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Veja os cinco clichês que o Flamengo de Jorge Jesus detonou

No time rubro-negro, o treinador português vem desmistificando velhas verdades do futebol brasileiro


postado em 25/10/2019 04:00 / atualizado em 24/10/2019 21:54

Jorge Jesus chegou ao Flamengo em junho e, em quatro meses, não só tem feito o time voar baixo como está colhendo resultados(foto: MAURO PIMENTEL/AFP)
Jorge Jesus chegou ao Flamengo em junho e, em quatro meses, não só tem feito o time voar baixo como está colhendo resultados (foto: MAURO PIMENTEL/AFP)


Desde a noite de quarta-feira não se fala em outra coisa. Jorge Jesus. Até quem não acompanha futebol deve ter ouvido esse nome alguma vez. O “Mister” domina as conversas de norte a sul do país, extrapolando até as fronteiras. Não dá para ficar alheio, fechar os olhos ou dar de ombros. É preciso reconhecer que, à frente do Flamengo, o português não só está encantando como surpreendendo. Com seu despojado terno preto e o cabelo caprichosamente desalinhado, Jesus está detonando, um a um, clichês que, nos últimos anos, vêm sustentando teses e mais teses sobre receitas do sucesso nos gramados.

Com carreira construída basicamente no futebol português e sem título de expressão no currículo, Jorge Jesus, de 65 anos, chegou ao rubro-negro no início de junho sob o signo da desconfiança. Duas semanas antes, ele acompanhou, no Independência, Atlético x Flamengo, pela quinta rodada do Campeonato Brasileiro. Rodrigo Santana dirigia o Galo interinamente. Abel Braga balançava no time carioca. A versão oficial era de que se tratava de mera visita do gringo. Mas no futebol, as maiores verdades costumam ficar na esfera extraoficial. Jesus queria trabalhar no Brasil. Pouco tempo antes, havia sido oferecido ao alvinegro. Bem, o que ocorreu depois disso a gente já sabe.

No rubro-negro, ele vem desmistificando velhas verdades, quase num efeito dominó. Cai uma peça após a outra. Argumentos que eram usados por treinadores brasileiros e até por nós, da imprensa, já não podem ser defendidos com tanta veemência, ou, pelo menos, têm merecido uma segunda reflexão.

O primeiro deles é o de que treinador estrangeiro não dá certo no Brasil. Os que vingaram são apontados sempre como exceção à regra – e talvez até Jesus acabe enquadrado nessa definição, pois a amostragem ainda aponta para uma minoria bem-sucedida. A justificativa mais comum para isso é que os clubes não dão tempo para o forasteiro se familiarizar com a nova rotina, os novos costumes, a cultura diferente. A cobrança por resultados, dizem, sufoca, abrevia trabalhos. Pois, em apenas quatro meses, Jesus está levando o Flamengo ao título brasileiro (a esta altura, alguém duvida?) e o garantiu de volta à final da Copa Libertadores depois de 38 anos. Eis os resultados.

Outro paradigma é o do planejamento. Entende-se (e a colunista aqui se inclui no rol dos que acreditam nisso) que projetos vencedores são os de longo prazo, com a formação do time pelo menos no começo do ano para dar tempo para 'azeitar' a máquina, estabelecer uma espinha dorsal. Olha o Flamengo, forjado ao longo da temporada, rindo na cara da gente! Dos 11 titulares na última partida, nada menos que oito chegaram ao clube neste ano: os zagueiros Pablo Marí e Rodrigo Caio, os laterais Rafinha e Filipe Luís, o volante Gerson, o armador De Arrascaeta e os atacantes Bruno Henrique e Gabriel. Mas quatro deles foram contratados após o Mister: Rafinha, em 9 de junho; Marí, em 11 de julho; Gerson um dia depois; e Filipe Luís no dia 23 do mesmo mês.

Isso nos leva a outro chavão do futebol: de que jogadores vindos do exterior precisam de tempo para se (re)adaptar ao futebol brasileiro. Com Filipe Luís, Rafinha, Gerson e Marí não foi assim. E esse é mais um dos aspectos que impressionam no Flamengo de Jorge Jesus: como o time deu liga tão rapidamente, como as peças se encaixaram perfeitamente. O quebra-cabeças se completou.

Teoria que também cai por terra é a que reza sobre a dificuldade de administrar egos em um grupo com astros. Nisso Jesus também tem dado aula. O Flamengo contratou tanto que parecia que teria um time kamikaze. Afinal, só do meio para a frente conta com Gerson, Diego, Éverton Ribeiro, De Arrascaeta, Gabriel, Bruno Henrique... É escalar todo mundo e deixar a equipe aberta ou lidar com uma potencial insatisfação de quem não tem lugar cativo. O treinador não só tem conseguido gerir as vaidades como explorar o potencial de cada um deles dentro de um estilo de jogo coletivo.

O quinto clichê implodido foi o de que é impossível manter o alto nível de atuação disputando competições simultaneamente. Que é preciso poupar jogadores em véspera de duelos decisivos. Que a maratona de jogos tira a intensidade do time. Com Jesus não, e aqui vale a explicação do próprio português: “A minha cultura não é essa. Descansar? Isso não existe. Vão descansar os dias que a gente tem. Agora, se tivermos jogadores com sinais de risco de lesão é outra coisa. Por estar cansado? Os outros também estão cansados, os outros também jogam”.

Não é preciso acrescentar mais nada. A campanha do Flamengo neste segundo semestre, a alta rotação em campo, a velocidade, o jogo vertical, tudo isso fala por si. Fazendo jus ao nome, Jesus tem feito milagres, multiplicado pães e peixes, transformado água e vinho. Os rubro-negros dizem amém.


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