apenas ao deslocamento dos eleitores de viés mais ideológico de Moro, tem a ver também com o controle da pandemia de COVID-19, a injeção de recursos do Auxílio Brasil e outros benefícios do governo no orçamento das famílias e, também, nos investimentos do Centrão em pequenas e médias cidades, por meio do chamado orçamento secreto.

Parte dos votos de Moro, como era de se esperar, foi captado por Ciro Gomes (PDT), que passou de 7% para 9%, e pelos candidatos da chamada terceira via: João Doria (PSDB), passou de 2% para 3%, e Simone Tebet (MDB), de 1% para 2%.
 
A propósito da terceira via, ontem houve um encontro dos presidentes do PSDB, Bruno Araújo, e do Cidadania, Roberto Freire, que formam uma federação; do MDB, Baleia Rossi; e do União Brasil, Luciano Bivar, que lançou sua pré-candidatura, embaralhando mais ainda a busca de uma candidatura unificada.



O grupo estabeleceu o prazo de 18 de maio para chegar a um denominador comum, o que continua sendo muito difícil. Há duas razões para isso, a primeira é de ordem objetiva: segundo as pesquisas espontâneas, o voto em Bolsonaro (passou de 25% para 27%) e Lula (manteve 36%) está se consolidando, o que mostra cristalização da polarização entre ambos. A segunda é subjetiva: os candidatos precisam demonstrar disposição de se retirar da disputa.
 
Não é o caso do ex-governador João Doria, que iniciará amanhã, pela Bahia, numa aproximação com o secretário-geral da União Brasil, ACM Neto, candidato favorito ao governo da Bahia, com quem estava rompido, seu périplo pré-eleitoral pelo Brasil.

Doria não admite nenhuma conversa sobre a retirada de sua candidatura que desconsidere o fato de ser o candidato do PSDB escolhido nas prévias da legenda, ou seja, não está disposto a se submeter a uma decisão dos demais partidos. Ignora solenemente as articulações para afastá-lo da disputa. No seu calendário, a campanha eleitoral somente começará em 15 de agosto, com a propaganda eleitoral de rádio e tevê.




 
Evidentemente, o prazo de 18 de maio dado pelos demais partidos para que possa alavancar sua candidatura, à medida que o tempo avançar, servirá de ultimatum, caso não decole nas pesquisas. Nesse caso, os demais partidos têm intenção de propor outra candidatura.

Os nomes mais cotados são  o de Simone Tebet, que mantém bom diálogo com Doria, e Eduardo Leite, que virou uma espécie de “candidato fantasma” do PSDB. Pelas regras do jogo, o nome de Leite só é viável com a desistência de Doria, embora a tese de que os demais partidos podem apresentá-lo seja voz corrente nos bastidores da terceira via.  A candidatura de Luciano Bivar não pode ser levada a sério, é um chapéu na cadeira para a eventualidade, remotíssima, de Moro voltar a ser candidato à Presidência pela União Brasil.

Esquerda volver

Ciro Gomes continua correndo por fora da terceira via, embora busque alianças ao centro. Já teve conversas com Bivar e, ontem, procurou o apoio do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), que desistiu de disputar a Presidência. Ciro tem boa conexão com o candidato do PSD ao governo de Minas Gerais, o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil.



Esnobado pelos presidentes das legendas da chamada terceira via, saiu do encontro com Pacheco atirando: “A terceira via é uma expressão preguiçosa criada por uma certa imprensa. O que se chamou de terceira via no Brasil são as viúvas do Bolsonaro e eu não tenho nada a ver com isso”, disparou o pedetista. Com a saída de Moro, Ciro subiu de 7% para 9% nas intenções de voto, o que só reforça a resiliência de sua candidatura.
 
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva parece ter batido no teto, embora continue franco favorito nas pesquisas de segundo turno, em qualquer cenário. Contra Bolsonaro, venceria com 53% dos votos contra 33%.

O petista consolidou sua aliança com o PSB, que indicará o ex-governador Geraldo Alckmin para vice. Lula busca uma aproximação com setores empresariais; ao mesmo tempo, mantém a velha narrativa contra as “elites escravocratas”, a agenda sindical do PT, a defesa das estatais e uma política externa não alinhada ao Ocidente, o que é música para a esquerda tradicional. Ou seja, também não tem nenhum interesse em se aproximar da terceira via.