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Sem metáforas, coronavírus veio dar aula prática de globalização

Neurocirurgião e diretor de teatro Jair Raso diz que pandemia desvelou fragilidades, mas também provocou capacidade de reação


postado em 16/07/2020 04:00 / atualizado em 15/07/2020 21:03

Diário da quarentena

Saúde: a palavra do momento

Jair Raso
Neurocirurgião e diretor de teatro

Estamos todos familiarizados com a ideia de que vivemos num mundo globalizado. Metaforicamente, economistas já nos diziam, por exemplo, que uma gripezinha na China podia se tornar pneumonia grave no Brasil. Só que essa ideia, no formato de vírus, veio nos dar uma aula prática de globalização. Sem metáforas.

O vírus que nasceu na China, em questão de meses, ganhou o mundo e chegou para virar pelo avesso nossas vidas. Na medicina, fui compelido a diminuir procedimentos eletivos em minha especialidade, a neurocirurgia. Mais que isso, passei a integrar um comitê que analisa e estuda diariamente os efeitos da pandemia em nosso sistema de saúde. Passou a fazer parte de minha rotina estudar o vírus, os meios de prevenção, tratamentos, monitorar números e entender conceitos de epidemiologia e infectologia.

Em meio à polêmica de tratamentos de eficácia duvidosa, é praticamente impossível acompanhar as publicações médicas. Nunca se escreveu tanto, em tão pouco tempo, sobre uma doença. E a maior parte das publicações é de baixa qualidade, até mesmo em revistas tradicionais. Passa-se a impressão de que sabemos pouco sobre a COVID-19. Isso não é verdade. Aos poucos, e cada vez mais, vai se construindo o conhecimento de como lidar com essa infecção.

No dia a dia dos hospitais, a maior parte dos pacientes recebe alta curada.Sem contar a maior parte dos infectados, que sequer necessitam de internação hospitalar. O problema fica com uma pequena porcentagem de pacientes graves, que, dada a velocidade de contaminação do coronavírus, esgota os recursos de saúde. Muito se fala sobre a carência de leitos e de respiradores disponíveis. Entretanto, o maior problema é a disponibilidade de pessoal qualificado e adequadamente treinado para lidar com o paciente à beira destes leitos. Essa é uma doença que coloca em risco tanto o paciente quanto o profissional de saúde responsável pelo cuidado.

A pandemia desvelou nossas fragilidades, mas também provocou nossa capacidade de reação. O lado bom foi a injeção de recursos na área médica. A ciência médica avançou em meses o que levaria anos para acontecer, no passo pré-pandemia. Veremos os efeitos deste avanço muito em breve. Pelas pesquisas em andamento, não seria otimismo infundado contar com uma ou mais vacinas dentro de alguns meses. Será o momento de virarmos essa página sombria de nossa história.

A pandemia também deixará um grande legado; não só a incorporação de novas tecnologias em medicina, mas, sobretudo, a conscientização de todos sobre a importância da saúde na economia humana. Teremos oportunidade única de construir e aperfeiçoar modelos de saúde sólidos, sustentáveis e inclusivos.

Após a pandemia, minha esperança é essa: que a palavra saúde deixe de ser promessa banal na boca de políticos de meia pataca em tempo de eleições.

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