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O que o Bayern, campeão mais uma vez, tem a nos ensinar sobre futebol

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Nove em cada 10 pessoas que lerem o título desta coluna logo vão para o lugar-comum de dizer que o grande trunfo do multicampeão Bayern de Munique está no cofre: os milhares de euros que entram no caixa bávaro são, para muita gente, o que faz do time a potência que ele é. Mas a resposta à questão não se resume ao dinheiro, pode acreditar.



Afinal, há vários exemplos pelo mundo de que dinheiro nem sempre garante taça – e, se for para falar em bilhões, é só lembrar do tanto que o Paris Saint-Germain tem investido nos últimos anos em busca da sonhada Liga dos Campeões, em vão. O segredo do Bayern está em outro departamento, tão importante (ou mais?) quanto o financeiro: a identidade do clube.

Essa identidade é o motor maior da engrenagem. Ela nasce em campo, no futebol. Daí se traduz em títulos e, como consequência aos inúmeros troféus, uma marca sólida, que faz jorrar milhões de euros a cada temporada.

Esse montante chega na forma de patrocínio, de marketing, de venda de jogador, de fidelização de torcedores do mundo todo, de venda de ingressos, de camisas e souvenir dos mais diversos, direitos de transmissão de campeonatos, premiações, e por aí vai.



Como existe um ciclo virtuoso de anos, a fonte não seca. É uma bola de neve, que só é possível porque há uma consciência muito forte dessa identidade.

Há uma filosofia já impregnada ao escudo. Cada um que chega tem ciência da sua missão de forma bem clara. Precisa estar comprometido com isso. Ninguém ali, por mais famoso e badalado que seja, será maior que a instituição.

Essa ideia fica bem evidente ao se visitar o museu hipertecnológico do Bayern, situado dentro da Allianz Arena. O lugar é, obviamente, uma das atrações turísticas de Munique. Uma linha de metrô deixa o visitante a poucos metros do estádio.

Dentro do museu há mais do que apenas uma centenária história catalogada. A camisa vermelha está exposta em toda a sua exuberância e, por todo lado, envergada por craques de todas as eras, do quilate de Beckenbauer, Gerd Müller, Sepp Mayer, Rummenigge, Mathäus, Oliver Kahn, Robben, Ribéry, Lahm, Schweinsteiger...



A lista é grande. Incluídos nela também estão brasileiros, como Elber (ele é adorado por lá), Jorginho e Zé Roberto, entre outros.

Esse entrelaçamento entre passado e presente tem tamanha força que torna mais palatável a dimensão do clube. O que não quer dizer que sejam sempre flores. Há pouco tempo, tivemos uma amostra disso.

A chegada de Pep Guardiola, em 2013, foi aclamada. Quem contestaria o pai do exaltado tik-taka do Barcelona? Pois a primeira temporada não foi das mais fáceis. O técnico chegou a ser criticado por ninguém menos que Beckenbauer.

O Kaiser pediu, publicamente, para que o Bayern voltasse a jogar como Bayern. Traduzindo do alemão: com a objetividade germânica.

A goleada para o Real Madrid na semifinal da Liga dos Campeões, em abril de 2014, com uma derrota humilhante por 4 a 0, em Munique, não ajudou muito. Nos bastidores, dizem que Guardiola foi contestado até por atletas da equipe.



Mas o Bayern apostou em Pep, Pep apostou no Bayern, e, mesmo tendo saído do clube sem conquistar o cobiçado título europeu, o treinador catalão tem seu nome lá, guardado na galeria dos grandes.

Guardiola viu que mais do que dar seu estilo ao time, ele tinha de se fazer parte integrante do time. Não bastava ser quem era. É isso que torna o Bayern campeão. Repetindo: ninguém é maior que a instituição.

Em campo, há um estilo de jogo consistente, em sintonia com o que é praticado pela Seleção da Alemanha e que é treinado desde as categorias de base.

E é em casa que volta e meia surge uma joia, como Thomas Müller. Mas o clube também sabe garimpar novos talentos, tem metodologia para contratações – foi buscar o ganês Davies no Canadá, praticamente um desconhecido no Velho Continente.

Para alicerçar essa mescla, conta sempre com uma espinha dorsal de respeito, amparada hoje pelas mãos seguras do goleiro Neuer, pelo vigor do zagueiro Boateng – que não jogou a final do Mundial de Clubes por causa da morte da ex-namorada – e pelo faro de gol de Lewandowski.

É por isso que é preciso olhar o Bayern por todo o contexto ao se analisar qualquer nova conquista. O troféu que o capitão ergue é o produto final de tudo isso. Vai muito além das bolas que param no fundo das redes adversárias. 

Há uma excelência incontestável. O time alemão é um predador por essência, e isso se aprende de pequeno. Está lá, no livro de regras do clube.



audima