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DA ARQUIBANCADA

Presidente do rival quer "ser Cruzeiro", mas não conseguirá

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As definições para 'cruzeirar', aparentemente desconhecidas pelo presidente de nosso rival (foto: WHATSAPP/REPRODUÇÃO)

Bom dia, presidente do Shopping de Lourdes! Sonhou com o Cruzeiro de novo?

Semanalmente, dedico esse espaço à história do único gigante de Minas Gerais. Porém, sua deselegância em infamar o Cruzeiro para tirar o holofote de mais um de seus “afogamentos” me dá o lamentável direito de usá-lo para lembrar-lhe detalhes esquecidos pelo senhor.


Quanto ao “Cruzeirar”, no sentido pejorativo usado, começo por concordar. É quase impossível ocorrer o mesmo com ricos nascidos em berço de ouro, educados à base de mimos, sejam eles sapatênis, doação pública ou mesmo milionários carrinhos de corrida pagos pelo papai.

Porém, sejamos honestos por completo, e não só em partes. No que depender da gestão hilária do senhor à frente do seu clube, o saldo é de salários atrasados; déficits nos jogos, porque torcedor-fantasma não paga ingresso, e dívidas acumuladas. Dudamel, Bolt, Adílson, Fifa que o digam.



Já imaginou sua instituição dependendo só da “excelência” dos seus gestores e não se salvando nas fortunas de mecenas numa nação desigual como o Brasil? Por exemplo, como explicar ao Sampaoli, afeito às políticas de esquerda, o fato de seu salário ser pago não pela “brilhante gestão”, mas sim por feudos familiares, hoje simpáticos ao governo de extrema-direita que governa o país?

Presidente, a diferença entre o ocorrido com o meu Cruzeiro e a sua soberba em não assumir erros não é má gestão ou seu conceito de “Cruzeirar”.


Porque nesse quesito nós ao menos continuamos acumulando títulos. A real diferença está no fato de a minha instituição ter sido roubada “de dentro para dentro”. Saqueada pelos próprios empresários, conselheiros e gestores.

Ao contrário de parte da elite da capital, nós nunca nos aproveitamos de dinheiro, terrenos doados, aparelhamentos ou contratos públicos para construir história e patrimônio. Graças a homens como os Noce, Bambirra, Felício, Furletti e tantos outros abnegados, jamais nos demos a vergonha de roubar “de fora para dentro”. Aqui, um adendo de minha parte: o senhor também evitou a repetição disso no seu clube.

Agora, passemos ao verdadeiro conceito de “Cruzeirar”. Neste ano, viveremos uma temporada de “atleticanização”, ou seja, de insignificância esportiva. Mas quanto à dimensão de caráter, nós jamais correremos o risco de “atleticanizar” nem uma, seis ou sete vezes. O abismo entre a construção das biografias do time dos imigrantes e do clube dos playboys do Parque Municipal é fora de série.


Por exemplo, na nossa sala de troféus, mesmo se houvesse espaço, não permitiríamos a camisa de um condenado por estupro. Nossa sede no Barro Preto, em terreno concedido pela Prefeitura de Belo Horizonte, continua respeitando o termo de doação, sendo um complexo esportivo, e não transformada em shopping ou supermercado.

Presidente, deixando sua agressão gratuita de lado, realmente vivemos um momento delicadíssimo, o qual não desejo a ninguém. Temos consciência do quanto a reconstrução poderá demorar anos. Mas se ninguém de dentro (de fora ou da “aldeia”) sabotar, será bem menos do que as cinco décadas pelas quais vocês não conseguiram um mísero bicampeonato.

Dito isso, falemos de futuro. No sábado, vença! Porque mesmo com o Cruzeiro na Série A2, para a Turma do Sapatênis continuará sendo o jogo mais importante da minúscula vida. A cada chilique (como o do artefato da “letra B”), ódio e grito homofóbico, nós veremos refletir em suas feições o ano de 2005, o 6 a 1, os nossos bis, tris, hexacampeonatos e 10 conquistas nacionais.

Certamente, no momento difícil em que vivemos, com um amontado de garotos e um clube esfacelado, vocês não necessitarão ressuscitar o Cidinho Bola Nossa ou apagarem os refletores. Então, vença, 6%2b1 Câmara! Porque se isso não ocorrer, a Turma do Sapatênis irá se enfurecer contra algo menor do que o próprio time dela: o senhor e seu malogro em “Cruzeirar”.
Por fim, vença para tentar minimizar o sofrimento de uma verdade absoluta: seja na A ou B, sempre seremos maiores que vocês.