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Engenheiro deixa multinacional e cria oficina mecânica para mulheres em BH

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Oficina mecânica é famosa pelo ambiente masculino. Independentemente do espaço ou da localização, não faltam ali o pôster ou o calendário de mulheres nuas em poses sensuais. Certo? Nem sempre, pois os anos foram passando e ambientes grosseiros e machistas vêm caindo em desuso. Mesmo assim, oficina não deixou de ser um lugar onde as mulheres não se sentem à vontade.



Em Belo Horizonte, o engenheiro Pedro Barbosa decidiu criar um espaço para elas, depois de ouvir várias queixas sobre a falta de oficinas onde as clientes sejam atendidas com respeito. Tudo começou quando Pedro, que já pensava em abrir um negócio, mas não sabia bem onde investir, recebeu o apelo de uma amiga. Ela pedia recomendação de uma oficina “onde não fosse enganada e olhada daquele jeito”, conta Pedro.

O engenheiro não pensou duas vezes: pediu as contas na multinacional em que trabalhava e decidiu empreender. “Foi ali que comecei a ligar os pontos”, relembra. “Hoje, a situação é diferente, ao contrário da década de 1980, quando as mulheres se casavam muito cedo, aos 20 e poucos anos, raramente se divorciavam e muitas nem sequer dirigiam. Agora elas se casam mais tarde, o divórcio é comum”, diz. “Em muitos casos, como a vida inteira o marido cuidou dos problemas do carro, a mulher não tem noção dos cuidados exigidos pelo veículo”, observa.

Seis meses antes da pandemia, Pedro Barbosa abriu o Salto Auto, atrás do Minascentro, com atendimento agendado e oferta de praticidades às donas dos possantes. Era possível, por exemplo, fazer as unhas enquanto o carro estava nas mãos do mecânico. As mais curiosas podiam conhecer os segredos automobilísticos em cursos ministrados no local.


Antes da pandemia, cursos ensinavam segredos da mecânica às clientes

“Somos atividade essencial. Com a pandemia, cancelei o serviço de manicure e os cursos para evitar aglomeração. Porém, os esmaltes continuam na sala de espera, caso alguma cliente queira fazer a própria unha”, informa Pedro. De acordo com ele, o horário de agendamentos aumentou e foram redobrados os cuidados com o protocolo antipandemia.

Uma curiosidade: no início do projeto, o empresário ouviu que muitas mulheres demandariam o serviço “leva e traz”. Na prática, seria mais caro e apresentava um risco, pois o veículo seria conduzido pelo mecânico do endereço da cliente à oficina. “Quando abri, pouquíssimas clientes solicitaram o serviço, pois ela gostam de vir aqui”, revela o engenheiro.
Sala de espera: conforto sem graxa nem pôsteres de mulheres nuas

Se o pôster de mulheres nuas na parede ficou na lembrança de quem viveu os anos 1980, o machismo ainda existe. Pedro conta a história da cliente irritada com o mecânico que a atendia. “Ela me disse que ele trabalhava bem, mas insistia tanto em convidá-la para sair que era preciso ter sempre uma desculpa na ponta da língua.”

A equipe do Salto Auto é pequena, com três mecânicos. Todos homens. “É dificil encontrar mulher mecânica”, garante Pedro Barbosa.