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Estado de Minas DIáRIO DA QUARENTENA

Médico Rafael Mantovani conta como encara os dias de isolamento

Empatia é importante para equilibrar vontades, dificuldades e necessidades em ritmos diferentes


postado em 09/07/2020 04:00

Rafael Mantovani
médico


Sou movido a desafios. Sempre fui assim. E não tem sido diferente em 2020, especialmente nos últimos meses, com a quarentena estendida. Manter a cabeça no lugar, numa época de poucos encontros e de convívio escasso, tem sido muito difícil para nós, mineiros, tão acostumados ao contato, ao agrado, ao carinho.

A unidade familiar, que nos completa, sofre junto. Dividir o tempo (apenas 24 horas!) entre aulas virtuais, preparo da alimentação, prática de atividade física, cuidados com a casa, home office e atenção com as individualidades de cada membro da casa gera um ambiente pouco natural, com o qual não estamos acostumados. E a empatia é muito importante, pois, dentro do mesmo ambiente, todos terão vontades, dificuldades e necessidades em ritmos nem sempre semelhantes…

A rotina nos esgota. Estar conectado 24 horas por dia, por exemplo, nos ajuda no trabalho e também na diversão, mas, sem dúvida, gera um estresse muitas vezes desnecessário. Informação em excesso desinforma. Ainda mais em tempos de escassez de verdades.

Inicialmente, procurei passar o tempo nos livros. Títulos novos e também aqueles que há anos habitam a estante, esperando leitura. Livros virtuais, artigos científicos, tudo entrou na lista. O passo seguinte foi convencer os filhos a dedicarem mais tempo à leitura, tarefa nada fácil, já que a competição com os aparelhos eletrônicos é desleal.

Dos livros, segui para as atividades que estavam à espera de tempo. Um quebra-cabeças de mil peças foi o primeiro desafio. No entanto, uma mesa ocupada por cinco dias e uma dor na coluna pelas horas dedicadas me desmotivaram a fazer outros. Ao ter que parar de trabalhar totalmente por duas semanas, resolvi finalizar a montagem de uma réplica da nave Millennium Falcon (Star wars). Plástico, ferro, cola, luzes, circuitos, engrenagens e milhares de parafusos transformaram a mesa de jantar em uma oficina mecânica. Nave montada e devidamente pendurada na parede da casa, vamos para o próximo desafio.

Cozinha. Nunca aprendi a cozinhar, nem mesmo me sentia motivado a seguir receitas. Mas, com a quarentena, foi preciso rever esse hábito. Dedicar-se à escolha dos alimentos, ao seu preparo e à rotina de alimentação da casa tornou-se um momento de gestão coletiva da família. Com o auxílio de livros, blogs, Instagram e da minha adorável Camila, pudemos fazer do ato de cozinhar um momento de interação entre nós e nossos filhos.

Assim como cozinhar, o cuidado com a casa tornou-se central. Varre, limpa, lava louça, guarda louça, lava roupa, seca, guarda nos armários, arruma aqui, arruma lá... Nessas horas, a repetição dos afazeres cotidianos precisa ser encarada com leveza para que o ritmo da casa, que suja, bagunça e enche a pia, não nos roube a paciência nem a vontade de “habitar” o lar para não tirar as coisas do lugar.

Por fim, considero que a atividade física tem sido o cerne da manutenção da saúde psíquica e, por que não, do corpo. Sempre fui ativo e foi difícil aceitar que a quarentena seria um fator limitador para atividades ao ar livre. Algo que seria passageiro passou a durar semanas e meses, exigindo novas estratégias para movimentar o corpo. Caminhadas e corridas às 23h, futebol com as crianças dentro de casa e na quadra vazia, passeio na montanha solitária. Ioga e treino funcional na sala. Vale tudo para tentar trazer um pouco de movimento.

No fim, percebo que, ao criar oportunidades para realizar atividades em conjunto, conseguimos resgatar um pouco da convivência que o tempo corrido da vida nos privava. Quem sabe, quando tudo isso passar, a gente consiga levar mais leveza e atenção para o nosso dia a dia.


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