Jornal Estado de Minas

JUVENTUDE REVERSA

Deboche a universitária com 40+ gera revolta. Basta de etarismo!


O nosso país vai se tornando cada vez mais grisalho, mas o desrespeito contra a pessoa idosa ainda é um grande problema a ser resolvido. Acredito que muitos de vocês tenham assistido a um vídeo que viralizou, em 10 de março 2023, em que três alunas de biomedicina da Unisagrado, Bauru (SP), zombam de uma colega de classe por ela ter 40 (quarenta) anos. O diálogo dessas estudantes é vergonhoso pelo desrespeito e pela falta de empatia:

Estudante 1: "Gente, quiz do dia: como 'desmatricula' um colega de sala?". 




Estudante 2: "Mano, ela já tem 40 anos já. Era para estar aposentada". 
Estudante 3: “Realmente”.
Estudante 1: "Gente, 40 anos não pode mais fazer faculdade. Eu tenho essa opinião". 
Estudante 2: "Não sabe o que é Google".
Estudante 3: "Ela acha que Google é a professora".
Pobres jovens adultas, como podem em pleno ano de 2023 não entenderem a importância da inclusão e da igualdade entre pessoas de diferentes identidades? Vocês precisam se conscientizar de que a idade também está incluída na luta contra as discriminações identitárias, ao lado do gênero, da raça, da orientação sexual, da capacidade etc. A discriminação pela idade chama-se “ETARISMO”!  É dever de cada um de nós, cidadãos, contribuir para o combate â violência contra as pessoas idosas e não aceitá-la como sendo normal! 

Perceber a discussão sobre o idoso nas mídias tradicionais e sociais, nessa última semana, é uma das vitórias a serem celebradas. Termos como “etarismo”, “ageísmo”, “idatismo” e “velhofobia” entraram nas pautas das mídias tradicionais e constaram nos Trending Topics das mídias sociais devido a repercussão desse vídeo infame.  Para os não familiarizados com esses termos, saibam que “etarismo” deriva de “etário”, e, como já foi dito, refere-se ao preconceito ou discriminação baseados na idade, atingindo qualquer faixa etária, dos mais jovens aos mais idosos. “Velhofobia” é um termo que descreve não só os preconceitos, estigmas e tabus associados ao envelhecimento, como também o pânico de envelhecer. 

A violência contra a pessoa idosa pode assumir tanto a forma física quanto patrimonial, psíquica, restritiva de liberdade, financeira, entre outras. No Brasil, com quase um quinto da população brasileira composta por pessoas com 60 anos ou mais, entre janeiro e 3 de junho de 2022 houve 35.017 denúncias de violações de direitos humanos contra pessoas idosas em todo o País. A média é de 227 denúncias reportadas por dia. A violência contra pessoas com idade acima de 60 anos representa 22% de todas as 154.916 denúncias de violações registradas pela Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos (número total que engloba também as discriminações contra mulher, criança, adolescente, morador de rua, população LGBTQIA e pessoa portadora de deficiência). 



É com pequenas conquistas que nós - a sociedade- conseguiremos mudar mentalidades e derrubar os preconceitos, que são muitos.  Todos envelhecemos, todos nós, sem exceção. Não temos escolha, não há como parar o tempo. E sonhos não envelhecem!

Porque se chamava moço
Também se chamava estrada
Viagem de ventania
Nem lembra se olhou pra trás
Ao primeiro passo, aço, aço
Porque se chamavam homens
Também se chamavam sonhos
E sonhos não envelhecem
Em meio a tantos gases
Lacrimogênios
Ficam calmos, calmos, calmos
E lá se vai mais um dia
E basta contar compasso
E basta contar consigo
Que a chama não tem pavio
De tudo se faz canção
E o coração
Na curva de um rio, rio
E lá se vai mais um dia
E o Rio de asfalto e gente
Entorna pelas ladeiras
Entope o meio fio
Esquina mais de um milhão
Quero ver então a gente
Gente, gente, gente, gente, gente, gente
Gente, gente, gente, gente, gente, gente
E lá se vai

(Composição de Milton Nascimento, Lô Borges e Márcio Borges)