Um grupo de conselheiros, reunido na segunda-feira em um hotel em BH, promete abrir uma assembleia para o impeachment da atual diretoria, com voto aberto dos conselheiros. O objetivo é mostrar ao torcedor quem é a favor da atual gestão e quem é contra. A eleição dos conselheiros foi suspensa pela Justiça, mas ainda cabe recurso. Não será tarefa fácil para os opositores, já que os dirigentes, acusados de corrupção e lavagem de dinheiro, não querem sair para se defender fora dos cargos. Enquanto isso, no desembarque, ontem, após mais uma derrota, os torcedores protestaram com xingamentos aos jogadores e dirigentes no aeroporto de Confins. Os únicos poupados foram o goleiro Fábio e o volante Henrique, jogadores que realmente dão sangue pelo clube e vestem a camisa com amor. Na zona de rebaixamento, sem possibilidade de sair mesmo que vença seu próximo jogo, o Cruzeiro vive a maior crise política, financeira e moral de sua gloriosa história. Dois técnicos foram demitidos. O último, Rogério Ceni, por desavença com alguns jogadores, principalmente com Thiago Neves, outro que é muito xingado pela torcida. Os jogadores têm mandado e desmandado no Cruzeiro.
O técnico Abel Braga, mesmo com a derrota para o Goiás, gostou do que viu. Disse que a “equipe se comportou bem, taticamente”. Eu vi um filme de terror. Um time que quase não chuta a gol, que erra passes de meio metro, que não incomoda o adversário. Já disse que o Cruzeiro tem a receita certa para a Segunda Divisão: três técnicos num só ano, crise entre os dirigentes e alguns ex-jogadores em atividade. Combinação explosiva. Enquanto a crise política não for resolvida, em campo as coisas só vão piorar. Ou alguém acha que será fácil o Cruzeiro vencer o Inter, sábado à noite, no Mineirão? O Inter briga por Libertadores e, ainda que remotamente, pelo título. É uma equipe bem-armada, sem dívida de salários e com os jogadores comprometidos com a camisa. O Cruzeiro é um bando em campo, com um criador de jogadas que nada cria, Thiago Neves, um jogador que ganha uma fortuna e dá prejuízo ao clube. Eu sempre disse, desde quando ele chegou, que não serviria para o clube. Porém, as duas conquistas da Copa do Brasil, que o Cruzeiro deve única e exclusivamente a Fábio, um goleiraço, que realmente tem identidade e ama o clube, mascararam a realidade. Thiago Neves, Fred, Ariel Cabral, Edílson, David e mais alguns que eu possa ter esquecido não são benquistos pela torcida azul.
E depois do Inter, haverá um confronto direto com o Fluminense, que tem três pontos a mais que o Cruzeiro, e seis vitórias contra quatro, primeiro critério de desempate. Se o Flu vencer, complicará ainda mais a vida do time azul. Pelo que tenho visto na competição, acho difícil o Cruzeiro cair, porque vejo muita gente pior. Porém, esses times que eu considero piores estão vencendo e o time da Toca da Raposa permanece estacionado em 19 pontos. Faltam 16 rodadas, mas a cada uma que passa o desespero vai aumentando. Se deixarem chegar no fim do campeonato para tentar sair do Z-4, com cinco ou seis rodadas a disputar, não dará mais tempo. A queda, pela primeira vez na história do clube, será inevitável. E se por acaso a queda não acontecer, que se vire a página e o clube se reconstrua. O prejuízo de uma dívida de mais de R$ 500 milhões não será sanado em um, dois ou três anos. Vai levar, pelo menos, uma década. Não é simples como muitos imaginam. O clube está destruído em sua essência. Os torcedores envergonhados e as páginas policiais recheadas de notícias do Cruzeiro. Uma vergonha!
Será que esse grupo era tão ruim e a gente não enxergava? O Brasil inteiro apontava o Cruzeiro como favorito aos títulos que disputaria, e o que vimos foram eliminações vergonhosas e uma campanha ridícula no Brasileirão. Uma folha de R$ 20 milhões, atrasos de salários e brigas entre dirigentes e ex-dirigentes, com acusações de ambos os lados. Isso não leva ninguém a lugar nenhum. É hora de resolver, urgentemente, a crise política, de a Justiça dar um parecer, inocentando ou condenando os atuais mandatários, e dando uma satisfação aos mais de 9 milhões de cruzeirenses espalhados pelo mundo. Esses anônimos torcedores são os verdadeiros amantes do clube. Os que gostam de verdade, sem interesse, sem receber nada em troca. Eles querem apenas ver o clube reorganizado, no rumo certo, e, de preferência, na elite do futebol nacional. Somente Flamengo, Cruzeiro, Santos e São Paulo não caíram para a Segundona, mas o Cruzeiro segue a passos largos para esse inferno, que o torcedor nunca aceita. Se as vitórias não vierem nas próximas rodadas, a crise vai se agravar e não terá remédio. Ainda há tempo, mas ele está escasso.