Jornal Estado de Minas

JUVENTUDE REVERSA

Até quando iremos circular em nossas cidades sem tropeçar ou cair?



“Temos que debater o futuro das cidades que queremos, cidades mais inclusivas com políticas voltadas a garantir o direito dos cidadãos”, apontou a presidente da FNA - Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas, Eleonora Mascia na abertura do 27º UIA2021 RIO - Congresso Mundial de Arquitetos, na manhã do dia 18 de julho na cidade do Rio de Janeiro.



De forma virtual em decorrência da pandemia, a cerimônia de abertura demonstrou a preocupação com o desenvolvimento de cidades mais inclusivas e conscientes quanto ao meio ambiente e à diversidade.

Para saber como será o Brasil num futuro próximo, visite Copacabana, bairro com considerável população idosa. O que já acontece em Copacabana - basta ver seu calçadão repleto de “jovens” aposentados - é semelhante ao que acontecerá ao Brasil a partir de 2030, onde teremos a quinta maior população de idosos do mundo, segundo o IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Outra semelhança do calçadão de Copacabana com o resto do país é o pavimento inadequado ou com técnica mal executada. O mosaico português de seu calçadão, tal como o nome indica, é originário de Portugal, mas lá existem os calceteiros, trabalhadores especializados em calçar as pedras em forma de mosaicos, o que não ocorre aqui.

Na Avenida Paulista em São Paulo, até 2007, também havia os mosaicos portugueses que foram substituídos por pisos de concreto. Penso que um dos motivadores dessa substituição deva ser as mulheres em seus saltos agulhas se equilibrando nos cubos de pedra irregulares e quebrando os saltos. 



As nossas calçadas são estreitas e frequentemente têm degraus, buracos, poças e muitas parecem que foram ensaboadas quando chove. É uma peleja para idosos, carrinhos de bebê e pessoas com deficiências, assim como para todos os outros cidadãos circularem livremente pelas cidades, sem um tropeço ou queda. Isso nos faz lembrar que sim, vivemos num país subdesenvolvido. Um desrespeito. Quando viajamos para o dito “primeiro mundo” notamos a gentileza que as calçadas proporcionam para as cidades. Quando estamos fazendo turismo ou a trabalho, admiramos as paisagens sem precisar estar de olho no chão.

Como não haverá regresso à normalidade tal e qual a vivíamos antes da pandemia, cabem às prefeituras e à sociedade tornarem as nossas calçadas inclusivas para propiciar autonomia e conforto para todas as pessoas. Uma opção saudável, agradável e mais convidativa para todos os moradores se relacionarem, levando em conta aspectos de segurança, iluminação, superfícies permeáveis, drenagem natural de águas pluviais, pavimentação adequada e manutenção constante.

Para essa transformação urbana deixar de ser uma aventura ao caminhar, precisa-se aplicar ferramentas de placemaking, termo que pode ser traduzido para o português como “fazer lugares”, sendo as pessoas as principais protagonistas da ação. Um projeto para promover boas condições de calçadas, priorizar o pedestre e espaços de convivência, dentre outros. 



Os parklets são boa alternativa de humanização das cidades (foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press)


Penso que essa transformação até já tenha começado ao me deparar com “minipraças”, ocupando algumas vagas de carros, em frente de algum restaurante ou bar. É bárbaro ver as pessoas desfrutando desse espaço, o chamado parklet. Quando bem projetados, são atrativos e além de servirem de espera para os estabelecimentos, servem para fazermos refeições rápidas, batermos papo e para recarregarmos o celular.

Precisamos adaptar o espaço urbano ao envelhecimento da população e refazê-lo levando em consideração as limitações e necessidades de forma inclusiva, removendo obstáculos e criando oportunidades.

audima