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Estado de Minas COLUNA HIT

Do Canadá para o Brasil

No 'Diário da quarentena', o publicitário Rodolpho Araújo compara o comportamento de brasileiros e canadenses diante da COVID-19


29/09/2020 04:00 - atualizado 28/09/2020 21:17

Diário da quarentena

Entre praias e bananas

Rodolpho Araújo
Publicitário

"Aqui no Canadá, está tudo funcionando novamente. Restaurantes com mais espaço entre as mesas, cardápios on-line, barreiras de acrílico"

Rudolpho Araújo Publicitário


 Desde que saí do Brasil e me mudei para o Canadá, em 2018, comparações são inevitáveis. As praias aqui têm muita pedra. As praias de lá têm areia branquinha. Aqui, ando para todo lado me sentindo seguro. Lá, abaixo a cabeça e escondo o celular. A banana daqui não tem gosto de nada. Lá, são 271 tipos diferentes de banana. Aqui, meu poder de compra é maior. Lá, tenho que dividir tudo em 10 vezes.

Eu estava no Brasil no início de março para o casamento da minha irmã. Falava-se em vírus aqui e lá, mas nada de quarentena ou pandemia ainda. Distribuí muitos beijos e abraços. Voltei para o Canadá e vi o vírus se espalhar mundo afora. Continuamente buscava gráficos com a quantidade de casos. “Brasil e Canadá estão subindo juntos”, eu analisava os números. Passou um tempo e tudo mudou. “Agora o Brasil disparou mesmo! Voltei para o Canadá na hora certa. Mas vou rezar para que meus amigos e familiares fiquem bem.” Foi aí que resolvi que, apesar das preocupações com minhas pessoas queridas, não havia nada que eu pudesse controlar. Focaria nas rezas para lá, mas viveria a vida aqui.

A próxima etapa foi o isolamento. Aqui, tudo fechou rapidamente. Em casa, eu e minha esposa, num apartamento pequenininho, trabalhando lado a lado na mesa de jantar. Eu discutindo estratégias de comunicação e gestão de crise; ela ensinando matemática e ciências para a criançada. Dentro de mim uma preocupação enorme com quem estava no Brasil. Torcia para todo mundo entender que o melhor era ficar em casa mesmo.

Aqui, compramos videogame, tomei longos banhos de banheira, tomei muito vinho, jogamos jogos de tabuleiro, saí para correr na rua, me inscrevi num curso on-line, comecei a meditar, montei quebra-cabeças, pedi muita comida no delivery e fiz pão. Não parei de trabalhar nem precisei de auxílio do governo. Logo percebi meus privilégios. Percebi o quanto tenho a agradecer.

Já se passaram vários meses desde que tudo começou. Aqui no Canadá, está tudo funcionando novamente. Restaurantes com mais espaço entre as mesas, cardápios on-line, barreiras de acrílico nos supermercados, comunicados nas paredes e adesivos no chão. Ah, e máscara! Máscaras guardadas no carro, na gaveta das meias e cuecas, na mochila, na bancada da cozinha. Que bom ter essa liberdade de ir e vir! Estava sentindo falta! Com a chegada do verão, tivemos até a oportunidade de ir para uma região de lagos e vinícolas para aproveitar o sol. Minha esposa voltou a dar aulas presenciais e eu voltei a jogar vôlei de praia. Fomos até mesmo a uma festa de casamento.

Porém, com a reabertura vieram o medo e as incertezas. Os casos voltaram a aumentar e estão batendo recorde. Enquanto isso, leio que no Brasil as coisas parecem estar melhorando. “Será que o Canadá vai fechar tudo de novo? Será que o Brasil vai melhorar pra depois piorar? Quando sairá a vacina? Devo tomar a vacina na primeira leva? Será que voltarei a trabalhar no escritório? Quando poderei ver minha família de novo?”

Estamos vivendo em uma era de dúvidas. No meio de tantas perguntas sobre aqui e lá, comparações entre praias e bananas, novamente passo a refletir e a sonhar. Penso de novo no meu privilégio. A minha vida não é perfeita, o Canadá não é perfeito, mas sinto estar vivendo no futuro, sinto que estou num país sempre à frente dos outros. Desejo não precisar mais comparar. Sonho que todos tenhamos saúde, liberdade e que privilégios não existam. Quero todo mundo nesse futuro comigo e, em breve, bem agarradinhos e amontoados.

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