Jaime Hosken
Jornalista e redator de marketing de conteúdo
Quando eu penso nos ensinamentos que a pandemia me trouxe, minha mente vai a tantos lugares que transformá-los em palavras se torna um desafio para o corpo enclausurado.
Aprender alguma coisa durante a pandemia já é privilégio. Significa estar vivo.
Eu reconheço que sou imensamente privilegiado. Há anos trabalho em casa, o que me ajudou a não sentir o impacto inicial da vida em cativeiro. Não me infectei, não perdi nenhuma pessoa amada para a COVID-19 e nem o meu trabalho. Além disso, antes da pandemia já integrava o time dos que preferem nem ser chamados para sair se for para ficar em pé.
O meu primeiro aprendizado foi perceber o quanto o escape de casa faz falta, nem que seja uma ida à academia. Entretanto, os aprendizados vieram mesmo da nova forma de olhar para mim, para o mundo e para as minhas relações.
Ver tanta dor ao meu redor reforçou em mim a empatia e a solidariedade, mas também me fez perceber que todos estamos no mesmo oceano, mas não no mesmo barco, sequer remando na mesma direção. O tsunami assassino do negacionismo é aglomerado.
Também treinei um predicado que nunca me coube: a paciência! Nenhum ser impaciente como eu saiu ileso do calvário de higienização das compras. Quem quer limpar sabonete?
Mas isso é apenas fazer a nossa parte e nós só podemos fazer o que está ao nosso alcance. Na certeza de que estou fazendo, acalmo um pouco a agonia do medo constante, focando em estar bem para ajudar quem de mim precisar.
Levei isso tão a sério, que quando criei coragem para visitar a minha mãe, fui paramentado contra o coronavírus de tal forma que nem ela me reconheceu. Por sorte, nem o vírus.
Estar em família foi uma renovação. Moramos em cidades diferentes e poder passar meses com a minha mãe, minha irmã e meus sobrinhos, em uma mistura de passado, presente e futuro, foi um reabastecimento de energias (e de saudades do meu pai).
A convivência 24 horas também renovou a parceria de vida com o meu namorado. Não vejo a hora de podermos fazer as malas e procurarmos o pôr do sol.
Com os meus amigos, fui um pouco ausente. Sou de Barão de Cocais e, como bom interiorano, sou mais de encontros e ligações do que de mensagens e figurinhas.
Fui relapso com cursos que nem comecei, livros que não terminei, treinos que não fiz e que deram lugar a boa comida, séries, filmes e quilos.
Em tempos como os atuais, a resiliência é fundamental, mas a autoindulgência é indispensável.
Uma surpresa feliz foi o convite para escrever este texto. Quando eu poderia imaginar que um dia teria as minhas palavras, que são a minha paixão e o meu ofício, publicadas nesta coluna que já admirava anos antes de me tornar jornalista?
Se for verdade que nos reencarnamos para aprendermos o que não aprendemos na vida anterior, espero sinceramente ter aprendido o suficiente nesta pandemia para não passar por outra numa próxima vinda a este planeta.
Enquanto isso, sigo no meu ecumenismo entre a ciência, a cultura, a terapia e a fé, esperando a vacina, nutrindo-me de arte, tentando não surtar e pedindo a Deus proteção para quem eu amo e força para dar conta do recado.
Avante!