O sol se mostra especialmente longo
No nosso cárcere desafinado
Das minhas palavras que morreram cedo
E não mais posso lhe dizer agora
E é bem no sangue que esse beijo mora
E de desejo vivem as horas extras
E como ameixas que se morrem tortas
Tudo se afoga na extensão do longe
O esterno esconde a proporção do dentro
E em cada peito grita uma saudade
O som do grito é quase sempre mudo
O meu, escuto como imenso alarde
Se o impossível revelar seu nome
O cumprimento e chamo pra conversa
Não me adormeço por não ter motivo
Então me vejo amanhecer depressa
Que um dia eu chego, isso eu te prometo
A estrada é grande mas não vence o passo
Meu coração tem vinte mil cavalos
E todos marcham rumo ao seu abraço
Mas ó meu pai como é que pode um homem
Ser tão voraz e ser tão limitado
Dentro de mim enterro meu espelho
Me junto às lágrimas do meu lavabo
O amor é o cabo de um machado longo
Que atinge impreterivelmente o peito
E desse golpe nasceu a saudade
E todo o choro que desfez meu canto
No “mas que nada” já não mais me espanto
Daquele susto eu mesmo me oponho
Quando anoitece o nosso medo passa
E aquela fome agora vira sonho
Vou tentar dormir
Um dia, quem sabe, a gente ainda se fala mais uma vez.
João Ferreira
Músico
João Ferreira
Músico