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Paula Geo Machado narra seus dias de isolamento

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Diário da quarentena

Espero um mundo 
com mais amor
 
Paula Geo Machado
Empresária

Há quatro meses ando acostumada com o silêncio das madrugadas, mas hoje pareceu ainda mais calmo, não escutei os ônibus passarem. Já devem estar com o horário reduzido... Como sempre, parei para observar o barulho dos pássaros, lembrando que já amanhece. E voltei correndo para cama, para dormir mais três preciosas horas...



Acordo novamente com meu filho, Augusto, que me chama... já são 8h. Ele, desperto, abre um sorriso, aquele sorriso inocente que derrete qualquer coração de mãe de primeira viagem. Me perco nele, nesta hora do dia sou capaz de esquecer qualquer problema do mundo, só penso em agradecer a Deus por este momento. Agradeço pela saúde dele, e me lembro de agradecer também pela saúde da minha família. Sou dessas que acorda bem-humorada, mesmo em tempos de coronavírus (risos). Isso sempre fez diferença na minha vida... Sou grata por hoje, reforço os agradecimentos, rezo e oro pelo mundo.

WhatsApp já está pipocando, checo e-mails, atualizo minhas redes sociais, vejo notícias, tento não entrar em pânico (mas confesso que quase entrei). Respiro fundo. Esta semana, não fui boa mãe, boa filha, esposa e amiga. Hoje também não serei... Deixei a culpa de lado. Digo para mim mesma que compenso no final de semana, não tenho tempo para isso agora.

Dei a mão a meus clientes, que tiveram de reformular todos os planejamentos do semestre, cuidadosamente pensados. Não preciso fazer esforço para sentir a dor deles, os efeitos do coronavírus são imediatamente sofridos pelos empresários da moda. Pedidos cancelados, lojas vazias, eventos e lançamentos adiados... Sofro com eles a cada notícia, mas tento pular a angústia, participo de reuniões a distância – no escritório, começamos a quarentena voluntária no início da semana passada.



Traçamos estratégias internamente. A cada decisão conjunta com os clientes, tenho mais orgulho deles... Há luz no fundo do túnel. Todos tomaram medidas preventivas muito antes das determinações das autoridades. Me sinto entusiasmada. Com tantas incertezas, ganhamos uma nova página em branco e, juntos, queremos escrever uma nova história.

Outro dia de quarentena está quase terminando, o barulho das janelas não deixa ninguém se esquecer dos profissionais da área da saúde, com sua coragem, empenho e dedicação. Somos todos gratos por tudo que estão fazendo.

Sinto saudades dos meus pais, do meu irmão, aquele tão perto mas tão longe – cada um em sua casa. Pergunto-me, diversas vezes, se isso tudo é verdade. Respiro fundo, agradeço à tecnologia como nunca. Já é impossível pensar em uma vida sem Facetime e WhatsApp. Mas, internamente, peço para não viver essa realidade por muito tempo.

Aquela agenda lotada de compromissos que tanto amo vai aguardar isso tudo passar... E, quando passar, espero que venha um mundo com mais empatia, com mais amor, com mais solidariedade, porque é esse o mundo onde quero ver o meu filho crescer.

Nunca mais vou me esquecer de como um abraço me faz falta, como os idosos são importantes e como o mundo se uniu contra um único inimigo invisível. Ele nos fez parar, permitindo que nos reconectássemos com nós mesmos.