O presidente Jair Bolsonaro somente baterá o martelo sobre a proposta de reforma da Previdência da sua equipe econômica depois de reunião do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, de 22 a 25 de janeiro. “Moldar a Arquitetura Global na Era da Quarta Revolução Industrial” é o tema do encontro, ou seja, a antítese do que propõe o novo chanceler brasileiro Ernesto Araújo, que é antiglobalista, para a nossa política externa. Durante cinco dias, 3.000 representantes das elites políticas e empresariais do planeta, incluindo 65 chefes de Estado e de governo, debaterão os problemas da atualidade. Bolsonaro estará no centro das atenções mundiais, ainda mais depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que não irá ao encontro.
A guinada ultraliberal do Brasil seria a novidade do encontro, mas terá que dividir os holofotes com o Brexit do Reino Unido. A guinada nacionalista britânica está num beco sem saída, com a decisão acachapante de ontem do parlamento britânico contra acordo de saída da Inglaterra da União Europeia negociado pela primeira-ministra Theresa May. Criado em 1707, o mais antigo e poderoso corpo legislati vo do mundo rejeitou o plano por 432 votos contra e 202 a favor. A primeira-ministra não tem um Plano B, porém, pelas regras do jogo, terá três dias para apresentá-lo.
Até lá, pode não sobreviver no cargo. O líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, anunciou uma moção de desconfiança contra a premiê, que pode aprovada ainda hoje.
A política antiglobalista na Europa entrou em colapso antes mesmo de ser levada à prática. Uma saída sem acordo significa que as leis da União Europeia deixariam de ser válidas na Inglaterra de uma hora para outra, imaginem o caos na economia britânica e na vida das pessoas, a começar pela situação nos aeroportos e no Canal de Mancha. A União Europeia lamenta a situação, mas não afrouxa as exigências do acordo: “Este acordo é e continua a ser a melhor e única forma de garantir uma retirada ordenada do Reino Unido da União Europeia”, diz o seu comunicado sobre a decisão.
Um dos assuntos polêmicos é a fronteira entre a Irlanda e a Irlanda do Norte, que passa a ser a fronteira entre o Reino Unido e a UE dentro da ilha britânica. O Reino Unido e a Irlanda faziam parte de um mercado comum, a circulação de produtos e pessoas era livre entre os dois países. Com o Brexit, duas Irlandas estarão sob regimes regulatórios diferentes, o que significa que mercadorias e pessoa s teriam de ser checadas na fronteira. O acordo permitiria que a Irlanda do Norte continuasse alinhada a algumas regras aduaneiras da UE, para dispensar a necessidade de checagem na fronteira com a Irlanda, mas exigiria que alguns produtos vindos do restante do Reino Unido fossem submetidos a controles.
Os muros
Os britânicos que moram na UE e europeus que moram no Reino Unido poderiam continuar a trabalhar e a estudar onde tenham residência, além de poderem trazer consigo membros da sua família.
Na sua primeira viagem internacional, Bolsonaro será acompanhado por Paulo Guedes (Economia), Sérgio Moro (Justiça) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores). Para o fundador do encontro, Klaus Schawab, há profunda instabilidade global. “Temos que definir uma nova abordagem da globalização, que é mais abrangente. A globalização produz vencedores e perdedores (...) Agora temos que cuidar dos perdedores, depois daqueles que foram deixados para trás”, avalia.
Não é à toa que Trump despachará para Davos o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, o secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, e o secretário do Comércio dos EUA, Wilbur Ross. Estarão no encontro a chanceler alemã Ângela Merkel; seu colega austríaco, Sebastian Kurz; o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe; e a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardem; os primeiros-ministros da Itália, Es panha, Israel, Holanda, Noruega, África do Sul e Vietnã; e os presidentes do Iraque, Afeganistão, Colômbia, Peru, Ruanda, Uganda e Zimbábue. Como Tereza May, que também não deve ir a Davos, Trump tropeçou nas próprias pernas, ao fazer da proposta de construção do muro na fronteira com o México o seu grande objetivo de governo.