Jornal Estado de Minas

DA ARQUIBANCADA

Tive pena do rival celeste, mas já passou. Kkk. Aqui é Galo!

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Antes de tratar do que interessa, peço licença para divagar a respeito da foto que por ora se encontra à minha frente, na tela do celular. À direita está o técnico Vanderlei Luxemburgo, possivelmente a explanar sobre o “poxeto”. Ao seu lado há um homem cabisbaixo, o peso do mundo sobre os ombros: “oh céus, oh vida, oh azar”. A mesa, escondida sob o que deve ser uma bandeira, parece aguentar-se sobre cavaletes improvisados.


Talvez seja a prancha sobre a qual Jair Bolsonaro concedeu sua primeira entrevista como presidente, sinal do flagelo que nos esperava. Talvez seja um madeirite sobre os supostos cavaletes, não se sabe. À guisa de pano de mesa, a bandeira azul desce até o chão, desproporcional, toda amarrotada, sobrando de um lado como se posta ali por quem jamais arrumou uma cama. Nem o técnico da NET é recebido num quadro de tamanha esculhambação. Deu pena, mas já passou. Hahahaha.

Sobre a mesa, onde comumente se veem aqueles displays eletrônicos com o nome do patrocinador, botaram a própria camisa do Cruzeiro, no estilo Fábio, de costas. Assim, o nome da mercearia podia ficar em evidência – não tivessem deixado o logo na quina da prancha, de modo a impedir sua visualização. Em primeiro plano, alguém filma esse verdadeiro crepúsculo: um celular fixado ao tripé com fita crepe! Hahahaha. Que cena! Não é possível que não haja um infiltrado nosso nessa bagaça.

Daí, vem o Luxa (não me aguento, perdão, daqui a pouco vamos ao que interessa), aparentemente vestido com um modelo XXL da camisa com a qual foi presenteado (aí, tá certo, ele se acha maior do que é): “O campeonato tá pra nóix”. Ah, cuma? O professor explica: “Não tem nenhum time que tá fora da zona de rebaixamento, nenhum time ganhou o campeonato e nenhum time que tá ali já fugiu do rebaixamento”. Çei.


Há poucos dias, uma outra foto me chamou igualmente a atenção, mas por sua beleza plástica. Tratava-se de uma panorâmica daquele grupo de humoristas que transmitem jogos do Cruzeiro (não tenho certeza se são humoristas). Era a Guernica, de Picasso, só que azul: todo mundo derrotado, aquele desalento, aquele desespero. No canto esquerdo havia um sujeito másculo com a cabeça entre as mãos e os bíceps. Poderia ser o Exterminador do Futuro – se o presente não tivesse acabado com ele, e o futuro… bem, este aparentemente já não precisa de ninguém para exterminá-lo.

Enquanto essas cenas se passavam, vamos ao que importa, o Atlético tirava o Boca da Libertadores, emendava uma sequência de (até aqui) oito vitórias no Brasileirão, e classificava-se para as quartas de final da Copa do Brasil. Isso me leva a crer numa ação orquestrada, pelo homem lá em cima, para acabar com o cruzeirense. Como atleticano, sou obcecado pelo tema do merecimento. Há muitos cruzeirenses vitimados pelo ocaso do Cruzeiro, e me solidarizo com eles, eu juro. Mas que merecem, merecem.

Ao cobrar as duplicatas pelos anos todos de arrogância, vaidade e fake news do tímido povo, o sósia de Karl Marx obriga o cruzeirense a ver um Galo como nunca existiu: aquele que ganha até sem merecer, que faz um e não leva nenhum, no melhor estilo Carille. Claro que o Galo, de Cuca, não é só isso, como era o Corinthians do dito cujo, um retranqueiro danado. Mas se tivéssemos tido um quinhão disso aí em nossa história, Ave, Maria!, estaríamos hoje na Champions League. No mínimo!

É por isso que ando convicto de que essa Libertadores está guardada pra nós: tirar o Boca, eliminar o River, passar pelo Palmeiras e ganhar o título em cima do Flamengo, vingando 81 e vencendo aquele que será, naturalmente, o time do cruzeirense quando, enfim, se fizer noite o terrível crepúsculo (bem antes disso, talvez). É por aí o roteiro do homem lá em cima, disposto, ao que parece, a fazer o raio cair duas, três, quatro vezes no Barro Preto, tá enfezado Ele.

Na verdade, eu já tô achando que a vingança será maligna, com requintes de crueldade (bem a cara de Deus quando entra numa), e nesse caso virão também o Brasileiro e a Copa do Brasil, quiçá o Mundial, o BBB e A Fazenda. Claro, concomitantemente ao descenso do outro à Série C. Eu fico com pena, mas, enquanto escrevo isso, ela já passou. Hahahaha.