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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

Cruzeiro, seus padrinhos e 'cornetas'

Enquanto jogadores covardes deixaram o Cruzeiro, os Moleques da Reconstrução vão vencendo as desconfianças


postado em 12/02/2020 04:00 / atualizado em 11/02/2020 22:20

Dirceu Lopes e Joãozinho, dois craques da história cruzeirense que servem de exemplo para a geração atual de jogadores(foto: Arquivo EM)
Dirceu Lopes e Joãozinho, dois craques da história cruzeirense que servem de exemplo para a geração atual de jogadores (foto: Arquivo EM)

 
Domingo, fim do primeiro tempo. Desci as arquibancadas esbravejando. Não pelo momentâneo 0 a 0 contra o América, mas pelos grunhidos dos “cornetas” contra os Moleques da Reconstrução. No gole de cerveja do intervalo, fui acalmado pelo mestre da gentileza e guardião dos mantos sagrados da loja do Barro Preto, Bruno Pedra. Com poesia e memória, foi domando minha revolta contra os corneteiros. Lançou-me uma pérola. Disse ele, “nos falta um padrinho para abraçar esses meninos, assim como Dirceu Lopes fez com um certo moleque nos idos de 1970”.

Desde a volta para o segundo tempo, até o suado 1 a 1, não descansei até que pudesse descrever a história, que começa assim... “Dirceu, você precisa ver esse menino. É um gênio!”.

Com essas palavras, Dirceu Lopes foi recebido pelo enfermeiro e amigo Leopoldino, numa visita ao velho estadinho JK, no Barro Preto, logo após os profissionais terem se mudado para a recém-construída Toca da Raposa. Era uma manhã de 1972 e, instigado por tamanho elogio, o Príncipe encarou, curioso, o moleque de pernas longas, que cruzou rápido e rasteiro a porta do vestiário dos juvenis.

“Chama Joãozinho. Filho do João Almeida, ex-motorista do ‘Seu Furletti’ na Viação Real.” Dias depois da ficha técnica passada pelo enfermeiro, Dirceu voltou ao Barro Preto para ver um treino do time aspirante do técnico João Chrispim. Encantou-se por completo! Os dribles do moleque Joãozinho eram como bailados perfeitos de um dançarino, que num solo transformava gramado em anfiteatro.

Dali por diante, Dirceu, então maestro daquele Cruzeiro em reconstrução, após a traumática saída de Tostão para o Vasco, passou a frequentar a casa dos pais de Joãozinho. Sem perceber, por entre os vários afilhados oriundos do “estadinho JK”, o Príncipe apadrinhava mais um. Dias depois, o ponteiro-esquerdo adentrava o portão da Toca para se juntar aos amigos Roberto Batata, Eduardo e Palhinha.

Veio 1973. O abominável descaso de Zagallo pela genialidade de Dirceu Lopes na Seleção Brasileira se misturou a uma lesão do camisa 10. Por isso, foi apenas com o corpo estendido nas arquibancadas do Mineirão que o padrinho pôde ver o menino Joãozinho estrear contra o Uberlândia. O filho do motorista de ônibus entrou no segundo tempo, jogou poucos minutos e não mudou o 0 a 0.

Dez dias depois, em Itabira, o pó de minério de ferro brilhava aos raios de sol, dando áurea de cortina a ser aberta no estádio do Valério. O jogo caminhava para o fim com o Cruzeiro vencendo por dois tentos. Dirceu, cansado, ganhava fôlego enquanto o técnico Ílton Chaves promovia uma substituição. Batata dava lugar ao amigo Joãozinho.

Antes que a cortina férrea fosse fechada, no primeiro encontro entre padrinho e afilhado em campo, o gran finale. O ponteiro-esquerdo avançou, e com um leve tapa marcou um gol de placa. O 3 a 0 foi celebrado com um longo abraço entre Dirceu e Joãozinho.

A titularidade só veio em 1974. Em seguida, o dissabor de perder dois nacionais seguidos para Vasco e Internacional se tornou prelúdio de um 1976 mágico. Ano do maior espetáculo humano já encenado num estádio de futebol, o 5 a 4 do Cruzeiro sobre a máquina colorada. Gravemente lesionado, o Príncipe assistiu – orgulhoso – Joãozinho ser coroado como o “Bailarino da Toca”.

Juntos, os dois caíram em prantos pela morte do moleque Batata. Combalido fora de campo, Dirceu continuou a acompanhar sua Academia Celeste derrubando um a um os adversários na Libertadores, até que veio 30 de julho, em Santiago, quando, pelo rádio, escutou a obra-prima de seu afilhado: “Adivinhe! Adivinhe! Joãozinho, pelo amor de Deus! Joãozinho, Joãozinho, Joãozinho! Faz com que Roberto Batata, lá no céu, abrace-o aqui na terra, Joãozinho! Neste momento, eu me lembro de Roberto Batata. Ele, que tanto lutou nesta Libertadores pelo Cruzeiro. Faz o gol que o Brasil está comemorando. Vamos agora esperar, torcedor do Brasil, que o Cruzeiro vá e coloque a faixa sobre o túmulo do jogador Roberto Batata Aparecido. Cruzeiro 3, River Plate 2. O River quer brigar, mas o Cruzeiro ganha no futebol”.

Pensei nos muitos Moleques da Reconstrução e senti pena dos “cornetas” quando ouvi de Dirceu Lopes o final da linda história: “Não tem dinheiro que compre ter sido padrinho de um dos maiores jogadores que o Cruzeiro já teve na sua história”.
 

Bate-papo e manhã de autógrafos com Dirceu Lopes

Neste sábado (15/2), das 10h30 às 13h, o nosso ídolo Dirceu Lopes estará na Cruzeiro Official Store (Rua Araguari, 598, no Barro Preto), numa manhã de autógrafos do livro “O Príncipe – a verdadeira história de Dirceu Lopes”, escrito pelo mestre e amigo Pedro Blank. Também faremos uma live com o nosso eterno camisa 10, a partir das 13h, pelo canal “Somos Gigantes”, no YouTube.
 

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