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Nada substitui o impacto que uma obra causa quando vista de perto

Galerista Flávia Albuquerque conta suas expectativas e fala sobre as descobertas ao lado dos filhos


postado em 15/07/2020 04:00 / atualizado em 14/07/2020 20:05

Diário da quarentena

Descobertas nas artes e nos filhos

Flávia Albuquerque
galerista

 O tempo vem passando rápido. Mas nem tanto assim... Estamos passando nossos dias em Tiradentes. A cidade fantasma... Por aqui, todos estão levando a sério o distanciamento. A cidade virou um cenário com apenas alguns cachorros andando de lá para cá. Todos bem cuidados e alimentados. Não são de ninguém, mas são cuidados por todos.

Da minha varanda vejo a paisagem se transformando. O sol nasce cada dia mais tarde e a neblina toma conta de tudo. As nuances não se repetem, é como se estivesse olhando para aquela vista de sempre pela primeira vez, como se observasse as pinturas de Turner.

“A última vez que beijei foi no carnaval”, disse minha filha adolescente. Percebi que para ela o isolamento interrompeu descobertas importantes. Lembrei-me que, quando tinha a mesma idade dela, os primeiros casos de Aids apareceram no país e ninguém sabia muito bem sobre as formas de contágio, mas logo descobrimos que podíamos beijar e abraçar sem medo. Transar só com camisinha!

Mas e agora? Quando ela poderá sentir novamente aquele toque sem querer nas mãos que faz o corpo todo arrepiar? Lembrei-me do filme Her, em que o personagem de Joaquin Phoenix se apaixona pela voz do sistema operacional de seu computador. Lindo e triste!

Neste momento, as plataformas digitais passaram a ser um meio para viabilizar meu trabalho como galerista. Organizamos exposições virtuais e postagens no Instagram. Não acredito que continuaremos assim após a pandemia. Nada substitui o impacto que uma obra causa a quem a observa frente a frente.

A pandemia forçou a volta do meu filho para casa. Ele estava fazendo mestrado na França. Amoroso e amigo como ele só, sua presença diminuiu um pouco a minha angústia. Foi uma viagem muito longa e cansativa para ele devido à dificuldade em encontrar voos disponíveis para o Brasil. Foram horas de espera e escalas em aeroportos. Comemoramos este reencontro plantando juntos uma horta, um ipê-amarelo e um pé de limão capeta para fazer a caipirinha que mais gosto. Sinto um enorme prazer em colocar as mãos na terra.

E assim vamos passando nossos dias. Um dia é muita coisa e é quase nada. Momentos felizes, momentos difíceis, amigos isolados, muita saudade de todos. Vamos reinventando nosso modo de viver e tentando manter a saúde física, mental e espiritual, preenchendo as horas com atividades que nos dão prazer.

Estamos repensando nossos comportamentos em relação a muitas coisas, como o lixo produzido e o gasto de energia elétrica desnecessários. Temos dado mais valor às coisas simples da vida, aos momentos em que estamos juntos vivendo o agora, seja trabalhando, cozinhando ou nos aquecendo perto do fogão a lenha.

Em minha estante há vários livros pela metade e isso me dá a sensação de continuidade. Cada um deles me leva a outros lugares e situações. A literatura tem esse poder. O isolamento social está sendo uma experiência muito árdua em alguns aspectos e reveladora em outros. Acho que estamos mais atentos e críticos em relação ao que se passa ao nosso redor, às questões humanitárias e com muita expectativa sobre o nosso destino e ao que es tá por vir.

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