Jornal Estado de Minas

DA ARQUIBANCADA

Is this love, Cruzeiro

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A peleja entre Cruzeiro e Bahia, no último sábado, foi a representação máxima do amor. Desse sentimento carregado de poder de transformação. Tudo começou difícil naquela tarde no Mineirão, mas em se tratando de cumplicidade, é na maior das aperturas que se encontra o instante para celebrar uma paixão. Esse foi o surpreendente enredo que tivemos a dádiva de vivenciar.



Caminhávamos para um jogo sem muitas emoções. Tanto a Nação Azul quanto os jogadores estavam modorrentos. Veio o castigo. A expulsão de Brock. Tristonhos e apáticos, partimos para só esperar o momento do gol da derrota. Mas o amor transforma, lembra?

O gol do menino Stênio nos fez sentir o inexplicável, o final feliz de uma saudade. Vibramos! Ganhei um daqueles abraços inteiros e permaneci colado nele até o final. Quando assistimos o nosso guarda-metas Rafael Cabral se tornar um guarda paixões.
Vencemos e nos permitimos o sorriso mais lindo do mundo!

“Sentimentos vêm.” Uma moça de minha terra me disse essa frase. Lembrei disso quando, ao apito final, olhei para os jogadores pulando e cantando no gramado como se torcedores fossem. Fechei os olhos e cantei baixinho: “I wanna love you /And treat you right /I wanna love you / Every day and every night / Is this love / Is this love that I feeling?” Eu quero te amar / E tratá-lo bem / Eu quero te amar / Todo dia e toda noite / Isso é amor / Isto é amor o que estou sentindo?

Embalado pela genialidade de Bob Marley, abri os olhos e me veio a imagem da torcida Comando Rasta bem à minha frente. “O que a gente prega, procuramos praticar.” Escutei, certa feita, do Robert Fonseca, idealizador da Comando Rasta.

Assim como o próprio Palestra/Cruzeiro, essa torcida nasceu do amor do povo, dos jovens, dos trabalhadores das comunidades periféricas de Belo Horizonte. “Made in favela.” É seu slogan. Foi criada no bairro Copacabana, região de Venda Nova. Hoje, está no São Bernardo/Vila Aeroporto, na Zona Norte.



Avessa a qualquer tipo de violência (nas arquibancadas ou fora delas), a Comando Rasta prega exatamente o amor como forma de combater qualquer preconceito, seja ele de raça, gênero ou classe social. Pratica por isso. Desenvolve ações educativas, de resistência e assistência social, principalmente nas comunidades pobres, para onde a burguesia olha e só enxerga mazelas (assim como faz, preconceituosamente, em relação às torcidas organizadas).
 
Ações de arrecadação de livros, alimentos, roupas e outros itens básicos são corriqueiras nas fileiras do Comando Rasta. “Grandes poderes geram grandes responsabilidades.” Assim encaram a capacidade de mobilizar muitos cruzeirenses para apadrinhar pessoas desfavorecidas.
Numa ação de apoio ao povo Pataxó, no sul da Bahia, o Comando Rasta não só levou mantimentos, como também inspirou a criação de um time de futebol na aldeia. O Cruzeiro Pataxó, que hoje disputa campeonatos regionais e indígenas.



Outra ação emblemática, da qual todo cruzeirense conhecedor da origem operária e periférica do clube deveria ser orgulhar, foi a manifestação feita pela Comando Rasta, no Mineirão, em relação ao assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, em 2018. Porém, a faixa com os dizeres “Marielle presente” foi censurada por ordem de um coronel, como se o asqueroso coturno lhe desse a autoridade de Deus para impedir manifestações pacíficas de indignação e respeito.

Depois de muitos levantarmos a voz contra esse ato de censura da Minas Arena, ela voltou atrás e, no jogo seguinte, as mulheres do Comando Rasta deram uma volta olímpica no Mineirão carregando a mesma faixa. Graças a elas, a torcida do Cruzeiro foi a primeira no Brasil a realizar tal ato inesquecível.

“Levante e resista”, assim Bob Marley cantava pelo amor entre as pessoas. Por isso, faço da peleja entre Cruzeiro e Bahia uma ode, uma celebração máxima ao amor, e disso, uma ato singelo para homenagear a torcida Comando Rasta, que no próximo domingo (31/7), completará dez anos de existência, serviços prestados e amor profundo ao Cruzeiro.