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A luta do Cruzeiro não é pelo G-4 da Série B

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É sabido que a queda para a Série B do Campeonato Brasileiro é traumática para todo grande clube do país – aqueles que ostentam em suas galerias títulos expressivos, envergam uma camisa de peso e arrastam milhões de torcedores. Só que muitos deles passaram pela experiência sem maiores estragos: voltaram à elite como campeões e acabaram fazendo do limão uma limonada.



Aos cruzeirenses, no entanto, essa possibilidade ainda não se apresentou. Pelo contrário: nem em seus piores pesadelos, eles poderiam imaginar um roteiro tão dantesco. Pela segunda temporada seguida, seu glorioso passado não têm feito a menor diferença: a Raposa nunca sequer figurou nem entre os quatro primeiros colocados da competição. E continua longe disso.

Esse dado é muito significativo, porque reflete exatamente o que o Cruzeiro tem passado desde que o rebaixamento foi decretado. A regularidade da campanha é toda delineada por aspectos negativos. Está tudo muito ruim, dentro e fora de campo. É como uma bola de neve que não para de crescer: um problema leva a outro, que leva a outro, e a outro...

A crise financeira e institucional acaba indo parar dentro das quatro linhas, na maior parte das vezes, no fundo das redes de Fábio. Sem conseguir se reestruturar, o Cruzeiro se tornou refém do acaso. E a bola não tem perdoado.

A melhor colocação do time em toda a sua participação na Série B, até aqui, é o 10º lugar, ocupado nas 29ª e 30ª rodadas do campeonato do ano passado. Foi o melhor que o time conseguiu nas 46 rodadas que já disputou na Segunda Divisão. É muito, muito aquém de qualquer previsão feita.



No ano passado, o saldo negativo de seis pontos (por punição da Fifa) foi apontado como um dos vilões. O problema é quem acha que ele foi o único. Mesmo se não tivesse tido descontados aqueles seis pontos, a equipe celeste “ostentaria” o posto de dona da pior campanha do turno da Série B entre os grandes.

Somou 20 pontos e, com mais seis, ainda assim ficaria atrás do segundo colocado nessa lista do purgatório futebolístico: o Atlético, que fez 29 pontos nas 19 rodadas iniciais de 2006. No fim daquele ano, o Galo subiu, missão que o Cruzeiro não conseguiu cumprir em sua primeira tentativa.

A segunda também não está sendo muito animadora. Nem Mozart – quinto treinador na gestão de pouco mais de um ano do presidente Sérgio Santos Rodrigues – se arrisca a cravar que o acesso virá.



Após o jogo contra o Guarani, ele afirmou que não falaria sobre isso. “É um objetivo muito distante”, justificou. “Vamos brigar jogo a jogo.” Essa postura é compreensível, pois o jogo a jogo não tem sido nada promissor.

Contra o Bugre foi simbólico: o Cruzeiro ficou duas vezes à frente no placar, mas não sustentou a vantagem e amargou o empate, no Mineirão, por 3 a 3. A falta de consistência, sobretudo nos jogos em casa, tem sido determinante.

Neste ano, em quatro partidas, foi só uma vitória, nos 2 a 1 sobre o Vasco, além de dois empates (3 a 3 com o Guarani e 1 a 1 com o Goiás) e uma derrota (e que derrota!): 4 a 3 para o CRB. No ano passado, já foi assim, com o sarrafo bem baixo: dos 19 confrontos como mandante, ganhou apenas seis, perdeu outros seis e empatou sete.



Esse é só mais um elemento a mostrar que o Cruzeiro, em momento algum, tem desenhado trajetória que leve a pelo menos uma das vagas na Série A.

Desde que deu o seu primeiro chute na bola pela Segunda Divisão, o time celeste tem se visto mais próximo da zona de rebaixamento do que do grupo de acesso à Primeira Divisão.

Em várias oportunidades, o fantasma da Série C ganhou contornos reais. Foram 11 rodadas no ano passado e quatro já neste ano em que a equipe esteve entre as quatro piores do campeonato. Outra informação que precisa ser encarada com seriedade. Desdenhar dela só aproximará o Cruzeiro de um buraco ainda maior do que o que ele já está.

Os sinais estão aí, para quem quiser ver.

É claro que não dá para colocar tudo na conta de Mozart, que tem somente seis partidas no comando da Raposa. Mas ele é parte integrante do contexto e, a esta altura, não é possível vislumbrar algo muito melhor. Não existe essa sinalização.

Falar em G-4, em acesso e, principalmente, em título destoa muito da realidade. No cenário atual, a maior preocupação do Cruzeiro parece ser, de fato, existir, sobreviver. Há quem diga que essa é uma ameaça tão grande (e tão real) quanto uma tenebrosa queda para a Terceira Divisão.



audima