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Em meio à pandemia, cachorros e maritacas promovem a revolução dos bichos

No Diário da quarentena, Carolina Antunes, bem-humorada, diz que, na casa dela, a aglomeração social é dos bichos


08/09/2020 04:00

Diário da quarentena

Meu diário e a revolução dos bichos

Por Carolina Antunes
CEO/Cofundadora do Instituto NAAÇÃO e do Instituto de Formação de Líderes Brasil

Não sei pra vocês, mas o isolamento social, aqui na minha casa, tem sido uma aglomeração social para os bichos. Os cachorros desenvolveram meios de detectar exatamente o momento das minhas calls do dia e iniciam os latidos intermitentes. As maritacas aglomeram-se e gritam tanto que sinto falta da zoeira da hora do recreio da escola vizinha. E o momento triunfal é na madrugada, quando tudo silencia completamente, e os cachorros iniciam a revolução, e suas comunicações pelos latidos atingem uma amplitude de sons de longa distância que nem o som mais potente do Mineirão já alcançou.

Após quase seis meses em isolamento social, várias rotinas já se modificaram, mas lembro da palavra quarentena no dia 13 de março, quando o “vamos fechar tudo” me deixou completamente perdida, como alguém que pega um endereço para seguir sem o GPS. Pensei logo, “ótimo, é só preparar um planejamento para os 40 dias e depois tudo volta ao normal”.

Desenhei a rotina ideal: deixar um terapeuta de plantão, porque a família toda junta pode dar ruim, cuidar da rotina de exercícios diários e livros que há muito esperavam para ser lidos, organizar as gavetas e as papeladas dos arquivos pessoais.

Muito mais de 40 dias já se passaram e ainda tenho tarefas de quarentena pendentes. Mas posso garantir, como confinada, que tudo mudou mesmo no nosso mundo individual e coletivo. Na minha vida, várias novas tarefas e metas surgiram nesse período.

Interessante como o dia e a noite também têm sido agitados, on-line mesmo, call pela manhã, call à tarde, call à noite e lives quase o dia todo, com dezenas de cursos, que me fazem me sentir culpada por não conseguir acompanhar tudo. Às vezes, até saio, lógico, até a janela, para um momento só comigo mesma.

Engraçado como as reuniões eram formais, com toda “pompa”, e hoje, às vezes, pego meus filhos assistindo à aula enquanto tomam banho e até eu mesma compartilhando momentos de intimidade num momento de reunião. Opa... Esse assunto é perigoso, porque muita gente caiu na pegadinha de esquecer a câmera ligada.

Enfim, em tempo de isolamento, as calls viraram a onda do momento e são elas que têm mantido minha vida continuamente congestionada e nada isolada.
As ansiedades aumentam, e as frustrações também, por não conseguir cumprir a agenda loucamente ilusória de virar outra pessoa na quarentena.

Resolvi dar um passo por dia, pequeno, mas criar o meu mundo na pandemia.

Faço a agenda mais normal, entendi minhas limitações e aceito que ler uma página por dia não é o fim do mundo.

O melhor, entretanto, é o autoconhecimento, que os limites da pandemia amplificaram, e o quanto a minha atuação como voluntária me impulsionou a viver com mais motivação. Posso dizer que o fato de ajudar a transformar vidas, neste momento, acolher alguém numa realidade mil vezes mais difícil do que a minha, coloca um foco mais real nos fatos e me faz mais grata por todas as possibilidades que tenho.

O ato de ajudar alguém acaba sendo o movimento de salvar a mim mesma no meio desse turbilhão de sentimentos. É possuir um olhar singular sobre todas as dádivas que temos à nossa volta. É como um despertar de uma grande ilusão e, ao mesmo tempo, fazer parte da solução de problemas que deixamos para governos e Estado resolverem.

Já ouvi muito que as pessoas não se voluntariam ou não fazem alguma coisa pelo outro, porque não têm tempo para se dedicar. A pandemia veio, agora, trazer uma possibilidade maior de atuação com o trabalho remoto. E colocou holofote na atitude de que tudo passa pela nossa motivação em mudar e em fazer alguma coisa.

Seja um voluntário e saia do isolamento da transformação social. Venha ser também alguém que faz um mundo melhor, mesmo com todo o barulho da revolução dos bichos. Sendo voluntários na vida, somos capazes de construir um mundo melhor e, assim, seremos mais “barulhentos” do que as ansiedades que nos atormentam.

Estas são as mais honestas palavras de uma confinada inquieta. 







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