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Estado de Minas JAECI CARVALHO

Torcedores, digam não à volta do futebol neste momento

É inadmissível pensarmos em jogos, quando há filas de corpos à espera do enterro em covas coletivas, sem que haja velório dos parentes e amigos


postado em 13/05/2020 04:00

Diretor de futebol do Atlético até o fim de fevereiro, Rui Costa fui um dos responsáveis por contratações que deram prejuízo ao clube(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press %u2013 30/1/20)
Diretor de futebol do Atlético até o fim de fevereiro, Rui Costa fui um dos responsáveis por contratações que deram prejuízo ao clube (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press %u2013 30/1/20)

 
Os clubes brasileiros estão loucos para voltar a jogar futebol. Não se importam se há dezenas de milhares de mortos no Brasil ou se o pico da pandemia do coronavírus ainda não chegou. O Atlético, cujo CT fica em Vespasiano, outro município, já se apresentou. A Prefeitura de Belo Horizonte, com muita responsabilidade, já disse que não haverá futebol enquanto não houver segurança para a população e uma determinação das autoridades médicas e sanitárias. Se eu fosse jogador de futebol, bateria o pé e não me apresentaria. É inadmissível pensarmos em jogos, quando há filas de corpos à espera do enterro em covas coletivas, sem que haja velório dos parentes e amigos. Porém, como a humanidade é egoísta e está se lixando para o próximo, é assim que está funcionando.

Estou gostando da determinação de Sampaoli em trabalhar com, no máximo, 25 jogadores. É assim que deve ser. Em 2005, quando Vanderlei Luxemburgo treinava o Real Madrid, fiquei lá três meses, recebido por ele, Ronaldo Fenômeno e Roberto Carlos. Todos os dias eu acompanhava os treinamentos do time merengue e percebi que lá se trabalhava com 19 jogadores. Sim, 19, sendo que alguns das divisões de base. É a cultura europeia. No Brasil, não. Os dirigentes contratam 800 jogadores a cada temporada, isso para usar uma hipérbole (figura de linguagem), e vão inflacionando a folha e deixando o clube quebrado. Vejam quantos engodos o Atlético está dispensando agora – custam uma fortuna e foram contratados de forma equivocada.

Os clubes europeus também erram nas contratações. O Barcelona, por exemplo, pagou uma fortuna para ter Philippe Coutinho, que não deu e não dará em nada. Jogadorzinho comum, que Tite acha que é craque. Portanto, não culpo uma ou outra contratação equivocada, mas várias é realmente incompetência. Alexandre Gallo e Rui Costa são os grandes responsáveis pelo prejuízo que o Atlético está tendo. Será que vão ressarcir o clube? É melhor eu contar a piada do papagaio. Esses caras não estão nem aí. Rui Costa foi acusado, numa reportagem num site de um jornalista de São Paulo, de fazer negociação com seu irmão e empresários. Isso virou uma prática imoral e corrupta no futebol brasileiro. Ontem, numa live com meu amigo Luiz Ceará, um dos grandes jornalistas de esporte do país, ele deu nome a um diretor de futebol que, segundo ele, é “ladrão”. Por isso eu pergunto: para que os clubes de futebol precisam de um diretor? Por que o próprio presidente, ou o vice, não negociam diretamente com seus pares e tornam públicos os valores da negociação? Os clubes são dos torcedores e não dos dirigentes. Portanto, eles têm o direito de saber o que foi gasto, onde foi gasto e quanto foi gasto.

O Flamengo só deu certo quando mandou embora Rodrigo Caetano, que ganhava R$ 250 mil mensais, e deixou as contratações por conta do vice de futebol eleito, Marcos Braz. É ele quem contrata, quem negocia, quem vende. Não tem chaveco nem tramoia. O torcedor fica sabendo os valores reais e o Flamengo vai levantando taças. E olha que Rodrigo Caetano tem ótima reputação, um cara sério. Porém, os clubes não precisam de diretores de futebol, a não ser que sejam eleitos e não remunerados, como sempre foi no passado. Lembro do Atlético com Telê Santana de técnico. O homem forte do futebol era Marcelo Guzella, reto, correto e conhecedor de futebol. E temos tantos exemplos país afora. Eu me lembro do troca-troca, em 1975, entre os presidentes do Fluminense, Francisco Horta, e do Flamengo, Hélio Maurício. O Flu deu o goleiro Roberto, o lateral Toninho Baiano e o ponta Zé Roberto e pegou o goleiro Renato, o lateral Rodrigues Neto e o atacante Doval. Simplesmente, os dirigentes pegaram o telefone e fizeram a negociação, anunciando para todos. Querem mais transparência do que isso? Hoje, os tais diretores de futebol negam informações e escondem valores, dizendo que a cláusula do contrato é confidencial. Não pode haver confidencialidade num negócio feito entre clubes, cujos donos são os torcedores. O clube só tem razão de existir por sua torcida. Sem ela, vários já sumiram do mapa.

Sampaoli é argentino, mas já trabalhou na Europa. Lá, os técnicos são managers. Há um diretor esportivo, espécie de CEO, mas quem determina quem deve ser ou não contratado é o técnico. Você não ouve falar que diretores esportivos na Europa dividem comissões de negociações com empresários. A não ser que algum do Brasil vá trabalhar por lá e implante essa prática imoral e ilegal. Os clubes brasileiros, com raras exceções, estão quebrados. Dizer que é por causa do coronavírus é uma vergonha. Estão quebrados por gestões ineficientes ou fraudulentas. Já vimos dirigentes sendo denunciados, como aquele tal Edmundo Santos Silva, do Flamengo, Miguel Aidar, do São Paulo, Wagner Pires, do Cruzeiro. Todos acusados de negociações fraudulentas. Esses foram descobertos com a boca na botija. Temos uma geração séria e boa em alguns clubes de uns tempos para cá e isso precisa vigorar em todos os times brasileiros. Dirigentes transparentes, que voltem a negociar entre eles, com lisura e divulgação da negociação. Porém, vai aqui um lembrete: num futebol falido, quebrado e sem jogadores de talento, é cada vez mais importante se investir nas divisões de base. É a única solução, ainda que a médio prazo, para voltarmos a formar grandes jogadores e evitar essas negociações esdrúxulas, que vivem dando prejuízos aos clubes brasileiros sem nenhuma responsabilidade fiscal dos dirigentes. E, para fechar, que o futebol só volte com segurança médica e sanitária. Na Europa, eles estão com três meses à nossa frente no combate ao coronavírus. Por essas bandas, o pico da pandemia ainda nem chegou. Mais amor ao próximo e menos veneração ao dinheiro.


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