Jornal Estado de Minas

DA ARQUIBANCADA

O respiro do Cruzeiro vira pimenta no olho do outro

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Dois fios de arame farpado no alto do alambrado velho avisavam, sem dizer nada, ser ali o limite entre os jogadores do Cruzeiro no campo e a sua torcida apaixonada nas arquibancadas do estádio, em Juiz de Fora. As gotas da chuva pingavam como lágrimas por entre o trançado da grade. Ali, sorrindo de alívio pela virada sobre o Tupynambás por 4 a 2, o zagueiro Cacá enfiou as chuteiras por entre os buracos e escalou – ligeiro como um moleque – até o alto. Estendeu o braço e entregou sua camisa suada ao torcedor encharcado. Emocionado, o simples trabalhador cruzeirense agarrou o jogador num abraço longo e deixou o choro lhe molhar o ombro, mesmo com as pontas farpadas de ferro a lhe cravar as costas.



Já se passaram dias da montanha-russa vivida no último domingo, mas as lições se transformaram em memórias e reflexões. Um paralelo entre o “minuto a minuto” da peleja e o “dia a dia” do calvário vivido por nós torcedores e pela instituição, provocado pela nefasta gestão Wagner Nonato Pires Machado de Sá e pela subserviência do Conselho Paquiderme Deliberativo.

Os dois gols tomados, frutos de nossas próprias falhas, nos fizeram passar o intervalo da partida pensando no quanto a única mancha de nossa história ocorreu, não pelo mérito de adversários, mas, sim, por vermes, parasitas internos.

Veio o segundo tempo e, junto dele, a virada. Inesperada, inimaginável, ainda mais com quatro gols, o que não fazíamos desde o longínquo 10 de abril de 2019, nos 4 a 0 sobre o Huracán. Ela foi sinônimo da palavra que ditará este ano de reconstrução: resiliência.



Todos nós estamos cientes da fragilidade do adversário e do quanto a Country Cup deixou de significar algo para o multicampeão há algumas décadas, mas também foi de pasmar o quanto as nossas vitórias sofridas e a alegria da molecada em simplesmente jogar futebol com o manto sagrado causou efeitos colaterais em quem vive de nos odiar. O que não nos surpreende nem um pouco, pelo contrário, só escancara o rito caricato de terceirizarem a própria alegria aos nossos tropeços e suas cobranças internas aos nossos triunfos.

Como nós cruzeirenses estamos muito ocupados em tentar nos reconstruir, alguém precisa assumir o papel de tranquilizar aqueles que nos odeiam. Explicá-los que nascidos em berço de ouro e amamentados por privilégios, como historicamente são, dificilmente eles correrão o risco de ser vítimas de uma verdadeira milícia, como aconteceu conosco, onde pessoas que deveriam prezar por nós, na verdade nos roubavam o patrimônio e nos achacavam a esperança. O real balanço fiscal de 2018, por exemplo, é um dos inúmeros “cadáveres” deixados numa espécie de “cemitério clandestino” descoberto pelo Conselho Gestor.

Porém, que respiremos fundo... Dando os passos um a um; sem deixar que a vida alheia interfira na nossa e que nosso caminhar nessa reconstrução seja cheio de alento, cantante, inspirado nos versos da Fanáti-cruz, para demonstrar como o “Cruzeiro és minha vida / Meu orgulho, minha alegria / E nada, pode descrever / O sincero e imenso amor que sinto por você”.



Porque nós, da parte de cá do alambrado, seguiremos sendo aquele torcedor encharcado, emocionado por amar essa camisa e que jamais deixará de apoiar quem, mesmo na terra arrasada, resolveu ficar e lutar.

Adendo em desabafo

Lamentável o que PARTE das torcidas do Atlético de Lourdes e do Cruzeiro fizeram na última semana, com ataques xenofóbicos, de um lado, e homofóbicos, do outro. Essa PARTE delas é a prova viva do quanto o ser humano é capaz de ser imbecil. Racismo, homofobia e xenofobia não se combatem pela metade. Enquanto eu for titular deste espaço no jornal Estado de Minas e do portal Superesportes, jamais verão aqui qualquer uso direto ou velado dessas três aberrações da humanidade. Pelo contrário, lutarei contra elas, sejam em qual torcida for.