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Pandemia impõe o são-joão mais triste aos grupos de quadrilha de Minas

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“Jamais imaginávamos ficar um ano sem festa junina. Imagina dois!”, comenta Jadison Nantes, presidente da União Junina Mineira (UJM), destacando o impacto sociocultural da atividade. “Quadrilhas juninas prestam um trabalho social a jovens, crianças e adultos, oferecendo a eles a possibilidade de participar de algo saudável que toma quase todos os meses do ano”, observa. “Não poder colocar a nossa cultura nas ruas tem sido extremamente doloroso para todos nós.”
 
Quando a pandemia chegou, quadrilheiros haviam contraído dívidas relativas à festa de 2019 e também à de 2020, que foi cancelada. A UJM busca formas de minimizar o problema. “Essa missão não é simples, mesmo com total atenção da Belotur e do prefeito de BH. Questões burocráticas nos trazem dificuldades. Em 2020, havia o interesse de ajudar, mas, por ser ano eleitoral, as coisas ficaram complicadas em função da legislação”, comenta. A UJM e a secretaria de cultura de BH promoveram ações de qualificação que possibilitaram o acesso de algumas quadrilhas à Lei Aldir Blanc.


 
Jadison Nantes se preocupa também com outro problema: a falta de consciência em relação à pandemia. “Muitas quadrilhas recebem convites que, obviamente, são recusados agora. É uma loucura: hotéis, resorts e restaurantes procuram os grupos para se apresentar. chega a ser assustadora a falta de noção de realidade dessas pessoas”, critica. “Assim que todos estiverem devidamente imunizados e for possível voltar a levar nossa cultura para a rua, faremos uma temporada incrível”, promete

A União Junina Mineira reúne 70 grupos de quadrilha, 42 só de BH. São números expressivos. A festa junina daqui é tão forte quanto a realizada no Nordeste?
Digamos que são características diferentes dentro da mesma cultura. O Nordeste é lindo, tem quadrilhas maravilhosas, sim. Mas Minas preza muito a essência da cultura junina. Por exemplo: em 2018, a São Gererê, de Belo Horizonte, se sagrou campeã do Concurso Nacional de Quadrilhas. Em 1997, a nossa Feijão Queimado foi campeã de um festival no programa da Xuxa, na Globo. Por outro lado, o são-joão de Campina Grande é majestoso, com dezenas de shows, mas a minha tristeza é que as maravilhosas quadrilhas da Paraíba, muitas vezes, não recebem a luz que merecem neste evento. Já no Arraial de Belo Horizonte, independentemente do artista renomado que irá tocar, as nossas quadrilhas protagonizam a festa. Não abrimos mão disso e o público também não. Em 2017, o Arraial de Belo Horizonte foi escolhido um dos cinco destinos turísticos do Brasil.

Como você avalia o Arraial de Belo Horizonte? Ele vai mudar quando voltar a ser realizado?
É justo reconhecer que a gestão de Kalil e Paulo Lamac deu tratamento muito respeitoso à nossa cultura, avançamos em vários aspectos. Depois da pandemia, teremos um cenário cultural diferente, acredito. Será necessário sentir o momento. Estaremos todos vacinados, público e quadrilheiros? Ainda teremos de ter alguns devidos cuidados? Quais são eles? Nossos ensaios poderão acontecer normalmente dentro das quadras das escolas públicas? Essas respostas são de fundamental importância para que possamos vislumbrar possíveis mudanças na próxima temporada.

A União tem 17 anos. Nesse período, o que mudou para as quadrilhas?
Com a criação da UJM, elas ganharam mais voz e poder de decisão, ficaram mais organizadas. Passamos a falar a mesma língua e isso nos fortaleceu. Do ponto de vista cultural, as quadrilhas tiveram uma evolução natural, uma vez que a competição é um dos focos. Isso faz com que o anseio de inovar seja grande. Por outro lado, a União alerta os grupos para a importância de termos responsabilidade cultural. Portanto, não podemos esquecer o que somos e de onde somos. A inovação é necessária e bem-vinda, mas desde que a nossa essência esteja preservada.



Quais são as quadrilhas mais antigas da capital mineira?
Várias têm mais de 40 anos, como a Quadrilha Formigueiro Quente, Brejo Grande, Pé Rachado, São Gererê, Feijão Queimado, Me Larga Cumade, Sem Nome e Sarapião. Esses e outros grupos são pioneiros, resistiram por décadas ao descaso do poder público. Mantiveram firme a tradição junina e são referência para o movimento junino mineiro e nacional.

Como começou a história das quadrilhas em BH?
A criação do Forró de Belô, em 1979, foi fundamental para a preservação desta cultura. O então prefeito Maurício Campos merece ser lembrado por esse feito. Há muitos quadrilheiros históricos, emblemáticos no cenário junino. Vou me ater aos mais antigos e em atividade até hoje: dona Flora e seu Luiz, da Quadrilha Pé Rachado; dona Vera, da Brejo Grande; Rogério Gomes, da São Gererê; Lúcia e Carlos Coelho, da Feijão Queimado; Liliane, da Formigueiro Quente; dona Darci, da Sarapião; e Suely Borges e Marcelo Borges, fundadores da União Junina Mineira.

Qual é o diferencial das quadrilhas de BH e de Minas?
A preocupação de não perder a essência, de preservar a mineiridade. Isso faz com que sejamos reconhecidos como um estado que preserva a cultura junina sem deixar de oferecer grandes espetáculos artísticos para o público.