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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

Jogai por nós, jogadores, porque é a partida da vida do Galo e da Massa

O confronto com o Flamengo vale bem mais que os três pontos, significa a revanche do tanto que foi roubado do Atlético


30/10/2021 04:00 - atualizado 30/10/2021 07:53

Para o torcedor atleticano, triunfar na partida contra o rubro-negro no Maracanã é mais do que ponto de honra
Para o torcedor atleticano, triunfar na partida contra o rubro-negro no Maracanã é mais do que ponto de honra (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press - 9/10/21)
Venho por meio desta dizer a vocês que este é o jogo das nossas vidas. Tivemos e teremos muitos outros,  entre derrotas sinistras e vitórias para lavar a alma e deixá-la pendurada no varal  enquanto curamos as nossas ressacas. Este, no entanto, é o jogo de uma vida inteira. Jogai por nós, pelo amor de Deus.

Como diz o outro, “não é só futebol”. Agora, porém, é diferente: não se trata, absolutamente, de futebol. O Atlético foi roubado pelo Flamengo em duas oportunidades. Isso definiu radicalmente o futuro de ambos os clubes e de seus torcedores – sobretudo, deixou em nós, atleticanos, uma ferida que nunca fecha. Um sentimento incontornável de que o mundo é injusto, o dinheiro pode tudo, os homens não prestam, e Deus não existe.

Sou parte de uma geração de crianças cujos destinos de dois campeonatos – o Brasileiro de 80 e a Libertadores de 81 – reservaram pra gente esse tapa na cara. Tínhamos o melhor time da nossa história e um dos melhores do mundo, tanto que a base da famosa seleção de 82. Merecíamos tudo, não ganhamos nada. É um trauma continuado: crescemos sob essa sombra, vendo triunfar o nosso algoz e naturalizar-se a antidesportividade criminosa como choro de perdedor.

“Quarenta anos depois, vai falar de José de Assis Aragão?”, perguntou Júnior, o lateral do Flamengo, no SporTV. Sempre que ouço um flamenguista tratar desse tema, me ocorre o conceito do “lugar de fala”. Quem é o Júnior? Eu sou a criança de 10 anos roubada em sua inocência, vilipendiada em sua crença na justiça dos adultos, no jogo jogado, nas regras, na honestidade das pessoas. O Júnior é o ladrão.

A psicologia diz que não é importante o que fizeram com você, mas o que você fez com o que fizeram com você. O atleticano fez da injustiça (e de seus tantos azares) seu combustível mais potente. Um povo injustiçado, eis a revanche das coisas, é um povo invencível. O povo atleticano enverga mas não quebra, cai e levanta, é o palestino do futebol, o negro em nosso quilombo.

O galo, marido da galinha, é único bicho do mundo que luta até morrer, não para nunca, não afina – por isso se popularizaram (e ainda bem que se proibiu) as cruéis brigas de galo. Nenhuma outra mascote tem nome mais adequado, e talvez seja esse o motivo pelo qual o Brasil fez do Galo um sinônimo de Atlético, diferente de Urubu, Peixe, Coelho, Raposa. O galo é a luta. Nós somos a luta.

Hoje, quando pisarem no gramado do Maracanã, duas batalhas estarão postas: o título do Brasileiro e a revanche do Flamengo. 50 anos de um, 40 de outro – uma vida. Vocês, jogadores, nem eram nascidos, não têm nada com isso – senão a chance de cobrar a fatura e devolver a paz a 8 milhões de pessoas que tanto sofreram e tanto lutaram, fazendo do amor sua arma mais poderosa. Creiam, não é pouca coisa.

Quando arrancar com a bola, Hulk, lembre de Reinaldo, que, mesmo com o músculo distendido, fez o gol que calou o Maracanã. Se fizer o seu, erga o punho cerrado, porque você também será o Rei. Assim como Alonso será Luisinho, Jair será Cerezo, e Keno, o Éder. Jogai por nós e por eles. Jogai pelos mortos que um dia sonharam ouvir de novo a voz de Vilibaldo Alves na final de 71: “Quareeeeenta e cinco minutos, as lágrimas escorrem em minha face, o Atlético é o campeão do Brasil!”. Que pena que não puderam esperar por vocês. Jogai por eles, amém.

Por fim, se vier o título impossível, chamem Reinaldo, Éder, Luisinho e Cerezo para erguerem a taça. Se não for permitido, que se inscreva essa turma no campeonato. Seria uma linda reparação histórica. A criança que habita em mim e em tantos atleticanos agradeceríamos pelo resto dos tempos.

Sem mais, obrigado por tudo e sorte pra nóis!

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