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Se o futebol achou que ficaria à margem da COVID, errou

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O zagueiro Leo foi o terceiro jogador do Cruzeiro a testar positivo para o novo coronavírus em menos de uma semana. Antes dele, o atacante Vinícius Popó e o volante Jean foram diagnosticados com a COVID-19. Todos estavam assintomáticos quando a doença foi detectada pelo exame que é feito na Toca da Raposa II e, segundo o clube, nenhum deles teve contato com os companheiros de trabalho.



O problema é que aí está a grande armadilha desse vírus: da mesma forma com que se instala silenciosamente no organismo da pessoa, ele é passado pra frente. Sorrateiramente traiçoeiro.
 
São muitos os relatos de pacientes que não têm a menor ideia de como ou onde se deu contágio – muito menos de quantas pessoas ajudaram a entrar para a lista de infectados.

Muita gente que acreditava estar tomando todos os cuidados, mas que talvez tenha se contaminado no elevador do prédio, ou naquela ida rápida ao supermercado, ainda que paramentado de máscara e luvas.

Por isso, esse controle que os clubes de futebol se propõem a fazer para retomar as atividades não é infalível, não tem como ser. É impossível, hoje, conter a disseminação da doença. Enquanto não houver uma vacina, treinos e jogos de futebol serão como uma roleta russa.





O que clubes e federações decidiram foi lidar, na prática, com o desconhecido. Caminhar na incerteza, e assim ir construindo esta nova realidade do futebol. O ciclo, numa ótica bem otimista, seria: um funcionário do clube se contamina, é afastado, se cura e retorna ao trabalho. Sucessivamente. Para eles, um risco calculado.

Só que não há garantias de que tudo sempre vai funcionar assim. As estatísticas mostram que pessoas sem comorbidades têm maiores chances de passar pela COVID-19 assintomáticas ou com sintomas leves, sim.

O problema é o porém que vem na esteira dessas mesmas estatísticas: o risco de entrar para o outro lado da probabilidade, aquele que tem mostrado, diariamente, os casos de pessoas sem condições preexistentes que são acometidas de forma mais agressiva pelo vírus.





Não é pessimismo, alarmismo ou terrorismo. É realismo. É tomar a decisão de se expor e pagar o preço por ela. Pode ser baixo ou alto.

O Atlético tornou público, até agora, o caso Cazares. No América, o jovem Matheuzinho revelou ter pegado a COVID-19. Por enquanto, em Minas, a situação está, aparentemente, mais controlada.

O Vasco, por exemplo, iniciou os treinos presenciais nesta semana em São Januário sem 16 jogadores. Isso mesmo: 16 atletas estão afastados porque estão com o novo coronavírus. Foi notícia até no The New York Times.

O jornal norte-americano alertou, em seu artigo, a respeito da “naturalidade” com que o futebol está lidando com os infectados: “As ligas esperam ver alguns testes positivos e acreditam que o isolamento dos jogadores afetados será uma solução viável. Mas quando uma boa parte da equipe tem o vírus, o problema se torna mais grave”.





É aquela certeza abstrata que os clubes querem passar, de que está sob controle. As palavras do próprio médico do Vasco, Marcos Teixeira, denotam essa tranquilidade: “É normal este tipo de repercussão na mídia, porque se olhar no calor do momento: ‘Nossa, 16 jogadores tiveram contato’. Na verdade, isso reflete o estado do contato das pessoas frente ao coronavírus. O vírus está aqui, no estado, no Brasil e no mundo. Vai permanecer desta maneira até que haja um remédio ou vacina que leve a cura”. Simples assim.

Outro caso que chamou atenção nessa quinta-feira vem do Ceará, um dos estados que mais sofrem com o surto, até mesmo vendo o sistema de saúde colapsar, sem condição de atender todos os que precisam de tratamento mais apurado da doença.

O time do Ceará revelou estar com 17 exames positivos, sendo nove de atletas. Ao todo, 13 jogadores foram afastados das atividades, pois, além desses nove contaminados, quatro têm suspeita de contato com o vírus.





O Goiás foi outro a mostrar que a esta altura não tem como passar imune à pandemia: dos 60 funcionários testados, foram constatados oito positivos para a doença, entre eles três jogadores.

O clube esmeraldino informou ter gastado mais de R$ 30 mil na aquisição dos testes – e aqui vale uma reflexão e uma constatação deste abismo financeiro e social que a COVID-19 evidencia, dentro e fora das quatro linhas: quantos times terão condição de fazer esse “controle” sistemático por meio de testes no Brasil? Ou em Minas Gerais mesmo? E quando (ou se) começarem os jogos? São muitas as perguntas e poucas as respostas.

audima