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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

Enfim, o astral mudou com volta dos gols e abraços ao Cruzeiro

Decisão de Felipão, que mandou reduzir exposição midiática dos jogadores, parece ter feito bem ao time no Brasileiro


04/11/2020 04:00 - atualizado 04/11/2020 08:37

Por orientação do novo treinador, Felipão, a exposição do grupo foi reduzida, o que ajuda no foco para recuperar o bom futebol
Por orientação do novo treinador, Felipão, a exposição do grupo foi reduzida, o que ajuda no foco para recuperar o bom futebol


Felipão trouxe pontos e gols de volta. Já não olho para a tabela de classificação tampando o rosto, como se fosse pular à minha frente um monstro de Halloween gritando “doce ou travessura”. Mas, apesar desse real alívio, destaco outra guloseima vindoura na era Big Phil como principal: a retomada da confiança e dos abraços.

Numa situação de conflitos como estava o Cruzeiro, geralmente mudanças radicais demandam tempo. Mas com o gigante cambaleante, a ponto de ser nocauteado em meio ao campeonato, não havia outra fórmula senão a das medidas impopulares e, muitas vezes, bruscas. Nessa toada, Felipão deu a letra: menos exposição.

Obviamente, sentirei saudade dos bastidores das partidas do Cruzeiro, que nos chegavam semanalmente pelo Youtube, por meio do olhar dos brilhantes fotógrafos/cinegrafistas celestes Bruno Haddad, Igor Sales e Marcos Ferraz, o Girafa.

Mas o fato de Felipão nos privar disso tem todo um significado. Quando se combina a exposição pública e a necessidade de se mostrar, muitas vezes uma câmera pode inibir o mais tímido e, ao mesmo tempo, promover os mais midiáticos à posição de falsos líderes.

Talvez faltasse mesmo a esse elenco um pouco de regras aos moldes dos tempos dos nossos avós. Em contraponto ao insuportável “futebol moderno”. Como já pedia Jorge Ben Jor: “joga bola, jogador”.

A palavra “família” não pode ser interpretada somente no seu sentido afetivo. Deve ser analisada também sob o seu viés educador. Onde brigas se resolvem da porta para dentro e com lealdade. Onde as refeições à mesa são também momentos de contar aos outros como foi o seu dia.

Não existe maneira de mudar o lado psicológico de um time em desalinho sem uma invenção secular do ser humano chamada “conversa”. Na difícil década de 1950, quando foi técnico tampão, Souza, ex-jogador do Palestra e do Cruzeiro, chamava os jogadores ao seu quarto do hotel para resenhas, fossem táticas ou de pura aproximação entre todos.

Era no silêncio da concentração ou na privacidade do vestiário onde os craques da Academia Celeste de 1966 se cobravam. Tostão chegava a chorar de raiva quando estavam perdendo. Isso contagiava os companheiros a ponto de reverterem o resultado. Ele faria isso se houvesse uma câmera ligada em seu rosto?

Por entre um almoço e a volta aos quartos das concentrações, o escrete de 1976 se agrupava para passeios e conversas pelas cidades. Dirceu Lopes, por exemplo, estava sempre a puxar a fila de seus jovens “apadrinhados”, Joãozinho, Roberto Batata e Eduardo “Rabo de Vaca”.

Ao final da década de 1980, a formação do time que iria consolidar a retomada das conquistas com a Supercopa de 1991, teve, nas conversas entre os jogadores, seu grande trunfo. Os experientes Careca, Balu e Gilson Jáder não ficaram no elenco supercampeão, mas foram fundamentais ao passar confianças aos mais jovens, como Paulão, Adílson e Nonato.

O time que viria a ser campeão da Copa do Brasil em 1996 também teve na privacidade do vestiário as suas histórias de abraços. Como no episódio em que o jovem e recém-contratado Marcelo Ramos decidiu pedir para ser negociado e seus próprios companheiros o demoveram. Ele ficou e fez o gol do título, tornando-se ídolo eterno.

O escrete da Tríplice Coroa, em 2003, esbanjava confiança em campo. Todos se ajudavam e se abraçavam a cada vitória ou mesmo nas raras derrotas. Souberam manter as desavenças pessoais longe dos holofotes, sem exposição ou vaidade. Entraram para a história cruzeirense.

O atual grupo de jogadores do Cruzeiro tem a missão mais difícil dos 100 anos de história. Portanto, controlemos nossa ansiedade em prol desse velho-novo jeito Felipão de transformar elencos em famílias. Porque, muitas vezes, gols, vitórias e superações não nascem no gramado, mas, sim, na conversa do quarto da concentração ou no abraço do vestiário.


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