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Estado de Minas HELVÉCIO CARLOS

Letícia Bhering: 'Estamos no caminho errado'

No 'Diário da quarentena', produtora de eventos diz que a pandemia aprofundou a desigualdade social, advertindo que dois terços dos habitantes do planeta enfrentarão dificuldades para se vacinar


02/10/2020 04:00

Diário da quarentena

O que falar sobre
esta quarentena?

Letícia Bhering,
Produtora de eventos

" O vírus tem seu próprio planejamento, ele precisa sobreviver, assim como nós e nossa economia"

Letícia Bhering, Produtora de eventos


 A trilha que traduz qualquer reflexão seria Quatro estações/3º movimento, de Antonio Vivaldi, que sempre me impactou. Descobri que descreve a destruição de uma colheita inteira por uma tempestade inesperada.

É intenso, com andamentos e pausa conduzindo a reflexão.

Muitas sensações.

Exposições do inconsciente.

Descobertas.

Desordens.

Medo.

A lente pela qual víamos o cotidiano foi trocada, não teria como manter a mesma.

A vida, que em abril começou a ser redefinida, em julho passou a ser decodificada.

Entramos no ritmo contínuo do Bolero de Ravel, tentando seguir com resiliência, apesar de termos decodificado nossos conceitos de tempo, planejamento, risco, segurança, credibilidade.

Minha profissão de produtora é estruturada nesses conceitos.

Um evento, como o próprio nome diz, é algo pontual, planejado por meses, seguindo tendências, ativando uma cadeia de fornecedores que vivem da aglomeração de pessoas.

O mercado de eventos sociais e culturais, feiras e congressos é sinônimo de aglomeração, no background e na linha de frente, em todas as etapas de realização. Um mercado que foi sacudido violentamente, com previsão de recuperação para daqui a alguns anos.

Não acredito em leis ou flexibilização que motivem investimentos a curto e médio prazo nesse segmento.

O vírus tem seu próprio planejamento, ele precisa sobreviver, assim como nós e nossa economia. Após seis meses, estamos ainda mapeando seu modus operandi. Para permanecer ativo, ele nos ensina que irá mudar quantas vezes forem necessárias, sem tendências preestabelecidas ou previsibilidade.

Não é uma travessia que estamos vivenciando, e, sim, um acontecimento com protocolos adaptados a cada dia, sem visão de futuro.

Incerteza é a palavra que permeia nossas ações.

Quais traços deveriam ficar deste acontecimento, além da evidência escancarada da desigualdade econômica e social deste planeta?

Somos sete bilhões de pessoas, sendo que dois terços se encontram em situação de pobreza, sem acesso a saneamento básico, saúde, educação, alimentação qualificada. Os mesmos dois terços terão dificuldade de receber a vacina.

Estamos no caminho errado.

O aquecimento global é uma realidade e deveria estar no topo das prioridades na agenda de qualquer mecanismo de governança global, gestor ou chefe de Estado. Ele é causa de secas, queimadas, inundações, acidez do oceano e, claro, pandemias.

“Uma árvore vale mais morta do que viva”, “uma baleia vale mais morta do que viva” – o lucro financeiro ainda é o maior balizador do sucesso da maioria das instituições.

A lentidão em agir a respeito desse assunto poderá ser vista como crime moral pelas futuras gerações.

E, para finalizar com o tema moralidade, cito uma das minhas descobertas da quarentena, Steven Pinker, filósofo do Iluminismo, autor dos livros Tábula rasa e O novo Iluminismo:

“A moralidade vem do fato de que cada um de nós quer prosperar e florescer, que preferimos estar vivos a estar mortos, preferimos estar saudáveis a estar doentes, preferimos ser educados a ser ignorantes, e é inconsciente querer todas essas coisas para você sem desejar o mesmo para todo o mundo. A moralidade é universalização de suas próprias preferências, e isso dá sentido à vida: tornar a vida mais benéfica possível para o maior número de pessoas possível, eliminar a fome, a doença, a guerra e a ignorância; e eu acho que isso fornece razões suficientes para a existência.”

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