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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

Odiar o Cruzeiro se tornou uma arma triste de nossos rivais

A insistência dos gestores do Atlético de Lourdes em falarem do Cruzeiro mostra o gigantismo do clube odiado por eles


postado em 13/05/2020 04:00

Careca, que atuou como atacante celeste entre os anos 1987 e 1990, se tornou ídolo de vários torcedores(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press %u2013 1/5/15)
Careca, que atuou como atacante celeste entre os anos 1987 e 1990, se tornou ídolo de vários torcedores (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press %u2013 1/5/15)


A insistência dos gestores do Atlético de Lourdes em falarem do Cruzeiro mostra o gigantismo do clube odiado por eles. Qualquer cruzeirense sonhou um dia em vestir a camisa estrelada, seja para atuar ao lado do ídolo ou para ser o próprio semideus, tendo seu nome gritado nas arquibancadas. Até alguns exemplares da Turma do Sapatênis já tiveram esse desejo proibido, mas por medo de não ganharem o carrinho de presente do papai foram obrigados a ficar ao lado de gente como o 6+1 Câmara, um misto de “costela do Kalil” com “Paulo Cury do Século XXI”.

Ao contrário dos meus amigos, desde novo já não sonhava em ser jogador do Cruzeiro. Não por falta de amor incondicional ao pavilhão azul e branco. Obviamente, gostaria de ver o meu rosto pregado numa das peças do time de botões, ao lado de Balu, Ademir e Careca. Meu sonho acabou precocemente porque tinha a consciência da minha ruindade futebolística.

Tornei-me jornalista com subterfúgio para estar próximo dos meus ídolos, cobrir os treinos na Toca da Raposa I e comentar um jogo ao lado do Alberto Rodrigues. Ir no voo fretado lado a lado com o Robson, resenhando sobre o gol espírita marcado contra o Nacional do Uruguai, em 1988.

Mas da minha carreira que nunca existiu guardo um lance inesquecível. Esse único instante de glória do meu futebol está atrelado ao melhor jogador que já vi atuar, um menino de nome Cleyton das Graças Ferreira. Um moleque atarracado, vindo de Itabira para a minha cidade, Mariana, na década de 1980.

Cruzeirense. Cerebral com a bola no pé. Dominava a meiuca de qualquer campinho com a mesma elegância de um Zidane. Nas peladas na calçada do convento das freiras, era capaz de driblar todos, mesmo lhe sobrando apenas centímetros de cimento. Ao disparar da nossa área rumo ao gol, lembrava Dirceu Lopes. Assim como o Príncipe, Cleyton era baixinho, tímido e jamais se vangloriou de sua genialidade.

Jogava de cabeça erguida. Olhava o destino que queria dar à bola, mordia a língua já toda cortada e lançava com a precisão de um cálculo matemático. Mesmo com idade de sub-16, já era o melhor meio-campista do futebol amador da região. Sua ida para algum clube profissional era questão de tempo e guerra contra a timidez.

O lance da minha vida foi nessa fase. Numa tarde de sábado. Nosso time enfrentaria um clube de futebol de salão da vizinha Ouro Preto. Enquanto nós tínhamos entre 13 e 15 anos, eles já eram marmanjos. Vieram reforçadGeralos, pois sabiam que encontrariam o menino Cleyton pela frente.
Como era de se esperar, eles nos amassaram no campo de defesa. A diferença física era colossal. A partida caminhava para o fim do primeiro tempo. O placar zerado era quase um milagre. Mas nós tínhamos um pequeno gênio da bola.

Cleyton saiu da defesa e partiu. Mordendo a língua e dando dribles curtos. Livrou-se de toda a linha, mas a pureza da idade não lhe permitiu perceber o crime que estava prestes a sofrer. O goleiro, último a ser batido antes do gol, voou em suas pernas. Partiu-lhe o joelho ao meio.
Sou capaz de escutar até hoje os gritos de Cleyton, pois eles fazem parte do lance mais importante da minha frustrada carreira. Ele ocorreu quando o treinador, Luiz Soldado, me deu os tradicionais dois minutos finais para entrar em quadra.

Um corner a nosso favor. Postei-me ao lado daquele goleiro. Nem liguei quando a bola foi alçada à área. Armei a “cama de gato” e quando senti o peso de suas costelas nas minhas costas, juntei forças e o lancei ao chão. Escutar sua cabeça batendo nos tacos da quadra foi como o grito de gol na virada da Copa do Brasil de 2000. Vingar a dor do meu ídolo foi a maior jogada da minha infância de perna de pau.

Resolvi escrever sobre ela, pois passei todo o dia pensando se responderia a mais uma das patéticas falas do 6 1 Câmara de ódio contra o Cruzeiro. Foi quando percebi que gente como ele e o Atlético de Lourdes nunca passarão de ser apenas aquele goleiro.

Já nós viveremos a felicidade de ter batido palmas e jogado com esses Cleytons da nossa linda história centenária.

Deve ser muito triste viver odiando o lado bonito do futebol.


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