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Da Avenida dos Andradas ao Barro Preto, a noite de BH já reinou em galpões

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Saudades do que vivi

Rodrigo James

Produtor


Quando fui convidado pelo titular desta coluna para narrar minhas recordações da noite de Belo Horizonte, minha primeira reação foi: “Vou falar de quê?”. Ao longo desses meus 50 anos de idade e uns 35 de hábitos noturnos, posso dizer que já fiz de tudo um pouco: produtor de algumas festas e shows em locais como A Obra, Velvet, A Autêntica, Studio Bar, Cervejaria Oficial, Mary In Hell, Matriz e Lapa Multishow, entre outras; DJ que transita entre o profissional e o amador (obrigado, Jeff Santos, por um dia ter me ensinado o ofício); divulgador dos bons eventos da cidade e frequentador dos mais diferentes locais desta capital.





Este último, sim, talvez seja meu ofício mais prazeroso e longevo. E é sobre ele que quero falar. Não gosto muito do clichê “testemunha ocular”, mas não me ocorre outra expressão para definir o que sinto em relação à noite de BH.

Foram muitas fases, perfis e segmentos frequentados por mim e, de certa forma, me considero um cara eclético. Em uma noite qualquer, poderia ir de uma festa em algum salão nobre da cidade ao inferninho sujo. E por isso mesmo escolhi uma época em especial que me traz boas lembranças e, de certa forma, sempre ficou no meio do caminho entre tudo isso, que denominei de “era dos galpões”.

No início da década de 1990, na Avenida dos Andradas, em frente ao Parque Municipal, existia uma casa que, apesar de não ter nascido ali e ter alçado outros voos a partir de lá para São Paulo, marcou época na cidade com sua proposta única e por ser o porto seguro de muitos que não se ajustavam com outros locais da noite: Drosophyla.





Criação de Lili Varela, o Drosphyla versão “Andradas” funcionava em um galpão e esse era um de seus muitos charmes. Com capacidade para quase 2 mil pessoas, podia abrigar de performance teatral a shows de bandas iniciantes da capital. Se hoje o Jota Quest é instituição da música mineira, no início daquela década a banda ainda engatinhava e muito de seu imediato sucesso via boca a boca se deu em função da temporada que eles fizeram às quintas-feiras no Drosophyla.

Se não me engano, foi em um desses shows, quando a banda ainda nem tinha cantor fixo, que um tal Rogério Flausino subiu ao palco e se apresentou pela primeira vez com o grupo. Favor me corrigir se minha memória estiver falhando, Rogério!

O Drosophyla foi apenas o começo de uma série de casas que ocuparam a Avenida dos Andradas, às margens do Rio Arrudas. O Estação 767 funcionava a uma quadra dali e, entre os muitos shows a que assisti ali, de artistas nacionais e internacionais, um deles, em especial, quase me deixou surdo, graças ao volume altíssimo da música que faziam: o da banda Motorhead.

Mais à frente, no Barro Preto, outro galpão, algum tempo depois, surgiu com proposta parecida: o Bar Nacional. Com foco em artistas brasileiros, foi lá que assisti a um dos shows mais impactantes que já tive o prazer de presenciar: Chico Science & Nação Zumbi. Até hoje me lembro da força dos tambores da Nação ressoando dentro de mim, como se estivessem em compasso com as batidas do meu coração.





Aliás, se não me engano, eu estava lá no Bar Nacional na mesma noite em que Chico Amaral viu a tal “garota nacional” eternizada na letra da canção do Skank. Pelo menos eu me lembro do Chico por lá e vi uma garota que poderia ser a tal.

Depois vieram outros espaços, como a Circus e, mais adiante, a Escape (a primeira casa eminentemente de música eletrônica da cidade), mas a era dos galpões já estava no fim. Uma era romântica, mas com profissionalismo visível, que juntou tribos, estreitou relacionamentos e mostrou que sempre existiu muita, mas muita gente mesmo disposta a se jogar na noite.

Se hoje existe o meme que diz “saudades do que não vivi”, só posso parafraseá-lo e dizer: Saudades do que vivi!

. A SEÇÃO “EMBALOS DE SÁBADO À NOITE” CONTA A HISTÓRIA DA VIDA NOTURNA DE BELO HORIZONTE, QUE, ANTES DA PANDEMIA, DEU O QUE FALAR