(none) || (none)

Continue lendo os seus conteúdos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/mês. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

Felipão é o escudo do Cruzeiro contra o ódio

Se o Cruzeiro ganhou ou perdeu do Operário na noite chuvosa dessa terça-feira, não importa


21/10/2020 04:00 - atualizado 20/10/2020 23:01

Técnico Luiz Felipe Scolari estreou no comando do Cruzeiro diante do Operário-PR(foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro)
Técnico Luiz Felipe Scolari estreou no comando do Cruzeiro diante do Operário-PR (foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro)
Aviso a você, navegante destas ondas semanalmente rabiscadas por mim: ao concluir esta crônica, o Cruzeiro ainda não havia jogado contra o Operário, pois a terminei sob a tarde chuvosa dessa terça-feira (20). Portanto, sem saber se Fábio operou um milagre; se o meio-campo restrito a lampejos do Régis desencantou; se nossos inoperantes atacantes continuaram a perder um oceano de gols e por fim, sem prever se você estará triste ou alegre.

Porém, independente desses “ses”, cravo antecipadamente a confiança no mote escolhido: o evidente incômodo da aristocracia belo-horizontina causado pelo retorno de Felipão ao clube dos operários, trabalhadores e interioranos de Minas, o Cruzeiro Esporte Clube. É sobre isso a escrita abaixo.

No segundo semestre de 2000, Luiz Felipe Scolari comandava o Cruzeiro, recém-vencedor da Copa do Brasil. Após um dos seus primeiros dias de treinamento, numa coletiva de imprensa, ele foi questionado sobre seu estilo de jogo.

Respondeu ser adepto a equipes com jogadores velozes, capazes de armar contra-ataques. Em meio à longa explicação, num trecho curto, disse ter apenas o garoto Geovanni com essa característica.

No dia seguinte, um veículo trouxe a manchete deturpada: “Para Felipão, só Geovanni presta”. O treinador não deixou barata a tentativa do editor em jogá-lo contra o elenco. Nova coletiva. Ele ergueu o papel, o amassou e lançou na lixeira. Foi direto: não aceitaria qualquer tentativa de desestabilizar o Cruzeiro a partir de mentiras.

Dali em diante, o respeito entre ele e os jornalistas foi selado. Os jogadores se fecharam com o treinador. O time terminou a primeira fase da Copa João Havelange (nome do então Brasileirão) como líder absoluto. Sorín, até então questionado, tornara-se ídolo. Geovanni continuou encantando.

O escrete celeste foi atropelando até chegar à semifinal, onde, por um jogo infeliz, caiu diante do futuro campeão, o Vasco do genial Romário.

Passaram-se 20 anos. Nessas duas décadas de separação, Felipão e Cruzeiro conquistaram um mundo de títulos. Tornaram-se dois multicampeões. Mas também sofreram duros golpes.

O técnico, desde o 7 a 1 para a Alemanha, passou a ser constantemente questionado.

O único gigante do futebol mineiro, por sua vez, se viu, da noite para o dia, destruído por uma quadrilha de cartolas, empresários e jogadores.

Mas eis o inimaginável. Os gigantes, mesmo feridos, envelhecidos e pisoteados, resolveram se dar as mãos. Felipão, com sede por trabalho, não teria uma instituição mais digna para honrar essa sua qualidade.

Afinal, o Palestra/Cruzeiro nasceu exatamente do desejo da classe trabalhadora e dos jogadores da comunidade de imigrantes italianos de terem um time para ser deles.

Assim como o surgimento da Societá Sportiva Palestra Italia, em 1921, incomodou aristocratas, políticos e a elite formadora de opinião na capital mineira, na última semana o abraço de dois gigantes incontestados, porém, debilitados, também foi tratado com babas de fel pelos mesmos que se mantêm há 100 anos no poder.

Para quem trata a dor do Cruzeiro como remédio para sua incompetência esportiva, o fato gerou ira. Uma reação que faz lembrar o tipo de gente que até aceita a pobreza, desde que ela apenas sirva para manter a sua riqueza.

O prazer de Felipão em querer trabalhar num Cruzeiro ferido quase de morte tirou o prumo de maritacas patrocinadas da aldeia. Mas como disse brilhantemente o jornalista Maurício Noriega: “O Cruzeiro estava precisando de um escudo, e o Felipão de um carinho”.

Já Paulo César Vasconcellos precisou lembrar Guimarães Rosa e seu personagem Riobaldo: “O que a vida quer da gente é coragem”. Para depois completar, “Felipão vai apanhar muito nas redes sociais, mas ele está acima disso”.

Se o Cruzeiro ganhou ou perdeu do Operário na noite chuvosa dessa terça-feira, não importa. Nesta quarta-feira, nós, cruzeirenses, continuamos apostando no trabalho contra o favorecimento econômico/político e no amor contra o ódio.

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)