Jornal Estado de Minas

DA ARQUIBANCADA

Carta para Salomé, que zela pelo Cruzeiro como estrela no firmamento

Conteúdo para Assinantes

Continue lendo o conteúdo para assinantes do Estado de Minas Digital no seu computador e smartphone.

Estado de Minas Digital

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Experimente 15 dias grátis



Olá, eterna rainha das arquibancadas! Quanto tempo não nos vemos? Um ano? Queria eu estar aqui dividindo a oportunidade do seu convívio, dos seus gritos de incentivo ao escrete, das palmas para o time de vôlei e dos xingamentos repletos de palavrões no Mineirão, quando algum dos atacantes erram um arremate óbvio. Nem reclamaria das constantes interrupções nas nossas conversas para atender milhares de pedidos por uma foto, vindos de outros cruzeirenses apaixonados, aos quais você respondia sempre com um sorriso e mostrando as unhas pintadas de azul e branco. Afinal, quantos de nós não carregam num álbum, nas redes sociais ou na memória do smartphone o orgulho por eternizar um instante ao lado da maior torcedora de futebol do mundo?

Amanhã, Salomé, completa um ano do dia em que você se tornou estrela. Rabisquei essa conversa ontem, antes mesmo da partida contra o CRB. Por isso, troco essas confidências contigo, sem saber se ainda estamos a sonhar com uma aproximação ao G-4 ou se voltamos à realidade de uma caminhada espinhenta, adiando para o campeonato de 2021 o retorno à Série A.



Com quem anda assistindo às pelejas? Aposto meu autógrafo do Ademir que você se juntou à charanga do Aldair Pinto no jogo contra o Brasil de Pelotas. Ele deve ter colocado esses anjos aí para tocarem, enquanto você sacudia no ar boneca e raposinha ao ver a bola de Sóbis ascender aos céus, passando perto de seus pés, e repousar nas redes. Tudo isso ao embalo de Jadir Ambrósio, abraçado ao Gonzaguinha. Os dois cantando nosso hino. Mande um abraço a eles em nome da Nação Azul, tá bem?
Por falar no cruzeirense Gonzaguinha, lembrei da estrofe de uma canção dele para introduzir um pedido de desculpas: “Coração na boca/Peito aberto/Vou sangrando/São as lutas dessa nossa vida/Que eu estou cantando”. Pois bem, Salomé, em nome de todos nós, torcedores de arquibancada, queria te pedir perdão pelo fato de nenhum dos seus assassinos, que lhe mataram por desgosto, estarem presos e, pior, por ainda desfrutarem do direito de frequentar o ginásio que leva seu nome no Barro Preto.

É, Salomé... Imagina se gente como os nossos companheiros de arquibancada formasse o Conselho Paquiderme Deliberativo e devolvessem ao Cruzeiro o DNA operário, trabalhador, honesto e de luta, tão natural à sua origem e à sua torcida? Se o seu Riacho, em Contagem, a Lagoinha, a Pedreira Prado Lopes, a Floresta e o Barro Preto voltassem a ser alma do Cruzeiro, e não esse hub de omissos, cúmplices e “puxa-sacos 4.0”.

Se presidente do clube fosse por um mísero dia, eu dedicaria meu posto a um único ato. Por toda a eternidade, a imagem de Salomé, fosse em bandeira, mosaico ou projetada no telão, obrigatoriamente, abriria as pelejas do Cruzeiro Esporte Clube. Os jogadores, funcionários dessa instituição deveriam se postar em posição de respeito, rendendo a ela um sorriso.



Então, sabe, Salomé, foi nessa toada que acordei para lhe escrever essa carta, por pura saudade. Passou um ano da nossa queda, do seu assassinato por desgosto, mas a cada letra rabiscada me encho de alegria. Sou capaz de ouvir sua voz esganiçada ecoando amor incondicional pelo azul e branco. No fundo, decidi conversar contigo porque não existe outra pessoa no universo capaz de entender tão bem meu orgulho de ser Cruzeiro quanto você.

Ao terminar essa crônica, irei até a janela, olharei para o céu, em direção ao Cruzeiro do Sul e, baixinho, vou dizer: “Obrigado, meu pai, por me fazer ser fanático pelo mesmo time da maior torcedora do mundo”.

É isso, Salomé! Amanhã todos falarão muito de você. O Coletivo 1921 lançará a campanha para a torcida produzir o filme da sua história. Mande um abraço para Felício, Niginho Fantoni, Ninão Fantoni, Piorra, Nani, Souza, Zé Carlos, paizão Furletti, para o nosso Batatinha e todos seus companheiros celestes aí no céu.

Um beijo estrelado!