Jornal Estado de Minas

DA ARQUIBANCADA

Cruzeiro deve agradecer à polícia, não ao Thiago Neves

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Viver de ilusões, rivalidades inventadas, privilégios do aparelhamento político ou patrimônios acumulados via lucros com contratos públicos não é da natureza da instituição Cruzeiro. A luta por manter um clube formado – na sua maioria – por imigrantes e periféricos ao longo de quase 100 anos só é possível vivendo a realidade, pé no chão e amor incondicional em prol do clube. O Palestra/Cruzeiro não nasceu numa fábrica de sapatênis ou do capricho de estudantes da alta classe num dia de footing no parque. Entender a necessidade de nos adaptarmos à dura realidade em que as últimas gestões e conselhos deliberativos nos jogaram, passa por conhecer nossa história. Algo fundamental para analisarmos e sermos justos nesse cenário de pós-destruição, de casa revirada por ladrões, milicianos e feudos familiares.



Dentre várias amargas realidades, uma delas é que hoje jogadores de ponta não virão. A maioria deles porque tem oportunidade de atuar em clubes que disputarão grandes competições. Hoje, se vem o Roberson e vai o Rodriguinho, é perfeitamente compreensível. Por outro lado, existem os que, mesmo sem outras boas propostas, não virão (ou vão querer sair). Esse estranho fenômeno passa por outra realidade, nesse caso, das boas. O conselho gestor tem feito algo inédito no futebol brasileiro ao expor o chiqueiro em que se transformou a relação entre clubes e agentes/empresários/atravessadores de atletas.

Por que um empresário furta documentos (como acusou o ex-CEO) e em seguida retira do clube dois de seus jogadores? Por que agentes estão indo à Justiça para requerer saídas unilaterais, sendo que foram chamados para o diálogo? Por que alguns querem estar longe quando o esquema de “rachadinha” sair do sigilo processual?

São algumas perguntas que, talvez, sejam respondidas após o desfecho das investigações da Polícia Civil e do Ministério Público em relação à gestão Wagner Nonato Pires Machado de Sá. Se, infelizmente, o conselho gestor caminha para acentuar a suicida elitização da relação da torcida com a marca “Cruzeiro”, tratando comunicação/marketing como apêndice, por outro lado, ele tem afastado corruptores, jogando luz onde havia escuridão. Em breve, ficará mais evidente o boicote velado ao Cruzeiro por estar retornando à sua origem, aos princípios éticos de sua existência.

Felício e Furletti são lembrados pelos títulos, pela Academia Celeste que montaram e renovaram. Mas pergunte a um ex-jogador, que viveu com os dois, como se davam as renovações de contrato. Eram verdadeiras quedas de braço, e por quê? Porque mais do que formar ídolos e mantê-los, Felício e Furletti pensavam no Cruzeiro Esporte Clube. Era uma época onde ainda não existia a nefasta figura do empresário de jogador, mas, independentemente disso, era um tempo onde não se roubava do clube, ao contrário, se doava por ele.



Quando um cronista do eixo RJ-SP vomita que “o Cruzeiro deveria agradecer ao Thiago Neves”, sinto vergonha de ter me formado em jornalismo. Jamais seria irresponsável em dizer que o jogador está envolvido em qualquer crime contra o Cruzeiro. Mesmo com a imoralidade da renovação de seu contrato sob a gestão Wagner Nonato Pires Machado de Sá, não existe nada contra sua conduta e de seu empresário como cidadãos (até que investigações mostrem o contrário). Mas querer dar-lhe um protagonismo maior do que um clube gigante é de uma imbecilidade avassaladora.

Ter opiniões rasas é típico de jornalista que não apura. O que o Cruzeiro, o verdadeiro jornalismo investigativo ou a torcida deveriam fazer é montar um painel com o nome de todos os jogadores e seus respectivos empresários/agentes/atravessadores e, à medida que as investigações caminharem para a divulgação das provas, tornar público, de um lado, os possíveis criminosos, e de outro, os que realmente são dignos de agradecimento. Por enquanto, o que temos a dizer ao Thiago Neves é “vai ser feliz bem longe da gente, enquanto tentamos reconstruir o que você ajudou a destruir. Passar bem”.