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ENTRE LINHAS

Menor do que gostaria, Bolsonaro mostra força capaz de barrar impeachment

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O presidente Jair Bolsonaro demonstrou grande capacidade de mobilização no Dia 7 de Setembro. Maior do que a oposição imaginava, porém, menor do que gostaria que fosse, para ir adiante no seu projeto de emparedar o Supremo Tribunal federal (STF) e/ou dar um golpe de Estado.



Grande o suficiente para garantir uma base parlamentar capaz de barrar um processo de impeachment, como ficou claro no pronunciamento do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL). Não o suficiente para intimidar o Supremo Tribunal Federal (STF), como deixou claro o seu presidente, ministro Luiz Fux.

O país está prisioneiro de uma armadilha criada pelo presidente da República. É um impasse no qual as pesquisas de opinião apontam o seu enfraquecimento, mas não ainda o suficiente para inviabilizar sua presença no segundo turno. Bolsonaro perde a expectativa de reeleição, mas continua controlando a forma mais concentrada de poder: o governo, que arrecada, normatiza e coage. Sua gestão é um desastre multifacetado, que turva o horizonte político e econômico e agrava os problemas sociais, é certo.

Mesmo assim, Bolsonaro contém a expectativa de poder da oposição, gerada principalmente pelo favoritismo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com a ameaça de impedir as eleições ou não aceitar seu resultado, ou seja, de não deixar que o petista tome posse, caso vença as eleições, como fizera Carlos Lacerda na campanha eleitoral de 1950.





Como diria o Barão de Itararé, tudo seria fácil se não fossem as dificuldades. Os episódios do Dia da Independência e os de ontem, com os pronunciamentos do presidente da Câmara e do presidente do Supremo, refletem o outro lado da mobilização bolsonarista.

Além de uma fieira de crimes eleitorais – propaganda antecipada, uso indevido de recursos públicos, financiamento ilegal etc. –, Bolsonaro cometeu crime de responsabilidade ao atacar o Supremo e dizer que não aceitaria decisões do ministro Alexandre de Moraes. A premissa de um processo de impeachment já está dada. A forma, ainda não; é um processo político, que somente começa quando o presidente da Câmara tira da gaveta um dos pedidos de impeachment.

Bolsonaro lança suas falanges  politicas contra as instituições, que trata como se fosse a oposição e não Poderes e/ou agências de Estado. Foi um erro crasso. Em vez de sair do isolamento e retomar a capacidade de iniciativa política, acabou mais isolado ainda.



Criou um clima favorável ao surgimento de uma candidatura de centro, comprometida com a democracia, ou seja, alternativa a ele próprio, e não ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O monitoramento das redes sociais pelas agências de risco aponta nessa direção.

Há pré-candidatos assumidos: Ciro Gomes (PDT), João Doria (PSDB), Luiz Henrique Mandetta (DEM), Alessandro Vieira (Cidadania); ou que se fingem de morto: Sergio Moro (sem partido) e Rodrigo Pacheco (DEM). Quem conseguir galvanizar “a direita da esquerda e a esquerda da direita” do eleitorado pode emergir como alternativa de poder e chegar ao segundo turno. Seus partidos já dialogam intensamente, em busca de uma coalizão contra Bolsonaro.

Estado-maior

É muito difícil entender a cabeça do presidente da República, porque ele foge aos paradigmas tradicionais da política e da normalidade institucional. Mas é possível definir o caráter bonapartista de seu governo, em conflito com a Constituição de 1988 e  hegemonizado por três generais amigos – o ministro da Defesa, Braga Neto, o golpista; Luiz Ramos, secretário-geral da Presidência, o mais amigo, e Augusto Heleno, chefe do Serviço de Segurança Institucional, o ideológo –, e pelos filhos, o senador Flávio Bolsonaro (PR-RJ), o articulador empresarial; o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que coordena os grupos de extrema-direta; e o vereador carioca Carlos Bolsonaro, o grande operador de suas redes sociais.



Os demais ministros são meros coadjuvantes, mesmo o novo chefe da Casa Civil, senador Ciro Nogueira (PP-PI), que entrou no governo para tirar Bolsonaro do isolamento e foi engolido pela radicalização.

A estratégia de Bolsonaro é politizar ao máximo o fracasso econômico e administrativo, deslocando o eixo da discussão dos problemas reais da população e transferindo responsabilidades para governadores, prefeitos e os demais poderes, na linha de que o Judiciário não deixa o presidente da República governar, nem o Congresso não aprova as reformas.

Bolsonaro têm uma interpretação do poder delegado pelos eleitores à Presidência que extrapola seus limites constitucionais, vem daí vem o conflito institucional. Ontem, apoiadores mais radicais e truculentos tentaram invadir o Supremo Tribunal Federal (STF). Bolsonaro incitou-as e sinalizou que pretende mobilizá-las para impedir as eleições de 2022, uma ameaça muito grave à democracia.


audima