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"A Lagoinha é exemplo de superação"


postado em 29/09/2019 04:00 / atualizado em 28/09/2019 21:30

Quem nunca se deliciou com uma cerveja gelada no copo lagoinha que atire a primeira pedra.
Pouca gente sabe que esse “objeto boêmio”, batizado com o nome da região da capital, foi criado em Belo Horizonte, em 1947. Joaquim Setimo? Vaz de Mello, o seu Quinquim, foi o primeiro comerciante a vendê-lo. “Ele fazia questão de enaltecer a versatilidade e a durabilidade daquele copo, que pouco a pouco ganhou popularidade entre os belo-horizontinos”, conta o advogado Daniel Silva Queiroga.

“O local onde o copo lagoinha era vendido não poderia ser mais simbólico: Rua Itapecerica esquina com Avenida do Contorno, marco zero de BH. Foi ali onde se iniciaram os trabalhos da construcao?? de BH, em 5 de marco? de 1894. É lá que começa e termina a Avenida do Contorno”, acrescenta. Aquele marco não existe mais. “Foi demolido na década de 1980 para a construção da Estação Lagoinha”, informa o historiador.

Essa é uma das dezenas de histórias contadas por Daniel, apaixonado pela região. “A Lagoinha é um modo de vida que acolhe e ama o diferente, reunindo o melhor do ser humano”, afirma o integrante da quarta geração da família Boscato Ferri. “Esse meu amor é uma carga genética de memórias. Quando pesquisei a verdadeira história da Lagoinha, ele só aumentou, pois tudo foi confirmado e mais um pouco revelado”.

O nome Lagoinha, aliás, é cercado de mitos. “Provavelmente, foi dado em decorrencia? de sete pequenas lagoas na confluência do Ribeirão Arrudas com os córregos do Pastinho e da Lagoinha, hoje avenidas Dom Pedro II e Presidente Antônio Carlos, respectivamente. Na época do arraial, usavam o termo Lagoinhas, mas como o mineiro come o 's', ficou Lagoinha”.

Ha? quem diga que a origem é o sobrenome do padre Manuel da Silva Lagoinha, que atuou na região. “Muita gente acha que a Lagoinha é um bairro, mas a percepção dos moradores não corresponde aos limites oficiais da prefeitura. Por isso, usamos regiao?, território ou distrito. A região é composta pelos bairros Bonfim, Carlos Prates, Centro, Colegio? Batista, Concordia?, Lagoinha, Pedreira Prado Lopes, Santo Andre?, Sao? Cristovao?? e Senhor dos Passos, conformando uma cidade com características próprias dentro de Belo Horizonte”.

No Instagram, Daniel mantém a página Casas da Lagoinha, onde o público pode agendar um dos passeios mais legais pela cidade. O trajeto, feito a pé, oferece outro olhar sobre a capital mineira.

COM A PALAVRA

DANIEL SILVA QUEIROGA
Professor, advogado e criador do Casas da Lagoinha

Entre os roteiros criados por você, o Lagoinha dos Mirantes é um dos mais legais. Quais as outras opções para quem quiser conhecer a região?
Como a Lagoinha é muito grande, pensei em seis percursos distintos para você conhecer gradualmente a região, seus causos, lugares de contemplação, equipamentos, relações comunitárias e de afeto, arquitetura e a história tanto de lá quanto da nossa cidade. É impossível contar a história da Lagoinha sem relacioná-la com a de Belo Horizonte e de outros bairros e regiões, como Santa Tereza, Funcionários, Boa Viagem, Barro Preto, Lourdes, Pampulha, Venda Nova, Floresta e Prado, entre outros. Cada passeio tem duração aproximada de três horas, marcado a partir da demanda de meus seguidores no Instagram. São eles: “Cemitério do Bonfim: o espelho de Beagá”; “Uma manhã na Lagoinha”; “Da praça à praça: do Centro à Lagoinha”; “A Lagoinha dos mirantes”; “Da ponte ao Bonfim: uma aventura pelo Carlos Prates”; e “Rios (in)visíveis da Lagoinha”.

Uma das paradas é o Cemitério do Bonfim. Que surpresas as pessoas encontram ali?
O Cemitério do Bonfim é o espelho de Belo Horizonte. Foi planejado dentro da lógica positivista de Aarão Reis, localizado em posição estratégica e com organização que obedece ao mesmo traçado geométrico da cidade. É primeiro cemitério de Belo Horizonte, fundado em 8 de fevereiro de 1897, dez meses e quatro dias antes da inauguração oficial da terceira capital de Minas Gerais. Tem 54 quadras, divididas entre duas alamedas principais e diversas ruas secundárias. A menos de um quilômetro do Centro, o Bonfim é um dos maiores equipamentos públicos da região da Lagoinha. Ele conta a história de Belo Horizonte por meio de suas obras de arte, arquitetura, cultura e das milhares de pessoas – conhecidas e desconhecidas – que lá se encontram inumadas. É ponto turístico oficial da capital desde 2013 e foi tombado pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte em 2016.

O que a Lagoinha representa para BH?
Além de ser um lugar de memória, história e acolhimento, é exemplo de superação, empreendedorismo e produção. A boemia que outrora existiu na região deixou uma imagem nostálgica, daquilo que não volta mais, e outra negativa, associada à criminalidade e prostituição. Essa imagem oculta uma Lagoinha que sempre existiu, ou seja, a Lagoinha de empreendedorismo, trabalho, moradia e fé. Nessa minha caminhada em defesa da região, tive o prazer de conhecer coletivos de empreendedores que a enxergam como de fato ela é, acreditam no seu potencial e desenvolvem projetos incríveis. Cito HorizontAU, Armazém nº OitO, Hortelões da Lagoinha, Universidade Popular do Som, Viva Lagoinha, Lobas da Lagoinha, Sapos e Afogados, Casa Rosa do Bonfim, Casa do Pai Jacob do Oriente e o Bloco Leão da Lagoinha. Não vou conseguir citar tudo, mas a cidade precisa saber que há artesãos, restaurantes e pequenos negócios bastante criativos na região.

Fale mais sobre eles...
No campo gastronômico, estamos desenvolvendo o Estômago da Lagoinha como um modo de resgate e promoção de nossa boa comida e dos restaurantes que existem lá. No campo da arte pública, realizamos, no início deste mês, o Festival Cura, com a pintura de 11 locais. Provamos que a Lagoinha é um lugar em que as ruas podem ser ocupadas por grandes eventos públicos. Há muita coisa legal acontecendo ali.

A arquitetura da região é importante para a história de BH. É tão bacana que você criou o instagram Casas da Lagoinha. Quais são os seus endereços preferidos?
A Lagoinha preserva grande parte da arquitetura inicial de Belo Horizonte. O Casas da Lagoinha tem o objetivo de mostrar isso, educar as pessoas nas áreas de patrimônio, história, direito, economia, cultura. Promove atividades educacionais para evidenciar a história urbana e a memória de pessoas e lugares com significativo valor afetivo. Entre cerca de 600 imóveis que identifiquei na região, é difícil dizer o preferido. Os mais significativos são o Conjunto IAPI (Praça Professor Corrêa Neto, 43), exemplo de arquitetura modernista e habitação popular; Casa da Loba (Rua Itapecerica, 579), por sua história e mitos; a antiga sede do Clube Terrestre (Rua Itapecerica, 919), onde foi fundado o Leão da Lagoinha, o primeiro bloco de carnaval da cidade; Cemitério do Bonfim (Rua Bonfim, 1.120), por sua história, arte sacra e potencial turístico; e Santuário Nossa Senhora da Conceição (Rua Além Paraíba, 152), templo centenário construído pelos moradores, marco arquitetônico da região.


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