Jornal Estado de Minas

TIRO LIVRE

Quem vai resgatar o Atlético em 2023?

O ano de 2022 está longe de acabar. Pela frente, ainda teremos eleições e Copa do Mundo – e com eles a chance de resgatar o orgulho de ser brasileiro, dentro e fora de campo. Até janeiro chegar, muitas intempéries teremos para atravessar e, no futebol, essa caminhada parece ser especialmente árdua para o Atlético. A indefinição do rumo alvinegro nos próximos dois meses ecoa, e muito, no que virá na próxima temporada.



Recorro a uma expressão da moda (o vocabulário futebolístico adora essas "inovações linguísticas") para resumir o momento vivido pelo Galo: o estado anímico pelos lados de Vespasiano não anda dos melhores. Isso já é perceptível nas entrevistas de jogadores e do técnico Cuca. 

Após a derrota para os reservas do Flamengo, no fim de semana passado, o baixo-astral parece ter estacionado pelos lados atleticanos. Como se eles tivessem se conscientizado do quão mal estão no campeonato. No popular, caíram na real. Sem filtro, já admitem que a situação não é das melhores.

Não adianta recorrer à psicologia barata de autoajuda, muito menos jogar nas mãos de Deus a responsabilidade. A realidade é que o Atlético não consegue evoluir.

Essa queda começou coletivamente, sob o comando de Turco Mohamed, e com Cuca desembocou no processo individual. Até figuras que se sobressaíam - e por vezes salvavam o time com uma defesa milagrosa (no caso de Everson) ou um gol providencial (Hulk) estão com o brilho fosco.



É injusto inclusive apontar o dedo para um só culpado. A esta altura, entre mortos e feridos, ninguém está se salvando. Não foi repentinamente, nem do dia para a noite.

Essa desconstrução do Atlético foi gradual, a olhos vistos, ao longo da temporada: o time foi perdendo sua identidade, sua força ofensiva, seu equilíbrio defensivo... Até chegar ao que temos hoje. Cada tijolo colocado em 2021 foi sendo derrubado. Não viu quem não quis. 

O zagueiro Jemerson, que retornou à Cidade do Galo em meados do ano, afirmou que há um clima de tristeza no ar. Em entrevista nessa terça-feira, recorreu mais de uma vez à palavra para descrever o ambiente no alvinegro: "É triste, particularmente. Nós, jogadores, sentimos muito isso, de estar tentando, mas não conseguindo os resultados. Isso deixa o clima ruim. É um clima de tristeza. Não tem como ter o elenco que o Atlético tem, fazer as coisas que fazemos e o resultado ser adverso".

O volante Allan, que iniciou o ano até cotado para a Seleção Brasileira, pelas atuações dinâmicas na vitoriosa temporada de 2021, admitiu sua queda de rendimento: "Preciso melhorar mesmo. Preciso voltar ao Allan que eu era no ano passado. Isso é natural, faz parte do futebol. É confiança. Falo por mim. (...) Quando dá tudo certo, as coisas acontecem ao natural. Quando o momento não é bom (individual e coletivamente), você vai se preservar mais, não vai se expor muito, porque não está com a confiança lá em cima. Já fiz essa autoanálise e sei que estou devendo".



O lateral Dodô foi outro a reconhecer a má fase: "O incômodo do Campeonato Brasileiro é grande para todos nós. A gente está alguns pontos atrás do que a gente gostaria. Nosso desempenho nos jogos em casa foi um pouco abaixo. Pontos que fizeram falta para brigar pelo título".

Essa sinceridade dos jogadores é melhor que qualquer distorção da realidade. É preciso coragem e caráter para admitir erros e fragilidades. Há quem, por exemplo, que ao errar, em vez de trilhar o caminho da honestidade, admitir e se desculpar, escolhe bradar que foi mal-interpretado ou que teve as palavras retiradas de contexto. O termo que define seres assim é um só: covardia.

O atacante Hulk talvez tenha sido o último moicano nessa curva descendente do Galo. Ele chegou a viver ótimos momentos na temporada e a ser cotado para a Seleção Brasileira (esta coluna foi uma das que defenderam sua presença na lista de Tite), mas sucumbiu diante do desajuste coletivo.



Na esteira da queda técnica, veio a física, com um insistente problema na panturrilha esquerda, que tem incomodado o jogador em campo. 

Parece que nem Cuca tem a explicação para a receita do Atlético ter desandado tanto. Segundo fontes extraoficiais, ele não quis permanecer no clube de 2021 para 2022 por não acreditar que conseguiria manter o nível de atuações da equipe.

Agora imagina só: se quando estava bom ele não quis ficar, como há de ser agora, com o trem fora dos trilhos?

Por mais que o Atlético tenha um grupo individualmente forte e um treinador vencedor, é complicado cravar, hoje, de onde virá a reação. Os últimos meses deste ano e o início do próximo são, mais do que nunca, uma grande interrogação.