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Grupo Marias Bonitas de Lourdes atuou no socorro às vítimas das chuvas na Zona Sul

Organização criada há quase três anos oferece assistência ainda a moradores da periferia de Belo Horizonte, que também sentiram na pele a tragédia dos temporais


postado em 02/02/2020 04:00

Clarissa de Pereira Vaz e as Marias Bonitas (foto: Adriana Lagares/divulgação)
Clarissa de Pereira Vaz e as Marias Bonitas (foto: Adriana Lagares/divulgação)


“Precisamos trabalhar em conjunto”

Há quase três anos, o Bairro de Lourdes, na Zona Sul da cidade, ganhava o grupo Marias Bonitas. O objetivo era de uma aproximação maior com a vizinhança, ajuda mútua e, segundo Clarissa de Pereira Vaz, uma das fundadoras, “contribuir com o nosso bairro e apoiarmos vários projetos sociais com os mais diversos propósitos”. O sucesso foi tão grande que em pouco tempo o projeto expandiu-se. “Com as ações que começamos a fazer, conhecemos outras moradoras em Belo Horizonte, várias gestoras e gestores de projetos sociais, que começaram a sugerir que o nosso projeto poderia existir em outros bairros e cidades. Quando encontrávamos mulheres com essa mesma visão de cidadania e com foco no voluntariado, os outros grupos nasceram em 2019, de uma forma muito natural”.
Na terça-feira passada, o grupo entrou em ação na luta contra os efeitos do temporal que devastou a Região Centro-Sul. Mas elas se movimentaram também na semana anterior para ajudar vítimas das chuvas em outras regiões da cidade “através de doações e compra de diversos insumos para enviarmos aos projetos sociais sérios que estão envolvidos na assistência às vítimas das chuvas”.Para 2020, Clarissa diz que existem muitas ideias em curso. “Estamos avaliando e analisando algumas propostas que já recebemos para começarmos
as nossas atividades”.


COM A PALAVRA

Clarissa de Pereira Vaz
Uma das fundadoras do Marias Bonitas


Como foi a ação do Marias Bonitas antes, durante e depois da tempestade da última terça-feira?

Nossa rede de Marias Bonitas está presente em vários bairros em Belo Horizonte e em Nova Lima, na região do Belvedere e condomínios próximos à região do Vila da Serra. Foi de lá que as notícias da forte chuva começaram a surgir com o desabamento de parte de um teto de um shopping. Logo depois, vieram as fotos e vídeos das Marias Bonitas, no São Bento. Naquele momento, enviamos mensagens em todos os nossos grupos para que as participantes ficassem em casa e, as que estavam em trânsito, buscassem, rapidamente locais seguros para permanecer até a chuva diminuir. Não imaginávamos o que teríamos pela frente. Como cada Maria Bonita mora em pontos diferentes em cada bairro, uma foi avisando e reportando para a outra o que estava acontecendo perto para possibilitar que todas ficassem em segurança. Muitas estavam sozinhas, mas muitas estavam com crianças no carro. Algumas, desesperadas, vendo a situação de suas janelas, desceram para as ruas para ajudar quem estava sem abrigo e quem não podia atravessar pelas ruas alagadas. Ligamos para a Polícia Militar, Bombeiros, Defesa Civil e Gasmig, pois um forte cheiro de gás era sentido em várias regiões do bairro. O mais importante era que todas ficassem bem fisicamente, no primeiro momento. De saberem que não estavam sozinhas.

Qual a importância para vocês do WhatsApp?

WhatsApp, para as Marias Bonitas, é uma ferramenta de sobrevivência (rsrs). Tão importante que hoje temos um aplicativo que se chama Behive, que salva todas as indicações, anúncios, eventos, para que possamos consultar depois. Favoritar não foi o suficiente. Hoje temos um banco de dados precioso que fica à disposição de todas para as emergências. Ainda não conseguimos cadastrar um encantador de serpentes. Mas o que você imaginar de contatos, prestadores de serviços, médicos, dentistas, empresas, maridos e netos de aluguel, detetive, as Marias Bonitas possuem.

E no dia seguinte ao temporal?

Na quarta-feira, um dia após as chuvas, foi dia de limpeza e levantamento de perdas materiais. Logo cedo, já postamos as informações, enviadas pela médica Claudia Tavares, do grupo de Lourdes. Toda a profilaxia necessária para contato com a lama, água da enchente, para que as pessoas pudessem se proteger. Há risco de leptospirose, por exemplo, e muita gente, na hora de ajudar, se esquece disso. Postamos em todos os nossos grupos. Pedimos também que evitassem os locais por curiosidade. A Polícia Militar nos pediu que todas as proprietárias das lojas chegassem bem cedo aos locais de trabalho por causa do risco de saques. Informamos nos grupos as vias que estavam bloqueadas e que o Waze ajudaria no deslocamento.

Além de bairros da cidade, o Marias Bonitas está presente em Pará de Minas e Pedra Azul. Quais as demandas comuns dessas cidades com Belo Horizonte. Existe troca de experiências?
 
Aprendemos sempre com cada mulher que participa do grupo. Acho que as demandas mais comuns são a necessidade de uma maior participação como cidadãs e a carência que o país apresenta. Não precisamos ir muito longe de Belo Horizonte para encontrarmos comunidades extremamente carentes. A cidadania, no nosso olhar, é a única maneira de nos aproximar da gestão pública que existe para nos ajudar. Precisamos trabalhar em conjunto. Mas isso não significa que temos que esperar que a administração pública resolva tudo. Com a união e a integração do olhar e do coração generoso de muitas mulheres conseguimos, por exemplo, realizar quase 100 ações significativas em 2019. O que procuramos passar é que temos que agir, nos mobilizar. E várias conquistas importantes aconteceram assim.

Qual a grande lição que vocês tiraram não só da tragédia, mas do trabalho do Marias Bonitas ao longo de quase três anos?

A grande lição é que não importa onde vivemos. Não importa em qual cidade, em qual bairro. Hoje, as mulheres se unem por laços de amizade e solidariedade. Como diz a Maria Bonita July Mascarenhas: o bem sempre tem que vencer. Utopia? Ficção? Não. Para os nossos grupos, é a nossa opção.

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