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Estado de Minas

De Helves para Maria

Beatriz Salles morreu no domingo (11/07). Filha do escritor José Bento Teixeira de Salles e de Maria Amélia, jornalista foi minha colega no "Estado de Minas'


13/07/2021 04:00

Minha querida amiga, 
Na Redação do Estado de Minas, na Rua Goiás
Na Redação do Estado de Minas, na Rua Goiás

A notícia de sua morte provocou em mim um silêncio quase absoluto. Entre o tempo de ler a mensagem com a triste notícia e algumas ligações de telefone na tentativa de entender o que aconteceu, vieram as imagens de Maria Amélia, sua mãe; Sofia e Francisco, seus filhos, que perderam filha, mãe zelosa e grande amiga. 

Quieto, sentado em minha casa, não chorei. Não deu tempo. Minha memória segurou a onda com as lembranças sempre agradáveis e muito legais. Legal, inclusive, era um adjetivo que você sempre usava para garantir que valia a leitura de um grande livro, reconhecer o talento de um estilista ou alguma coisa nova e interessante. 
Bia Salles durante produção de moda para o caderno Gabarito, nos anos 1990
Bia Salles durante produção de moda para o caderno Gabarito, nos anos 1990

As letras eram seu fascínio. Herança de Zé Bento, com quem trabalhou em alguns livros. Gustavo mandou, pelo WhatsApp, a capa de um exemplar das crônicas que dividiu com seu pai.  

Nosso primeiro encontro, na Redação da Rua Goiás, deu certo de cara. Eu ainda na fase de substituição de férias no caderno Agropecuário, precisei de uma fonte, que só o pessoal do Cidades teria. 
Na plateia de um desfile de moda
Na plateia de um desfile de moda

Eu, praticamente um foca à época, fui a esmo, e caí em você. E eu ali, "pendurado" em um dos painéis que dividiam as editorias, recebi o contato que você tirou de uma agenda, meio surrada, com gentileza e um sorriso que estão frescos na memória até hoje. E olha que a memória tem me passado umas pernas.
Nos bastidores de um desfile de moda
Nos bastidores de um desfile de moda

Assim como a memória do dia em que você, quase às vésperas da licença-maternidade, apareceu na Redação com um barrigão gigante. Naquele dia, Sofia e Francisco foram a sensação da Redação. A grávida de Taubaté teria inveja. 

As crianças nasceram lindas e, um belo dia, fui almoçar com vocês. Eu, entusiasmado, levei minha câmera para fazer fotos das crianças, que, tranquilinhas no carrinhos, acompanhavam nosso papo na cozinha. As fotos ficaram bonitinhas, mas acho que perdi, negativos e as ampliações.
Num coquetel pós-evento cultural na cidade
Num coquetel pós-evento cultural na cidade

Nova York sempre foi um destino que curtimos. Tanto que foi uma alegria quando descobri que, na minha primeira visita à Big Apple, você e o Leo estariam lá. O máximo dos máximos foi a nossa foto em frente ao que seria a fachada da escola de artes de “Fame”, o seriado. 

Fiz uma pesquisa rápida no Google se era a locação da série ou de outro filme. Se estiver confundindo tudo, não importa. Afinal, o mais legal foi lembrar que mesmo corrido, aquele dia foi divertido. Durante a internação de meu pai no CTI, por causa da mesma doença que a acometeu, eis que você e Miriam foram levar solidariedade especialmente à minha mãe, que, àquela época, era sua conhecida apenas de tanto me ouvir falar dela.

Foi Jussara quem me ligou para dar a notícia triste, mas eu estava no banho. Retornei algumas vezes, mas não consegui falar. Liguei para Heloisa. Para Alexandre, Helena e Lydia, nossos colegas no Cidades, mandei mensagens. Com João, ao telefone, comecei a entender que peça foi essa que o destino nos pregou. Ao ouvi-lo, em prantos, lamentar a sua ausência, a ficha caiu e não deu para segurar a tristeza.
Num passeio de férias em Nova York
Num passeio de férias em Nova York 

Euzinho aqui achando que era o único que admirava todas as suas qualidades, vêm os colegas e mostram que a admiração era de encher a Redação. Helena cita a sinceridade, a paciência de ouvir, a amizade, as risadas. "Ela ria com a alma." Herculano aponta o talento como repórter, a alegria e o humor. "Era solidária e tinha um sorriso inesquecível." Marlos não esquece do humor, das brincadeiras na Redação. Álvaro a define como sinônimo de generosidade, suavidade e carinho. Para Valéria, fica a dor da perda da amiga de uma vida. 

Mesmo longe do jornal há um tempo, sempre marcávamos um almoço no Natural da Savassi para comemorar. Ali, em uma hora e meia, colocávamos as novidades em dia. E como tínhamos assunto de sobra, seguíamos caminhando tranquilamente pela Rua Alagoas até a Claudio Manoel, onde nos despedíamos, seguindo nossos caminhos.  

Era quase meia-noite de domingo quando me lembrei das fotos que estavam guardadas. O curioso é que, apesar da desordem do meu arquivo de imagens, ao descobrir as foto elas iam aos poucos descrevendo você, exatamente como sempre a vi. 

Com um sapato na mão, durante uma produção de moda para o Gabarito, no estacionamento do BH Shopping, lá pelos anos 1990, no mínimo, você chamou a atenção para alguma coisa, sem perder o humor. Charme também não faltava. Mesmo com o cigarro na mão. Maria Amélia vai me matar. O sorriso que me acolheu na Goiás. O carinho poderia estar em cenário glamouroso de Nova York ou na rotina das dúvidas e ansiedade da Redação. Na primeira fila de um desfile de moda, não faltava uma elegância com certa discrição. 

A estas horas, você já encontrou Zé Bento e, sentados em uma mesa tomando uma cervejinha, matam as saudades. Mas certeza mesmo é que você já deve ter feito amizades com anjos e querubins, tentando descolar onde será o próximo showzinho de Janis Joplin.

Beijos, Maria.

Helves.

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