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Maquinarama

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Quando o Skank lançou o álbum “Siderado”, em 1998, começamos a dar sinais de que teríamos uma mudança estética na nossa carreira. Isso ficou claro com o lançamento da música “Resposta” – canção com arranjo baseado no violão e, ao fundo, uma orquestra escrita e conduzida pelo Jaques Morelenbaum.





Não preciso dizer que a música se tornou um sucesso, junto com as canções, do mesmo álbum, que vieram a seguir, como “Saideira” e “Mandrake e os Cubanos”, em que meu parceiro de banda, Haroldo Ferretti, teve uma atuação perfeita no videoclipe, imitando vários personagens da cultura POP.

Como tínhamos a periodicidade de lançar um álbum a cada dois anos, em 2000 gravamos o sucessor, “Maquinarama”, no nosso recém-montado estúdio em BH. Foi nosso primeiro álbum gravado totalmente no formato digital. Havíamos acabado de montar um estúdio para desenvolver nosso know-how em gravações.

Os álbuns anteriores foram gravados no Rio e em São Paulo. Já não bastava ficar viajando o ano todo fazendo shows; ainda passávamos meses gravando em outras cidades. O estúdio, à época, foi o melhor investimento que fizemos.



Tomamos essa decisão para termos mais conforto e também ao devido tempo para desenvolvermos as ideias. Esse álbum seria produzido pelo Iuguslavo Suba, nome artístico de Mitar Subotic, mas ele faleceu em um incêndio na cidade de São Paulo, ao final de 1999. 

Eu credito muito da qualidade que conseguimos nos álbuns “Maquinarama”, “Cosmotron” e “Carrossel” à liberdade conseguida por termos nosso próprio estúdio. Hoje em dia, isso pode parecer pouco significativo, pois quase todo músico tem equipamentos de gravação em casa. Entretanto, estou falando de um estúdio próprio há 20 anos. Tomamos essa decisão, tendo como referência o que aconteceu com os Beatles. Na segunda metade da carreira, eles se dedicaram às gravações em estúdio.

Voltando ao “Maquinarama”, a técnica de mixagem, indicada pelo nosso produtor Chico Neves, foi a Jacquie Turner, que sugeriu mixarmos o álbum no estúdio Bearsville. Passamos o final do inverno e o início da primavera em uma região rural, próxima a Woodstock-NY.



A experiência foi incrível e teve como cenário um local que tem muita história relacionada à música. Se já não bastasse a relação da cidade com o famoso festival, que na verdade nunca aconteceu na cidade, ficamos hospedados no meio de uma floresta, ao lado do estúdio que na época era de propriedade do Albert Grossman, ex-empresário de Bob Dylan, The Band, Janis Joplin e com um histórico de grandes artistas terem gravado conhecidos álbuns nas salas que utilizamos. Um estúdio todo de madeira, algo inimaginável para o Brasil.

O fato mais curioso deste álbum foi quando fizemos a mixagem da música “Balada do amor inabalável”. A Jacque, nossa engenheira, escutou a música e percebeu que havia algo de bossa nova.

Pediu um tempo para trabalhar e voltamos algumas horas depois. Quando retornamos, ela nos apresentou um arranjo que lembrava João Gilberto. Inicialmente, foi uma decepção, pois buscávamos algo novo e, na visão dela, como brasileiros, buscávamos uma bossa nova.

Depois de uma longa conversa, conseguimos explicar a nossa ideia. O resultado dessa conversa é o arranjo que saiu no álbum “Maquinarama”, que tem na capa uma foto de um carro pichado por Kenny Scharf, discípulo de Andy Warhol, e se tornou um grande sucesso.  Um detalhe que merece menção é o maravilhoso berimbau do Ramiro Mussoto.

A minha conclusão, depois de mais de 20 anos de álbum lançado, é que arriscamos muito, com diversas mudanças, mas que no final foram bem-vindas e nos mostraram um novo caminho – que se tornou longo e criativo.

audima