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Estado de Minas COLUNA DO JAECI

Não é apenas o coronavírus que está quebrando os clubes de futebol

Os clubes já enfrentavam situação financeira delicada antes da pandemia. Alguns já estavam quebrados por total irresponsabilidade de seus dirigentes


postado em 03/05/2020 04:00

Para fazer média com a torcida, o presidente do Fluminense prefere contratar Fred, ainda que não tenha dinheiro(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Para fazer média com a torcida, o presidente do Fluminense prefere contratar Fred, ainda que não tenha dinheiro (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
 
 
Chegamos ao mês de maio e a pandemia do coronavírus avança no Brasil, de forma letal e cruel, matando inocentes, sem deixar que seus parentes os velem, com covas coletivas e enterros de dia e de noite. Cenas inimagináveis, que o mundo está vivendo por conta desse inimigo cruel, invisível e mortal. Os que diziam que era apenas “uma gripezinha, um resfriadinho”, devem estar arrependidos. A coisa é séria e a única forma de controlar é o isolamento social. Ficou provado isso nos países onde isso prevaleceu.

No futebol, os clubes vivem seu pior momento, culpa da desorganização de anos. Não é apenas o coronavírus que está quebrando os clubes. De jeito nenhum. Eles estavam quebrados bem antes da pandemia, pela irresponsabilidade de dirigentes, que pagam R$ 1 milhão, ou mais, a técnicos e jogadores, pela falta de criatividade, pelo péssimo investimento nas divisões de base – com gente inexperiente e incompetente trabalhando lá –, pelas contratações esdrúxulas e equivocadas, para não dizer venais, em alguns casos. Esse conjunto de fatores deixou a maioria dos clubes de pires na mão, reféns da TV, que tem os direitos dos campeonatos, mendigando antecipação de cotas.

Eu pensei que com essa pandemia os dirigentes fossem repensar o futebol e tratá-lo com mais humanidade e decência. Porém, me enganei. Vi, na quinta-feira, várias notícias de clubes demitindo funcionários para enxugar a folha. Entretanto, como diz o velho ditado, “a corda sempre arrebenta no lado mais fraco”. Eles demitiram faxineiros, cozinheiros, gente mais humilde, que deve ganhar R$ 1.040, esse salário-mínimo vergonhoso e de fome. Não vi nenhum dirigente demitir jogadores que ganham fortuna e que não justificam em campo. O Fluminense, por exemplo, mandou gente embora, mas manteve Nenê e Ganso, dois jogadores que ganham muito e produzem pouco, e fala em contratar Fred, outro cara que custa caro e que foi eleito para as duas piores seleções da década, em Atlético e Cruzeiro.

É dessa irresponsabilidade que eu falo. Para fazer média com a torcida, o presidente do Flu prefere contratar Fred, ainda que não tenha dinheiro para pagar o salário, e demitir o funcionário humilde. Gestões como essa são terríveis para os clubes e para o nosso futebol. Quando tinha o apoio de Celso Barros, dono da Unimed, o Flu nadava em dinheiro e foi bicampeão brasileiro em 2010 e 2012. Bastou Barros sair para a coisa degringolar e o clube viver essa situação pré-falimentar. Futebol não se faz com mecenas e sim com seriedade, transparência e eficácia. Gerir um clube de futebol não é como gerir uma propriedade da família.

A maioria dos clubes está reduzindo os salários dos jogadores e técnicos em 25%. É justo. Mas é preciso dizer também que os jogadores não têm culpa de ganharem muito. A culpa é de quem paga, de quem contrata, do sistema. Acho que salário é coisa particular e cada um ganha o que merece. Porém, no Brasil, os salários são fora de realidade econômica e do povo. Dirigentes, irresponsáveis, pagam salários de Europa, numa economia de quinto mundo, quebrada, com o dólar disparado, e o trabalhador ganhando esse salário-mínimo de fome. Por que os clubes não demitem os diretores de futebol, que nada acrescentam e, alguns, segundo acusações de torcedores e jogadores, fazem rachadinha com empresários? Segundo consta, eles ganham altos salários e essa redução, com certeza, ajudaria os clubes. Mesmo porque, não haverá negociações, com os clubes quebrados, devendo salários. Copiem o Flamengo, onde o vice eleito, Marcos Brás, é quem negocia jogadores. Ele não é remunerado e trabalha realmente pelo clube.

Curiosamente, não vi a classe política reduzir seus salários nesta crise. O povo brasileiro precisa entender uma coisa: políticos são nossos empregados. Nós que pagamos os salários deles. Parem de tratar políticos como celebridades, pois eles não são. E a gente vê que uma boa parte entra na política para roubar e ficar rica. Peguem os casos no Congresso Nacional, já confirmados. E essa rachadinha na política, que é imoral e um crime. É sabido que alguns deputados, vereadores e senadores contratam funcionários e dividem com eles o salário prometido. Se o cara ganha R$ 10 mil, R$ 5 mil fica para o político corrupto. Isso é crime, mas já vi políticos honestos, dizendo, que é uma prática em quase todo o país. Cabe a Polícia Federal identificar esses canalhas e condená-los à cadeia. E caberá aos políticos honestos, afastar esses corruptos.

Gente, é simples: peguem o patrimônio do cara, antes de entrar na política, e vejam como ele vive hoje. Tem gente que frequentava o bar do “Zé” e hoje frequenta Fasano. Com o dinheiro roubado, é claro. A PF está em cima e vai pegar esses ratos. Aliás, numa entrevista que fiz com o senador Romário, tendo o cinegrafista Amir de companheiro, perguntei ao Baixinho o que aconteceria se jogássemos um queijo, com uma ratoeira, no Congresso Nacional. Ele respondeu: “Vai ter muito rato comendo o queijo e poucos serão os políticos que não cairão nessa ratoeira”. Esse é o Brasil onde analfabetos – já que os políticos não têm interesse em educar a população – enaltecem esses vermes.

O futebol só é um mundo à parte na questão do pagamento irreal de salários. No mais, é fruto de uma sociedade desorganizada, falida e quebrada economicamente. Tem dirigente que entra no clube pobre e sai rico. Lembro-me quando a ISL entrou no Flamengo, e o presidente Edmundo Santos Silva foi preso por supostos desvios na verba destinada ao clube, cerca de 80 milhões de dólares. Ao ser preso, ele declarou: “estão me tratando como um bandido comum”. Ele tinha razão. Alguém que é suspeito de se apropriar de uma fortuna dessas, não pode mesmo ser um bandido comum.

E assim caminha o futebol brasileiro, das falcatruas, das mentiras, dos conchavos, dos desmandos. E o torcedor anônimo, aquele que paga seu ingresso, acreditando nesses caras. Ainda tenho esperança de que quando a pandemia do coronavírus acabar, possamos ter dirigentes mais conscientes e um futebol mais barato, mais competente e com mais qualidade. Esse modelo atual não serve e não presta. Atende a pequenos grupos e não ao torcedor, que é a verdadeira razão do esporte bretão existir. Como diria o saudoso Cafunga: “no Brasil, o errado é que está certo”. Ele dizia isso na década de 1980, e, de lá para cá, nada mudou.

MUITA GENTE VAI MORRER

Voltar o futebol agora, em pleno pico da pandemia do coronavírus, é dar um tiro no coração. Muita gente vai morrer. O isolamento social deveria ser mantido, para salvar vidas. Se não tivermos futebol nesta temporada, será triste, mas, pior ainda é perder vidas se houver uma irresponsabilidade por uma volta prematura. Não brinquem com o coronavírus e nem sigam determinações de políticos ditatoriais, que fazem lavagem cerebral no povo ignorante e humilde. Ficar em casa é o melhor remédio. Cuide de você, de sua família, do próximo. O futebol, se voltar, só pode ser com autorização das autoridades médicas e sanitárias. Caso contrário, nada feito!


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