Jornal Estado de Minas

JUVENTUDE REVERSA

De baby boomers à geração Z, um público de alto consumo tecnológico

Estudos da @Kantar, empresa líder mundial em dados, insights e consultoria, apontam que a geração dos “baby boomers” - a dos nascidos entre 1945 e 1964 - fica mais tempo navegando na internet do que a geração X, daqueles nascidos entre 1965 e 1980, e a Y, dos nascidos entre 1981 e 1999. Os“baby boomers” passam 3 horas e 48 minutos na internet por dia, deixando atrás apenas os brasileiros nascidos até 2010, chamados de geração Z. Trata-se de um público consumidor enorme, porém apenas 30% das empresas estão planejando ações voltadas especificamente para o público 60+, segundo pesquisa feito pela Economist Intelligence Unit (EIU), divisão de pesquisa e análise do jornal The Economist.




 
São mais de 30 milhões de brasileiros acima de 60 anos que usam a internet para diversas atividades, tais como comunicação, pagamento de contas, compra de produtos em sites de comércio eletrônico, entre outras. A pandemia popularizou a comunicação em videochamada por meio de ferramentas como WhatsApp, Zoom ou Teams. A tecnologia auxilia os usuários na obtenção e análise de dados em tempo real para acompanhamento do comportamento da pandemia. Os aplicativos para smartphones tornaram-se o maior canal de transações com os bancos, sendo possível utilizar a maioria dos serviços bancários sem nenhuma interferência de atendentes. O processo de compra on-line, por exemplo, indica a necessidade de se promoverem ajustes das funcionalidades de modo a torná-las mais adequadas e acessíveis ao público idoso. 
 
As interfaces digitais - elementos visuais e sonoros – continuam sendo desenhadas com base nas necessidades do público mais jovem. Por conseguinte, muitos aparelhos apresentam características que os transformam em barreiras para o público idoso, como contraste inadequado e idiomas estrangeiros. O inglês se espalha rapidamente e chega ao léxico dos jovens com muita facilidade, trazendo novos vocabulários que  acabam por dificultar  a interação de pessoas com 60 anos ou mais com a tecnologia.
 
Um levantamento da British Council, organização internacional do Reino Unido para relações culturais e oportunidades educacionais, mostrou que apenas 5% da população brasileira sabe se comunicar em inglês.  
 
Às vezes, palavras empregadas no âmbito anglo-saxão são mantidas em sua forma original nos serviços utilizados em nossa língua. Não traduzimos e-mail (correio eletrônico), smartphone (telefone inteligente), mouse (rato) ou startup (para referenciarmos as pequenas empresas que estão promovendo novas ideias, especialmente no campo tecnológico). O que significam expressões como “cookie”, “emoji”, “tela touch”, “Excel” ou “Power Point”? A barreira da língua transforma o uso das ferramentas e dos aplicativos em ações cegas de tentativa e erro. Se o idoso não fizer um uso constante da ferramenta, a tendência é que esqueça o que foi aprendido. De fato, não há como traduzir muitas dessas expressões, mas é possível criar representações visuais e símbolos, como fotos, desenhos, filmes e gráficos, os quais, uma vez universalizados, seriam de fácil identificação em qualquer língua. 




 
Muito precisa ser feito para melhorar o acesso dos idosos às tecnologias. Mais do que buscar o avanço tecnológico dos serviços ofertados, a equidade na sua utilização deveria constituir-se em meta principal. O setor produtivo precisa compreender e acompanhar as especificidades cognitivas do público maduro, para incorporá-lo definitivamente ao mercado tecnológico. Cabe, ainda, ao Poder Público despertar para essa necessidade, promovendo políticas públicas que aproximem os idosos das tecnologias de ponta, para que o uso das ferramentas faça parte do cotidiano de todos. Somente assim a cidadania digital será efetiva, permitindo a integração total da sociedade no mundo do futuro.