Jornal Estado de Minas

TURISMO E NEGÓCIOS

MTur e Embratur: uma comparação inevitável

O primeiro mês do novo governo federal aponta as movimentações das novas lideranças do turismo. De um lado, temos a nova Ministra do Turismo, Daniela Carneiro (a Dani do Waguinho, de Belford Roxo, no Rio de Janeiro) e do outro, o novo presidente da Embratur, Marcelo Freixo. Um de um lado, e o outro, do outro, porque, pelo menos nesse primeiro mês, o que se pode ver é uma atuação estratégica da Embratur, e uma atuação politiqueira e populista do Ministério do Turismo. Aliás, por enquanto, a única bola dentro da nova ministra foi a nomeação de Marcelo Freixo para a Embratur. Por isso, uma comparação entre Ministério do Turismo e Embratur, é inevitável à essa altura.





 

Primeiramente, é preciso entender claramente o papel do Ministério do Turismo e o da Embratur. Lá nos primórdios do turismo brasileiro, em 1966, foi criada a Embratur. Naquele momento a Empresa Brasileira de Turismo, que 25 depois virou Instituto Brasileiro de Turismo, era responsável por comandar as políticas públicas de turismo no Brasil e a promoção do país. Sim, aquelas propagandas horrendas de uma onça pulando da selva e uma transição para uma mulher seminua sambando, era obra da Embratur. Que hoje, como agência do governo, trabalha arduamente (tal como todos nós brasileiros), para tirar do imaginário estrangeiro que o Brasil é uma selva perigosa, com praias e mulheres lindas disponíveis.

Nesse sentido, estamos fazendo o dever de casa. Essa imagem brasileira está cada vez mais dissipada, e temos conseguido mostrar que temos muito a oferecer aos turistas, de maneira profissional, alegre e sem apresentar um país caricato. Nesta evolução, em 2003, o governo Lula deu um grande passo, e criou o Ministério do Turismo. Foi então que pudemos ver o turismo avançar a passos largos. O Ministério do Turismo (MTur) assumiu a proposição e diretrizes da política pública do turismo, e a Embratur, desde então, responsável apenas pela promoção internacional do Brasil. Em 2006, foi lançado Programa de Regionalização do Turismo, quando em pouco tempo e uma super equipe técnica, o MTur conseguiu chegar em todos os estados, de maneira técnica.

 

As diretrizes do MTur nesse período fizeram, não só muito estados, mas muitos destinos, darem um verdadeiro salto. Parcerias com competentes empresas de consultoria e especialmente, o Estudo de Competitividade do Turismo, desenvolvido e conduzido pela Fundação Getúlio Vargas, nos deram uma nova percepção técnica da gestão do turismo no país. Era um raio X do setor em alguns municípios, e tinha (aliás, deveria ter tido) uma série histórica. Hoje, teríamos 15 anos de dados colhidos e sistematizados, em uma metodologia. Mas, ainda no governo Dilma, o estudo foi descontinuado, e depois do caos político que o Brasil vem sofrendo desde 2016, nossas políticas públicas de turismo foram só ladeira abaixo.





 

A entrada do governo Bolsonaro, com ministros que nada fizeram, e a fusão do Ministério do Turismo e da Cultura, resultaram em um grande nada para os dois setores nos últimos anos. Sem estratégia, pudemos assistir alguns poucos técnicos do MTur nadando contra a correnteza, tentando manter um mínimo de argumento técnico, que ou bem ou mal, deixaram a faísca acesa. A Embratur, sem estratégia de promoção internacional, nem interlocução com o exterior, participou de algumas feiras, para “cumprir tabela”. A pandemia, foi o pano de fundo e o argumento para que nada fosse feito. E assim, chegamos em 2023.

 

Na esperança da retomada do turismo, já sofremos o primeiro susto. No finalzinho de 2022, foi anunciada a nova Ministra do Turismo, Daniela Carneiro. Sem entrar nas questões das páginas policiais que não me competem, ela chega sem histórico nenhum no setor do turismo. Aí vem a pontinha de esperança: “quem sabe ela não estrutura uma equipe técnica competente”. Ainda não vimos nada de relevante. Muitas reuniões e fotos após o primeiro mês, recebemos a diretriz para os primeiros 100 dias. 5 eixos aleatórios para fazer os leigos escutarem o que todos gostariam que fosse verdade, mas que na prática, não passa de um discurso populista.

 

O primeiro eixo é o diálogo. O diálogo deve permear toda a gestão, não é (ou não deveria ser) um eixo estratégico, mas sim uma condição para que as políticas públicas fluam. Diálogo é meio, e não fim. O segundo eixo é a “sustentabilidade e as mudanças climáticas”, que será a criação de uma coordenação específica na estrutura do MTur para estes temas, que segundo a ministra existirá “para demonstrar a importância desse tema”. Isso é o quer queríamos ouvir? Sim! Afinal, essa abordagem está na moda. Inclusão, combate à exploração sexual e clima. Mas, o caminho não parte do discurso. A nova política do MTur deveria direcionar para esses temas tão importantes, e não ao contrário.





 

O terceiro eixo é o “Carnaval”. A pauta do momento. Nosso eterno “pão e circo”. Aqui pulamos de um eixo que depende de longo prazo, pois envolve articulação com diversos entes e mudança de comportamentos, e até mesmo de cultura organizacional, para um eixo que acontece em 4 dias. Vamos amenizar, e falar de 30 dias, incluindo planejamentos e resultados posteriores do carnaval. O quarto eixo é a “estruturação de destinos”, com a retomada de obras que estavam paralisadas, o fortalecimento do empreendedorismo feminino com foco no microcrédito, a qualificação profissional e a retomada de inciativas voltadas para o turismo acessível, e junto com a Embratur ampliar o número de turistas estrangeiros. Obviamente que todas as iniciativas são de extrema importância. Mas a estruturação de destinos, não pode ser assim, apenas elencada. O turismo funciona em cadeia, por isso, essa estruturação deve compor uma política pública mais robusta. E, lamento dizer, mas nem se constrói uma estratégia dessa em 100 dias.

 

E por fim, o último eixo que diz que “passagem barata = turista feliz”, batizado de “preço das passagens aéreas”. A gente bem que sonha em voltar a entrar no site das companhias aéreas e achar aquela passagem de R$50,00. Mas, esse é outro assunto de extrema complexidade. A construção de uma tarifa aérea é baseada em muitas variáveis, e poucas estariam em condições de negociação por parte do poder público, como a tributação e talvez, a atração de novas companhias aéreas para o país. E de preferência as “low cost”. No nosso Brasil continental temos apenas 3 companhias aéreas. Sem concorrência, dificilmente essas tarifas baixam. Mas se ela conseguir, especialmente em 100 dias, eu volto para me redimir. Aliás, torço por isso!

 

Do outro lado, temos a Embratur. Sob a gestão de Marcelo Freixo, que tem dado um verdadeiro show. Confesso que tem sido um alivio em meio a esses disparates do Ministério do Turismo. No primeiro mês, ele fez reuniões estratégicas, e pelo o que temos visto, bastante produtivas. Trouxe uma equipe técnica, conhecida e reconhecida pelo setor do turismo. Nomes que já provaram que são de extrema capacidade e competência. Hoje, dia 14 de fevereiro, já temos um dia histórico para a Embratur e para os brasileiros. A nova “Marca Brasil” será relançada, em Brasília. Relançada, porque aquela marca linda, do Brasil com “s”, colorida em formato aquarela, foi atualizada e volta a ser a “nossa cara”. O turismo brasileiro volta a ser apresentado de maneira alegre, divertida e cheia de cores. O mercado internacional poderá enxergar o Brasil, novamente, como um destino bem posicionado.

 

Mas, fica a preocupação. Conseguirá o Ministério do Turismo acompanhar a competente Embratur? Conseguirá a Embratur fazer promoção internacional, sem a retaguarda estratégica do Ministério do Turismo? Vamos aguardar, acompanhar, e esperar que o trade, público e privado, saiba se posicionar e cobrar. Os turistas agradecem. Os estrangeiros e os brasileiros. 

 

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