Jornal Estado de Minas

COLUNA DO JAECI

Não é apenas o coronavírus que está quebrando os clubes de futebol

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Chegamos ao mês de maio e a pandemia do coronavírus avança no Brasil, de forma letal e cruel, matando inocentes, sem deixar que seus parentes os velem, com covas coletivas e enterros de dia e de noite. Cenas inimagináveis, que o mundo está vivendo por conta desse inimigo cruel, invisível e mortal. Os que diziam que era apenas “uma gripezinha, um resfriadinho”, devem estar arrependidos. A coisa é séria e a única forma de controlar é o isolamento social. Ficou provado isso nos países onde isso prevaleceu.



No futebol, os clubes vivem seu pior momento, culpa da desorganização de anos. Não é apenas o coronavírus que está quebrando os clubes. De jeito nenhum. Eles estavam quebrados bem antes da pandemia, pela irresponsabilidade de dirigentes, que pagam R$ 1 milhão, ou mais, a técnicos e jogadores, pela falta de criatividade, pelo péssimo investimento nas divisões de base – com gente inexperiente e incompetente trabalhando lá –, pelas contratações esdrúxulas e equivocadas, para não dizer venais, em alguns casos. Esse conjunto de fatores deixou a maioria dos clubes de pires na mão, reféns da TV, que tem os direitos dos campeonatos, mendigando antecipação de cotas.

Eu pensei que com essa pandemia os dirigentes fossem repensar o futebol e tratá-lo com mais humanidade e decência. Porém, me enganei. Vi, na quinta-feira, várias notícias de clubes demitindo funcionários para enxugar a folha. Entretanto, como diz o velho ditado, “a corda sempre arrebenta no lado mais fraco”. Eles demitiram faxineiros, cozinheiros, gente mais humilde, que deve ganhar R$ 1.040, esse salário-mínimo vergonhoso e de fome. Não vi nenhum dirigente demitir jogadores que ganham fortuna e que não justificam em campo. O Fluminense, por exemplo, mandou gente embora, mas manteve Nenê e Ganso, dois jogadores que ganham muito e produzem pouco, e fala em contratar Fred, outro cara que custa caro e que foi eleito para as duas piores seleções da década, em Atlético e Cruzeiro.

É dessa irresponsabilidade que eu falo. Para fazer média com a torcida, o presidente do Flu prefere contratar Fred, ainda que não tenha dinheiro para pagar o salário, e demitir o funcionário humilde. Gestões como essa são terríveis para os clubes e para o nosso futebol. Quando tinha o apoio de Celso Barros, dono da Unimed, o Flu nadava em dinheiro e foi bicampeão brasileiro em 2010 e 2012. Bastou Barros sair para a coisa degringolar e o clube viver essa situação pré-falimentar. Futebol não se faz com mecenas e sim com seriedade, transparência e eficácia. Gerir um clube de futebol não é como gerir uma propriedade da família.



A maioria dos clubes está reduzindo os salários dos jogadores e técnicos em 25%. É justo. Mas é preciso dizer também que os jogadores não têm culpa de ganharem muito. A culpa é de quem paga, de quem contrata, do sistema. Acho que salário é coisa particular e cada um ganha o que merece. Porém, no Brasil, os salários são fora de realidade econômica e do povo. Dirigentes, irresponsáveis, pagam salários de Europa, numa economia de quinto mundo, quebrada, com o dólar disparado, e o trabalhador ganhando esse salário-mínimo de fome. Por que os clubes não demitem os diretores de futebol, que nada acrescentam e, alguns, segundo acusações de torcedores e jogadores, fazem rachadinha com empresários? Segundo consta, eles ganham altos salários e essa redução, com certeza, ajudaria os clubes. Mesmo porque, não haverá negociações, com os clubes quebrados, devendo salários. Copiem o Flamengo, onde o vice eleito, Marcos Brás, é quem negocia jogadores. Ele não é remunerado e trabalha realmente pelo clube.

Curiosamente, não vi a classe política reduzir seus salários nesta crise. O povo brasileiro precisa entender uma coisa: políticos são nossos empregados. Nós que pagamos os salários deles. Parem de tratar políticos como celebridades, pois eles não são. E a gente vê que uma boa parte entra na política para roubar e ficar rica. Peguem os casos no Congresso Nacional, já confirmados. E essa rachadinha na política, que é imoral e um crime. É sabido que alguns deputados, vereadores e senadores contratam funcionários e dividem com eles o salário prometido. Se o cara ganha R$ 10 mil, R$ 5 mil fica para o político corrupto. Isso é crime, mas já vi políticos honestos, dizendo, que é uma prática em quase todo o país. Cabe a Polícia Federal identificar esses canalhas e condená-los à cadeia. E caberá aos políticos honestos, afastar esses corruptos.

Gente, é simples: peguem o patrimônio do cara, antes de entrar na política, e vejam como ele vive hoje. Tem gente que frequentava o bar do “Zé” e hoje frequenta Fasano. Com o dinheiro roubado, é claro. A PF está em cima e vai pegar esses ratos. Aliás, numa entrevista que fiz com o senador Romário, tendo o cinegrafista Amir de companheiro, perguntei ao Baixinho o que aconteceria se jogássemos um queijo, com uma ratoeira, no Congresso Nacional. Ele respondeu: “Vai ter muito rato comendo o queijo e poucos serão os políticos que não cairão nessa ratoeira”. Esse é o Brasil onde analfabetos – já que os políticos não têm interesse em educar a população – enaltecem esses vermes.



O futebol só é um mundo à parte na questão do pagamento irreal de salários. No mais, é fruto de uma sociedade desorganizada, falida e quebrada economicamente. Tem dirigente que entra no clube pobre e sai rico. Lembro-me quando a ISL entrou no Flamengo, e o presidente Edmundo Santos Silva foi preso por supostos desvios na verba destinada ao clube, cerca de 80 milhões de dólares. Ao ser preso, ele declarou: “estão me tratando como um bandido comum”. Ele tinha razão. Alguém que é suspeito de se apropriar de uma fortuna dessas, não pode mesmo ser um bandido comum.

E assim caminha o futebol brasileiro, das falcatruas, das mentiras, dos conchavos, dos desmandos. E o torcedor anônimo, aquele que paga seu ingresso, acreditando nesses caras. Ainda tenho esperança de que quando a pandemia do coronavírus acabar, possamos ter dirigentes mais conscientes e um futebol mais barato, mais competente e com mais qualidade. Esse modelo atual não serve e não presta. Atende a pequenos grupos e não ao torcedor, que é a verdadeira razão do esporte bretão existir. Como diria o saudoso Cafunga: “no Brasil, o errado é que está certo”. Ele dizia isso na década de 1980, e, de lá para cá, nada mudou.

MUITA GENTE VAI MORRER

Voltar o futebol agora, em pleno pico da pandemia do coronavírus, é dar um tiro no coração. Muita gente vai morrer. O isolamento social deveria ser mantido, para salvar vidas. Se não tivermos futebol nesta temporada, será triste, mas, pior ainda é perder vidas se houver uma irresponsabilidade por uma volta prematura. Não brinquem com o coronavírus e nem sigam determinações de políticos ditatoriais, que fazem lavagem cerebral no povo ignorante e humilde. Ficar em casa é o melhor remédio. Cuide de você, de sua família, do próximo. O futebol, se voltar, só pode ser com autorização das autoridades médicas e sanitárias. Caso contrário, nada feito!